Por
ser sábado, comprei o semanário Expresso, que é o único periódico
que consulto, embora não considere que este “eleito por exclusão
de partes” seja merecedor de um fé cega. Mas ao não procurar
comparação com outro, limito-me a julgar pelos meus preconceitos.
Iniciei
com uma leitura seletiva, como habitualmente faço, a alguns artigos
e colunas que figuram na revista que acompanha o referido semanário.
Por tratar de uma personagem marcante da história recente li, sem
ser na tal diagonal, o artigo que anunciava notícias sensacionais,
bombásticas, que certamente poderiam melhorar a visão que o cidadão
comum tinha sobre o periodo em que Salazar esteve de baixa após a
famosa queda da cadeira. Não encontrei nada de novo neste texto,
mesmo contando com as opiniões “isentas” do famoso politólogo
Jaime Nogueira Pinto.
Apesar
de não ter acrescentado nada de importante ao acervo que tenho em
mente, tanto sobre a figura do ditador como do meio social que o
rodeava, surgiu-me um julgamento, parcial, concreto, sobre uma das
ordens severas que Salazar dava para os encarregados de censurar o
que se editava e publicava. Diz-se, e encontrei repetidamente MEDITAÇÕES – Cuidar dos reflexos esta
afirmação, que o Presidente do Conselho ordenava que não se
referissem nos jornais notícias de suicidios. Não por uma questão
de respeito para aqueles que decidiam deixar de viver mas,
especialmente porque sabia que esta, e outras notícias de índole
social, podiam conduzir a que outros cidadãos decidissem seguir o
exemplo. O mimetismo sempre existiu e existirá.
Os
opositores, como era de prever, opinavam que esta normativa era mais
uma das pressões inaceitáveis que, abusivamente, condicionava a
livre expressão que deveria ser respeitada, em vez de ser alvo de
repressão.
Saltando
para actualidade e dentro da liberdade de expressão e comunicação
que, teóricamente, nos é dada actualmente nos países ditos
democráticos, nada me impede de ajuizar que o que acontece entre os
jóvens estudantes, nomeadamente nos EUA em que a situação alcançou
níveis de catástrofe social, com a frequência com que um dos
alunos, munido de armas de repetição, ataca indiscriminadamente os
seus colegas de escola, causando mortes e feridos sem justificação.
O reflexo mais imediato centra-se a culpabilizar o sistema vigente,
que permite e até incita a que os cidadãos adquiram e possam
utilizar armas de fogo, como defesa pessoal ou, sem poder evitar,
também para agressão mortífera.
Ligando
o nosso passado à actualidade nada me impede de pensar que esta
situação, como também a dos ataques terroristas, é incitada,
mesmo que alegando não ser este o propósito, ao noticiar este
género de sucessos com excessivo detalhe, com morbidez
desnecessária, e com isso provocar outros insensatos, mal
doutrinados pela noção de ser pertinente a agressividade, que lhe
garante o ser respeitado e considerado “super”.
O
ter uma arma de fogo, ou mais do que uma, com capacidade letal,
possibilita que o aluado possa vingarse de imaginadas -ou mesmo
reais mas de um nível pouco importante- ofensas. Quando este
jóvem, obcecado, tem a possibilidade de utilizar armas que estão,
em muitas ocasiões, na sua casa e de que até receberam instruções
de uso, já está practicamente orientado para ser autor de um
massacre.
Tenho
a noção de que, pelo menos neste caso, Salazar tinha razão. E que
as liberdades, quando consentidas indiscriminadamente, são
potencialmente um perigo social, com uma magnitude não desprezível.
E
termino com uma referência curiosa, de algo corrente na fase ainda
rígida de ditadura. Existia uma emissora, de raio de penetração
reduzida à area da cidade de Lisboa, onde era consentido um programa
irreverente, que hoje nos pode parecer impossível poder ser enviado
para as ondas radiofónicas. Neste programa surgiam anúncios
comerciais inusitados, mas patrocinados por casas comerciais idóneas
e identificadas. Um deles dizia assim: A Agência Barata (uma
das mais importante funerárias de então) enterra o que
morre e o que se mata! Ding-Dong!
Um
atrevimento, consentido, que infringia o silêncio sobre suicídios !
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