A MACHADADA MORTAL
Apesar de que a invasão,
anormal, do turismo já tinha provocado notórias alterações na
estrutura e diversidade do comercio tradicional, não só nos centros
das cidades e vilas mas até em vilas pequenas, se bem que nestes
casos o factor que mais deve ter contribuído à quebra dos pequenos
negócios foi a implantação e cativação dos clientes que
aconteceu com os Centros Comerciais. Desapareceram, quase que
totalmente, muitas lojas que serviram os cidadãos com bom surtido de
artigos, em geral dentro de uma gama própria do seu ramo, e foram
sendo substituídos por apelativos locais de alimentação e bebidas.
A Lisboa pombalina é o
exemplo mais evidente de como a modernidade, tão gira e apelativa,
conseguiu eliminar a tradição gremial que se tinha mantido desde a
idade média. Curiosamente muitas artérias mantiveram os nomes das
profissões e comércios que ali estavam reunidos, como são
correeiros, sapateiros, bacalhoeiros, douradores, fanqueiros e
outros, mas os profissionais e comerciantes destes ramos … nem
vê-los.
Podemos aceitar esta
“evolução irresistível do mercado” com tristeza e até
desorientação, pois deixamos de poder contar com uma quase garantia
de poder resolver um problema, uma falta de peças ou reparações.
Desapareceram, mas os problemas que sub-sanavam não desapareceram.
Estamos estagnados no esquema de avariado<' Deitar fora! E comprar
outro! uma carência específica.
Mas a machadada final
chegou agora. A que faltava para liquidar totalmente aqueles pequenos
comércios que iam resistindo, com muita dificuldade mas confiando
com a fidelidade de um lote de clientes veteranos: a ordem de
encerramento “provisional” que se emitiu por razões de prevenção
em evitar contágio, e sem que não se possa avançar uma data certa
para a autorização de reabertura, conduziu, como era de prever.
Muitos pequenos negócios, e não só lojas de porta aberta na rua,
não tinham base de tesouraria para aguentar as despesas fixas que
estão subjacentes, ao não poder contar com as entradas de caixa
através das vendas.
As medidas de apoio que
progressivamente são anunciadas terão, como é evidente, que
obedecer a uma série de regras e compromissos. E ao estar a máquina
produtiva e comercial quase que congelada o Estado tampouco recebe o
fluxo habitual de abastecimento monetário, não só pelo imposto de
consumo, mas por muitas outras imposições fiscais que dificilmente
serão satisfeitas com os negócios fechados.
Mesmo que chegue um dia
em que se possa comunicar que o pior dos perigos de contagio passou à
história, e sem esquecer que nem todas as linhas de produção podem
arrancar em pleno com um simples ligar o interruptor, podemos
apostar, sem intuito de ganhar, que serão muitos os encerramentos
definitivos.
E se o turismo de massas
não regressar, coisa muito provável, pelo menos naquela dimensão
dos últimos 12/16 meses, os problemas sociais e económicos serão
de grande vulto.
Um dos sectores que não
nos atrevemos a predizer sobre qual será o seu futuro é o da
aviação comercial, especialmente a de viagens de turismo.
Hoje os aviões parados já tem dificuldade em encontrar um aeroporto
com vagas do parque. É muito provável que muitos destes aparelhos
retomarão o serviço activo. Mas haverá passageiros para eles de
imediato? Ou teremos aviões parados por períodos indefinidos? Se as
companhias podem entrar em risco de falência, e se virem obrigados a
reduzir as frotas, colocando parte ou a totalidade, dos seus
aparelhos, incluindo os que estavam sob regime de leasing, à
venda, a preços de saldo, quem os comprará? Só se forem os países
que absorveram a produção com custos inferiores dos que seriam
possíveis no ocidente. Com a China à cabeça. E se houver licitação
será com preço e com as condições que ela, como comprador,
decidirá.
Fazer de futurólogo,
orientado para o pior cenário, não é agradável. Mas estamos
metidos num lamaçal que é pior do que uma guerra militar, e nos
capítulos que descrevi o que se pode prever é que está a chover
sobre terreno já enlameado. E o sol ainda demora! Falta ver que
cartas tem na mão o governo dos EUA, e se eles conseguirão aguentar
a maré desgastante que está-se aproximando. A Europa está rodeada,
cercada, de inimigos, aos que se juntam as levas de migrantes
oriundos do terceiro mundo, para quem alguns países da Europa, que
não todos, são a sua esperança de melhor vida.
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