terça-feira, 31 de março de 2020

MEDITAÇÕES – Tristezas não pagam dívidas



A MACHADADA MORTAL

Apesar de que a invasão, anormal, do turismo já tinha provocado notórias alterações na estrutura e diversidade do comercio tradicional, não só nos centros das cidades e vilas mas até em vilas pequenas, se bem que nestes casos o factor que mais deve ter contribuído à quebra dos pequenos negócios foi a implantação e cativação dos clientes que aconteceu com os Centros Comerciais. Desapareceram, quase que totalmente, muitas lojas que serviram os cidadãos com bom surtido de artigos, em geral dentro de uma gama própria do seu ramo, e foram sendo substituídos por apelativos locais de alimentação e bebidas.

A Lisboa pombalina é o exemplo mais evidente de como a modernidade, tão gira e apelativa, conseguiu eliminar a tradição gremial que se tinha mantido desde a idade média. Curiosamente muitas artérias mantiveram os nomes das profissões e comércios que ali estavam reunidos, como são correeiros, sapateiros, bacalhoeiros, douradores, fanqueiros e outros, mas os profissionais e comerciantes destes ramos … nem vê-los.

Podemos aceitar esta “evolução irresistível do mercado” com tristeza e até desorientação, pois deixamos de poder contar com uma quase garantia de poder resolver um problema, uma falta de peças ou reparações. Desapareceram, mas os problemas que sub-sanavam não desapareceram. Estamos estagnados no esquema de avariado<' Deitar fora! E comprar outro! uma carência específica.

Mas a machadada final chegou agora. A que faltava para liquidar totalmente aqueles pequenos comércios que iam resistindo, com muita dificuldade mas confiando com a fidelidade de um lote de clientes veteranos: a ordem de encerramento “provisional” que se emitiu por razões de prevenção em evitar contágio, e sem que não se possa avançar uma data certa para a autorização de reabertura, conduziu, como era de prever. Muitos pequenos negócios, e não só lojas de porta aberta na rua, não tinham base de tesouraria para aguentar as despesas fixas que estão subjacentes, ao não poder contar com as entradas de caixa através das vendas.

As medidas de apoio que progressivamente são anunciadas terão, como é evidente, que obedecer a uma série de regras e compromissos. E ao estar a máquina produtiva e comercial quase que congelada o Estado tampouco recebe o fluxo habitual de abastecimento monetário, não só pelo imposto de consumo, mas por muitas outras imposições fiscais que dificilmente serão satisfeitas com os negócios fechados.

Mesmo que chegue um dia em que se possa comunicar que o pior dos perigos de contagio passou à história, e sem esquecer que nem todas as linhas de produção podem arrancar em pleno com um simples ligar o interruptor, podemos apostar, sem intuito de ganhar, que serão muitos os encerramentos definitivos.

E se o turismo de massas não regressar, coisa muito provável, pelo menos naquela dimensão dos últimos 12/16 meses, os problemas sociais e económicos serão de grande vulto.

Um dos sectores que não nos atrevemos a predizer sobre qual será o seu futuro é o da aviação comercial, especialmente a de viagens de turismo. Hoje os aviões parados já tem dificuldade em encontrar um aeroporto com vagas do parque. É muito provável que muitos destes aparelhos retomarão o serviço activo. Mas haverá passageiros para eles de imediato? Ou teremos aviões parados por períodos indefinidos? Se as companhias podem entrar em risco de falência, e se virem obrigados a reduzir as frotas, colocando parte ou a totalidade, dos seus aparelhos, incluindo os que estavam sob regime de leasing, à venda, a preços de saldo, quem os comprará? Só se forem os países que absorveram a produção com custos inferiores dos que seriam possíveis no ocidente. Com a China à cabeça. E se houver licitação será com preço e com as condições que ela, como comprador, decidirá.

Fazer de futurólogo, orientado para o pior cenário, não é agradável. Mas estamos metidos num lamaçal que é pior do que uma guerra militar, e nos capítulos que descrevi o que se pode prever é que está a chover sobre terreno já enlameado. E o sol ainda demora! Falta ver que cartas tem na mão o governo dos EUA, e se eles conseguirão aguentar a maré desgastante que está-se aproximando. A Europa está rodeada, cercada, de inimigos, aos que se juntam as levas de migrantes oriundos do terceiro mundo, para quem alguns países da Europa, que não todos, são a sua esperança de melhor vida.

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