terça-feira, 17 de março de 2020

MEDITAÇÕES – Incongruências II



O PECADO ORIGINAL

Na publicação imediatamente anterior, deixei no fim da escrita o aviso de que hoje ia meter-me no campo das fantasias. Concretamente sexuais e eróticas.

Naquele espécie de prólogo referi as lições de catequese que me foram dadas ao longo da primária; deixei constância (que, como devem saber, fica à beira do Tejo) de que não prestava a atenção devida, aquela série, tão interessante, de relatos “históricos e formativos”. Mas muita coisa ficou bem gravada nesta mioleira desgastada. E entre estas noções bíblicas, logo após à informação, inquestionável, de tudo ter sido feito em sete dias (ou em três tempos, que vai dar ao mesmo), o capítulo que mais de impressionou, e certamente também aos outros infantes e infantas, foi a da modelação, com barro, de Adão, o primeiríssimo ser humano e como foi deixado à solta, em pelota, no Éden.

Deus, ou certamente que Jeová naquele então, já estava habituado a espreitar por aquele triângulo (precursor das fechaduras com buraco) viu que a sua obra prima, mesmo que de barro cru, (pois que ainda não existia a cerâmica) depois de correr e saltar, descobrir o transporte aéreo à Tarzan, e dormir enrolado como um macaco seu primo, tinha fases em que o seu canudo de descarga das urinas aumentava de tamanho, tanto em longitude como na grossura, e até se erguia como um mastro -sem saber que não se tinham inventado as bandeiras nem as velas para barcos. Tornava-se, inexplicavelmente, incómodo.

Adão ficava admirado com esta metamorfose corporal, e a atribuiu ao facto de ter comido alguma fruta de sabor muito picante. Mas não tardou em reparar que ao ver como os bodes se satisfaziam com as cabras e os macacos com as macacas, pensou, na sua ignorância congénita, que devia tentar fazer as mesmas artes com as fêmeas dos mamíferos, com tamanho similar ao seu.

Dito e feito. Foi o ver se te avias. Não houve cabra nem ovelha que, estando a mão de semear, escapasse de que Adão lhes desse umas massagens, por vezes violentas, com aquele instrumento que, pelo menos naqueles momentos, entrava em funções muito mais agradáveis do que o mijar.

Jeová, sempre espreitando desde as nuvens celestes pelo triângulo ocular, pensou, pensou, pensou, e batendo com a mão esquerda na sua testa (a direita estava atarefada...) exclamou: Mas fui um grande burro! Se para todos os bichos modelei macho e fêmea como coloquei Adão sozinho no Éden, sem companheira! Tenho que remediar isso. Fez uns passes de magia e Adão adormeceu como uma pedra. Vai Jeová e, sem anestesia nem desinfecção, à mão nua, arrancou-lhe uma costela, e a partir desta peça modelou uma capitosa fêmea (por sinal cabeluda, com dentes salientes e pouco mais grácil do que uma chimpanzé. Mas tinha tetas e vagina) para que Adão pudesse brincar, tal como via que faziam os cães, lobos, ovelhas, e até baleias.

E Jeová comprovou que Adão gostou tanto do truca-truca que não queria outra coisa, era comer, trucar, uma soneca, trucar e repenicar, e assim de dia e de noite. Nem havia cigarros! Adão e Eva seguiram, à letra, as indicações do Patrão no sentido de crescei e multiplicar-vos (isso no idioma de grunhidos que era o que vigorava na humanidade na altura. Ou seja entre Adão e Eva, e finito!. Jeová quando não queria usar o vozeirão de trovão, comunicava por mensagens mentais)

Jeová, que entre outras características, sempre positivas (pois era o Patrão), era um tudo-nada, ou um pouco, digamos mesmo muito, muitíssimo prepotente, e como não tinha parceira com a qual pudesse descarregar as suas frustrações, nem o sémen, quis travar aquela fornicação desmedida. Pura inveja! Mas não soube como, pois teria que contrariar as suas ordens, imperiosas, anteriores. E inclusive mais tarde esqueceu-se de dar uma ordem bem clara neste sentido quando chamou Moisés para lhe dar as tábuas das leis.

Foi preciso passarem uns séculos até que Santo Agostinho (que não me atrevo a imaginar que fosse eunuco, embora tivesse ideias de tal...) nos oferecesse uma série de regras e preceitos para restringir a fúria copulatória, tanto emissora como receptora. Deste Santo homem derivou o controle exaustivo que durante séculos os sacerdotes fizeram tanto aos solteiros(as) como aos casais, com a técnica da confissão e das penas e avisos de castigos post-morte para os que abusassem do líbido. Ou seja, do truca-truca e seus derivados.

Há ou não uma grave incongruência nesta história?


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