sábado, 26 de janeiro de 2019

NÃO SE CONSEGUE FACILMENTE




Pensar que seja pelo esforço, pelo saber, pela sorte ou outra força qualquer, podemos conseguir dar a volta TOTAL à nossa vida, à forma como vemos, sentimos e analizarmos o que nos rodeia, é uma ideia com poucas probabilidades de êxito. Mesmo quando tudo pode parecer que estamos “no bom caminho” e que se saiu do poço (em sentido figurado, entenda-se) e nos encontramos num novo paradigma, como se já tivéssemos deixado para trás as origens e chegássemos a umas páginas impolutas, prontas a serem escritas como desejarmos.

Este preâmbulo, mais confuso do que explícito, pretende abrir caminho para a noção de que, para muitos ou poucos cidadãos, a influência do passado é quase inexistente. Nem sequer é merecedora de um pensamento, já não digo quantitativo mas, pelo menos, qualitativo. Resumindo, aquilo que somos hoje implica, ou não, a herança do que viveram as duas gerações imediatamente anteriores?.

Pensar que as nossas liberdades e capacidades nos permitem manter no quarto dos dejectos -da tralha abandonada e considerada como imprestável- tudo aquilo que, gostemos ou não, nos foi transferido é um sonho, uma fantasia. Queiramos ou não o passado familiar pesa como uma âncora atada à cintura.

Atendendo a que a permanência de cada geração neste mundo, mesmo que se reconheça a existência de uma fase de sobreposição com a anterior e a seguinte, é um facto inegável que existe um afastamento físico progressivo, e mais geral do que em épocas anteriores, entre as gerações sucessivas. Admito que as transferências de vivências, pesares e alegrias -sempre mais recordados primeiros do que os segundos- cada vez é mais reduzida. As esporádicas reuniões familiares são, em geral, mantidas em ambiente festivo, mas as penas sempre acabam por vir à tona.

Mesmo assim penso que Para conseguir uma mudança drástica, notável, vivida, sentida pelos próprios e também (desejável) por aqueles que observam de fora, tem que passar três gerações, ou mais.

Para a geração intermédia, aquela que gostaria de ver anulada a fase que a antecedeu, é muito difícil, mesmo traumático, tentar apagar tudo aquilo que viveu e ouviu na fase de criança e adolescência. Isto se aplica para os que, por um factor ou outro, foram transferidos para um meio “mais evoluído” do que aquele onde nasceram. Para os descendentes destes, se as condições conseguidas pela nova família se mantiverem ou até melhorarem -sempre valorizando a posição relativa na escala social- já será mais fácil esquecer aquilo que mal assimilaram, e até podem chegar ao ponto de negar e repudiar o passado que não aceitam como sendo seu.

É uma conclusão referida insistentemente que a memória das pessoas é curta, e podemos acrescentar que sem esforço os que nos seguem praticam uma lavagem mental que sentem lhes é favorável.

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