sábado, 2 de fevereiro de 2019

POLÉMICA BIZANTINA


Se entendermos como tal a aceitação mais corrente que se dá a todas as discussões que, por mais voltas que lhe derem, é difícil que conduzam a uma conclusão importante, pois que se baseiam num “dizes tu-digo eu”. A história que se admite ter acontecido em Bizancio e deu azo a esta desqualificação das polémicas sem futuro, estava centrada em decidir, entre sábios reputados, se Adão tinha ou não umbigo. Ou seja uma discussão totalmente inútil e descabida.

Acontece que encontrei referência de que, nestes dias, existe um “litígio contencioso” entre os patriotas espanhóis e os lusitanos acerca de quem deve receber os loiros, a título perpétuo, de ser quem deu a primeira volta ao mundo: Se foi o português Fernando Magalhães ou o vasco-espanhol Juan Sebastian “el Cano” (possivelmente uma alcunha por ter o cabelo todo branco desde novo).
Querem coisa mais bizantina do que esta?

É que ninguém pode por em causa alguns factos importantes. Na época das viagens com destinos incertos, ou conhecidos mas só por um número de pessoas restrito, e dada a escassez de tripulantes com aval de qualidade, era habitual que quando se recrutavam tripulações para uma expedição a selecção se fizesse a partir dos profissionais existentes no mercado naquela ocasião (tal como se faz actualmente) Por isso é reconhecido que entre os tripulantes de responsabilidade era usual encontrar referência de naturais da Italia, nomeadamente de Veneza ou Génova, geógrafos e cartógrafos de génese mediterrânea. Etc.

Quem se admite que teve a iniciativa de fazer uma viagem de circumnavegação do globo terrestre, partindo e regressando a um porto do Reino de Castela, foi Fernando Magalhães. E foi o rei Carlos V que lhe deu a autorização e financiou a viagem. SENDO ASSIM, A PRIMEIRA VIAGEM À VOLTA DO MUNDO ERA, EM PRINCÍPIO, SUA.

A infelicidade de F.M. Foi que ao chegarem ao arquipélago das Molucas, uns indígenas agressivos os enfrentassem, matassem o capitão F.M., e, segundo rezam as crónicas, sendo eles, os naturais da ilha, adeptos ao canibalismo, irrespetuosamente o assaram e se banquetearam com os seus restos mortais.

Todavia, nos é relatado, que o mesmo Fernando Magalhães, anos antes e sob a bandeira de Portugal, já tinha navegado pela rota do Cabo até às ilhas que passaram a ser chamadas de Filipinas. Muito perto das Molucas. Ou seja, que entre o que já tinha percorrido anteriormente e o ponto em que foi morto, practicamente completara a circumnavegação.

Mas tal como se diz: A rei morto, rei posto, era imperativo nomear um novo comandante para orientar aquela frota, ou o que dela restava. O oficial de maior graduação e experiência de mar, era o Juan Sebastião “el cano”. E foi ele que comandou a parte do percurso que faltava, até se encontrar com as naus de Portugal que já percorriam as costas do sudeste asiático.

Foi Juan Sebastian Elcano que deu a boa nova na corte espanhola, mais a triste notícia de que o “patrão” da expedição não estava mais presente.

Quanto a mim este assunto é tão simples de entender que não se pode justificar um falso litígio de paternidade. Os profissionais do saber caem, em muitas ocasiões, na tentação de guerrear em temas de "lana caprina".

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