segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

OS MELHORES ANOS



Décadas atrás, muitas, por casa dos meus pais circulavam exemplares das Selecções, uma publicação mais ou menos anódina mas que é muito possível tivesse por trás interesses políticos de algum departamento satélite do governo americano. Desconfianças de quem nasceu desconfiado. Piores coisas se foram sabendo ao longo do tempo. Recordo que o meu avô dizia, referindo-se aos que governavam, muito ou pouco, que não se podia encontrar um palmo limpo.

Mas retomando o fio da meada, comecei citando as Selecções do Reader Digest porque nelas encontrava algumas anedotas "angelicais", pequenos relatos, certamente inventados, onde se referiam "personagens inesquecíveis",  muitos assuntos inócuos e depois um resumo de uma obra literária escolhida pela redacção.

Além de alguns jornais, chegavam revistas pelo correio, entre elas a mensal americana LIFE, pela qual soubemos, atempadamente, de como os EUA financiaram e apoiaram Fidel Castro para que derrubasse o  ditador Baptista, que era amigo da máfia de Miami e, de uma forma indirecta, apoiada pela CIA. Depois todos os veteranos, que estávamos vivos nos anos 40 e seguintes, sabemos como as coisas se desencaminharam. Contrariar os poderosos, que sempre se apoiam entre si, é muito perigoso. Neste caso particular, ao tentar domesticar os barbudos de Cuba, a pedido dos gansters, financiadores exigentes, empurraram os revolucionários cubanos, inicialmente uns senhoritos de boas famílias, certamente que insatisfeitas por alguns abusos cometidos pelos magnatas do jogo e prostituição, para os braços da União Soviética. Voltas que o mundo dá.

Pois nas ditas Selecções além das citadas personagens inesquecíveis, constava outra rubrica que uma trazia relatos dos "melhores anos da minha vida"., ou coisa equivalente.Hoje senti-me vocacionado a procurar recordar os melhores anos da minha vida, os mais felizes. 

Depois de fazer um breve balanço da minha já longa existência, surgiram várias ocasiões que deveriam ficar destacadas. Entre elas ficaria bem que referisse o tempo de namoro com a que veio a ser, e assim continua sendo, a minha mulher. Importantes foram os tempos em que iniciamos a vida de casal, aquilo que se denomina lua de mel.Também tem um lugar destacado os nascimentos dos três filhos. Recuando um pouco, destacaria o terminar a fase de formação académica e entrar na vida profissional. O ver como os filhos cresciam e seguiam os seus percursos de vida,,cada um já independente da casa paterna, mas com laços bem firmes,num grupo disperso mas coeso nos seus princípios. Outras fases da vida deveria destacar, mas nenhuma delas se compara com a que, sentimentalmente, sempre sinto como presente:

Os melhores anos da minha vida foram, sem dúvida, aqueles em que eu ão tinha outra responsabilidade de que dar atenção na escola e obedecer pais e outros familiares que completavam a tutoria do infante.  Os anos da infância, até começar a fase seguinte à escola primária. Tudo aquilo que, posteriormente, foi completando o panorama da situação em que se viveu naquela guerra e sua fase de represálias, só mais tarde é que entrou no arquivo de memórias,por via indirecta. Mas o que de facto ficou como vivenciais pessoais é de uma banalidade habitual nas crianças: os amigos de escola; os amigos das casas da vizinhança; os jogos de então,que em nada se assemelhavam ao que hoje está à disposição das crianças

Destacarei, por mérito e justeza, a companhia que o meu avô materno me deu nesta fase da iniciação para a vida. Muito me ensinou sem tomar numa atitude didáctica. Aprendi, e esqueci, muitas coisas: fazer papagaios de papel e canas, comprar cordel adequado, preparar cola de farinha, e conseguir que o papagaio se erguesse no céu. Ensinou-me os jogos de mesa, cartas, dominó, glória e outros aptos para crianças e que mais tarde pude transmitir a filhos e netas.

Suponho que, se colocarem a mão sobre o peito, não serei um exemplar único por guardar uma memória especial à fase de criança. Podia estar horas rememorando situações concretas, todas elas com um valor formativo muito especial. Sem dúvida estes foram os melhores anos da minha vida.

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