Uma obra que deve estar quase esquecida
Terminei
a leitura do libro de DuBOSE HEYWARDS, publicado pela primeira vez em
1925 e que sendo escrito por um branco sulista, de Charleston, que
era um importante porto de entrada de escravos para as plantações
de algodão e tabaco, além dos serviços domésticos. Este escritor,
pelo menos nesta obra, raramente se coloca na pele de um branco. As
personagens principais são sempre negros, desgraçados. Os únicos
brancos são autoridades. Daí e pelo seu argumento, que desce á
população negra livre mas muito paupérrima, foi considerado como
uma pedra fundamental para entender e situar a população servil dos
estados sulistas, mesmo os libertos. Não é um complemento dos
escritos de Mark Twain, pois nestes as personagens de cor não são
os principais actores.
Este
romance foi tão bem recebido pelo público que rapidamente, em
1930, sofreu uma reedição corrigida pelo autor. Em 1935 foi
adaptado para uma peça de teatro declamado e a seguir a uma peça
musical de grande êxito. também e sempre, com o nome de PORGY and
BESS. Posteriores adaptações, tanto em teatro declamado como em
musical se sucederam ao longo de anos. Uma das razões do sucesso
deste filme deve-se à brilhante estrutura e composições feitas
propositadamente, para o fundo musical em especial das canções. A
participação de GERSHWIN esteve à altura da direcção deste
filme rodado em 1959, começado com um director e terminado, após
outras mudanças, por OTTO PREMINGER. Teve um grande êxito (que eu
vi de jovem em Lisboa) com as personagens principais encarnados pelos
actores SIDNEY POITIER, DOROTHY DANDRIDGE e SAMMY DAVIS Jr.
Só
aqueles cinéfilos que procuram pérolas do passado, e gentes com
muitos anos às costas, como é o meu caso, devem ter alguma
recordação do filme, e uns poucos do livro. Um sucesso que foi a
origem dum movimento anti “segregacionista”, mas com pouco impacto
social, pelo menos dentro dos USA, naquele então. Da visão deste
filme tenho pouca memória. Só que era espectacular e tinha muitas
canções, sendo a mais famosa SUMMER TIME da qual se fizerem muitas
versões e se gravaram milhentos discos. A fama desta partitura
chegou a incomodar o seu autor Gershwing, que sendo dono dos
direitos, decidiu a retirar do mercado em 1974.
No
texto da obra literária refere-se, como era (e ainda persiste) o
costume dos negros em cantar salmos, blues e outras composições
mais ou menos espontâneas, maiormente de conteúdo religioso. As canções que aparecem no filme são
todas criadas pelo compositor já citado, mesmo que procurando que tivessem
conteúdo e toada ao estilo das cantadas pelos pretos.
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