quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

O RISCO EXISTE




Podia ficar no “A possibilidade”, e não seria tão apelativo.

O facto inquestionável é que a situação política entre as populações da Europa Central e Ocidental -além de já ter colocado o pé no duplo continente americano- é que entre a incerteza sobre o rumo da Economia mundial, onde os seus mentores, através do dinheiro, manipulam a seu bel-prazer, sente-se que nos levaram a uma senda cheia de profundos fossos, que progressivamente parecem mais difíceis de ultrapassar. Já se ultrapassou a fase em que uma trovoada local não afectava o clima de outro continente. Hoje já acreditamos na exagerada metáfora que afirma que o leve bater de asas de uma borboleta aqui pode causar um tufão no lado oposto do globo.


Quando se introduziu a dupla decisão de globalizar e deslocalizar, primeiro de forma subtil e pouco alarmante e depois com uma potência avassaladora, a população ocidental não tardou a notar que a maravilha de conseguir bens de consumo a baixo preço não era compatível, com o seu bem-estar. Não tardaram a surgir problemas de difícil resolução.

Os dois movimentos, simultâneos, nem sequer se podem considerar como novidades absolutas. A importação de matérias primas, produtos semi-elaborados e outros aptos a ser distribuídos de imediato no mercado sempre existiu, apoiado no transporte, seja por via terrestre (caravanas na rota da seda, por exemplo) ou marítima, primeiro no Mediterrâneo, que não foi por casualidade que os latinos baptizaram como mare nostrum, e posteriormente com a navegação transoceânica.

O que mudou, neste capítulo do comércio a nível mundial foi a possibilidade de movimentar quantidades ingentes de artigos, com um custo de transporte cada vez menor, quando medido por valor do transporte por tonelada ou metro cúbico. Acrescentado com que o somatório das diversas parcelas que incrementam o custo do artigo na origem até chegar ao comprador final. Não é segredo que o êxito desta mudança se baseia no retribuir mal as primeiras fases do produto e depois em repartir custos por grandes quantidades.

O reflexo social desta mudança de paradigma é duplo: por um lado se eliminaram muitos trabalhos remunerados nos países consumidores. Entre a deslocalização de empresas e a automatização, o leque de actividades remuneradas tem-se reduzido paulatinamente, e as remunerações estagnaram. Surgiu um ambiente de desemprego para não especialistas, e mesmo em tarefas antes de nível de remuneração interessante encontraram-se, sem aviso prévio, no patamar das especialidades consideradas obsoletas ou incorporadas na automatização.

Esta mudança, generalizada em quase todos os sectores, colocou em inactivos muitos cidadãos, com os problemas que se reconhecem quando as pessoas deixam de se sentir úteis e imprescindíveis. Daí um problema duplo: social e psicológico, que não se neutraliza com o recurso a subsídios e acções de apoio social. O estar inactivo e sem vislumbrar, no horizonte restrito de cada indivíduo, uma alternativa satisfactória, não se pode neutralizar, eternamente, através de entregar uma quantia de dinheiro sem retorno, só tentando com isso conseguir uma paz social.

Paralelamente a acelerada evolução das comunicações, quase que em tempo real para todo o globo, as incitações a consumo de bens que nem sequer se conheciam, levou a que muitos habitantes dos chamados segundo e terceiro mundo ansiassem, e se decidissem, a tentar a sua deslocação, individual ou familiar, em sentido de entrar no sonhado primeiro mundo, sem ponderar a real situação de muitos sectores das suas populações. Que, mesmo assim, eram muito melhores das que eles tiveram durante gerações no seu lugar de origem.

Aceitando a possibilidade de incluir o principio de que A CADA ACÇÃO SE LHE OPÕE UMA REACÇÃO EM SENTIDO OPOSTO E IGUAL MAGNITUDE, de imediato sentimos que o mundo ocidental está, neste momento, sob uma complexidade preocupante de forças negativas, e que a resultante não está em equilíbrio.

O “nosso mundo”, ocidental, encontra-se num atoleiro, que se vai magnificando de dia para dia. Usando uma imagem popular diremos que Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. Temos que admitir que a mensagem não se pode tomar à letra -pelo menos por enquanto- pois ainda muitos temos “pão na mesa” e até capacidade para alguns extras. Mas as nuvens negras estão em progressão, e não olhamos devidamente para elas.

A intranquilidade social traduz-se, inevitavelmente, pelo avanço dos partidos nitidamente xenófobos, reaccionários. É um facto inquestionável. E a sua pujança não se pode considerar como uma reacção a diferenças de cor da pele, de costumes, de religião e outras características importantes. Por trás destes cartazes de incitação existem aqueles problemas, sociais, de fundo que tentei especificar anteriormente.

A assimilação de revêm chegados depende, quase sempre, da elasticidade do tecido social. Se nos habituamos à imagem de que no comboio, metropolitano ou outro meio de transporte, por muito cheio que estiver “sempre cabe mais um” é forçoso admitir que isso não se pode prolongar até o infinito. Que a realidade nos leva a que “rompa pelas costuras”.

A história universal nos oferece muitos exemplos de como se pode chegar a limites sociais impensáveis, mas que chegam mesmo. O mais triste é que não são fáceis nem “aceitáveis” as acções preventivas. A sociedade, sempre comandada desde cima mas influenciada pelos de baixo, prefere o “deixa andar e logo se vé”. Até que caldo entorne.


Sem vírus. www.avg.com

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