quarta-feira, 12 de junho de 2019

MEDITAÇÕES - Votar? E em qual?




De um dilema passamos a um poliema

Inventei agora mesmo um neologismo. Mas não sabia como definir, de um  modo pseudo académico, a situação bicuda que coloquei como cabeçalho.

De entrada a pretensa solução de não votar de nem sequer estar presente no “magno direito democrático”, dado que a abstenção, além de poder envergonhar os que estão nas listas -coisa difícil de conseguir com os políticos profissionais- as regras que se estipularam para ponderar os resultados só afectam os considerados votos válidos. Nem sequer os votos nulos pesam no que se vai decidir após finalizar o escrutínio. E é correcto que assim seja. (1) Quanto aos votos que se candidataram a nulos, propositadamente, mesmo que com esta atitude se queira demonstrar descontentamento, ou até pensar serem insultantes, de facto não passam de um detalhe gratuito, sem significado. E analisando com frieza são um insulto à democracia, precisamente a mesma estrutura social que lhe permite insultar anonimamente.

Admitindo de que todos os assuntos podem ser apreciados com, pelo menos, dois pontos de vista bastante diferentes e razoáveis, mas opostos,  também a questão de votar ou não votar, ou abster-se, pode justificar-se pelo facto de que, com a expansão da informação, o acumular de notícias onde os abusos de muitos indivíduos com poder, ou ligados ao poder, tem feito sobre a cidadania em geral, e portanto sobre o País, deu como reflexo a descrença e até a repulsa para participar no que entendem ser uma distribuição exclusiva de gavetas para saquear. 

As pessoas, muitas ou poucas, mas bastantes a julgar pela soma de abstenções e votos nulos, estão descrentes dos benefícios que se poderiam usufruir de uma democracia, pelo menos comparativamente com uma ditadura, não encontram outra forma de manifestar o seu desencanto, ou desagrado, do que pela abstenção. O que, em realidade, dado que estes valores não os afectam, ainda se lhes dá mais campo aberto para abusar.

Mas se do já dito chegamos à conclusão de que, para tentar que o rumo da governação se ajuste à nossa concepção de conveniente para o País, sendo nós, os cidadãos o que constituímos o Pais e não simplesmente o território, entramos directamente naquilo que pode ser um problema, pelo menos pensando nas pessoas que não estão anímica ou económicamente comprometidas com uma candidatura determinada. Estes votantes, quase certos, não “flutuantes” são os que garantem uma base de partida para os partidos já tradicionais. A deslocação do voto individual de um partido para outro, possivelmente do mesmo grupo, podemos admitir que raramente será entregue a uma formação que se encontre no extremo oposto do arco da governação.

Nos últimos anos, fruto das denuncias e críticas que os meios de comunicação social e principalmente a força de penetração da televisão, emergiram novos corpúsculos com pretensões de conseguir um número mínimo de aderentes que lhes garantisse um lugar nos boletins dos comícios seguintes. Alguns destes novos partidos, por assim os qualificar, eram, de facto, de carácter uni-pessoal, e dada a fraca penetração no computo global da cidadania, tiveram pouca importância.

Mas, de facto, abriram a porta para romper o círculo dos já instalados, e em consequência nos dar a ideia de ter uma maior diversidade de opções. O facto mais notável é que com este maior número de opções, a abstenção ainda subiu. Permaneceram os votos mais fixos de cada partido, mas a degradação do interesse pela democracia foi notória.


(1) Entre muitos escolho este: Quem não aparece, esquece

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