sexta-feira, 28 de junho de 2019

MEDITAÇÕES - Lavagem cerebral


Convencer de impossíveis não é difícil

Quando era rapaz e já seguia os noticiários e as revistas de informação o mundo “livre” estava pendente do que acontecia na Coreia, onde em teoria existia uma luta entre a população do norte desta península -que poucos anos antes esteve sob o domínio imperial do Japão- e que enquanto durou esta guerra, e ainda hoje, era uma zona satélite da China comunista e também da Rússia Soviética. Na zona a sul, ao pretender travar a expansão do comunismo, os Estados Unidos, o indiscutível paladino do “mundo livre” prontificou-se a dar uma assistência militar, practicamente a todo vapor, com forças militares e material de guerra. Mas tentando que não fosse vista a sua participação como um novo colonialismo. Para tratar de aliviar a real noção de que ali se confrontavam os EUA versus a China, mais a URSS, montou-se uma com-participação de alguns países comprometidos com os EUA e assim dar a entender, sem o conseguir totalmente, que quem apoiava o governo do Sul da Coreia era a ONU.

Esta longa introdução foi pensada para poder comentar o que a imprensa do mundo livre magnificou até o extremo de ser excessivo. O serviço de propaganda da Coreia do Norte, apresentava, em filmes, os depoimentos de militares americanos, normalmente pilotos de aviões abatidos, que de “livre vontade” declaravam o seu desgosto, ou repúdio, sobre as missões de agressão que lhes foram mandadas sobre populações civis indefesas no Norte.

Por sua vez os serviços de inteligência e contra-informação dos USA, em nome do tal mundo livre, afirmavam que aqueles testemunhos eram, nitidamente, conseguidos após serem aplicadas aos prisioneiros, técnicas sofisticadas de medo e convicção. Entre ameaças, promessas e lições de moral, ou fosse como fosse, afirmava-se que os coreanos do norte faziam intensas lavagens ao cérebro daqueles bons rapazes, americanos, que expunham a sua vida para salvação do referido mundo livre.

Pode ser que estas técnicas, já bem estruturadas. para conseguir as confissões desejadas nem sequer fossem originais. O mais provável é que fosse bem antiga, e que sempre se procurou tirar partido propagandista através dos “arrependidos” que se mudaram de bando. Sempre os houve. Para uns eram traidores e para outros uns patriotas que viram a luz da verdade. Mas para mim foi a primeira vez que a encontrei repetida vezes sem fim, e daí que entrasse no léxico de muitos que estavam na minha geração.

E, em consequência desta memória de juventude, perguntei-me sobre o que se faz (sem ser a cruel e atroz tortura física) para conseguir dar a volta ao miolo de uma pessoa e o levar não só a militar num bando que não era o seu, mas que até o faça com ardor, e se torne mais convencido do que o seu mentor, que em geral não deve acreditar muito na propaganda que transmite. Aquilo que se diz Ser mais papista que o Papa.

Cheguei à conclusão de que o medo é uma força poderosa para nos levar a comportamentos que, em estado de liberdade natural, rejeitaríamos sem excitar Mas o medo por si só não chega para conseguir uma colaboração plena. Ó processo implica oferecer, além do medo a represálias, uma recompensa difícil de conseguir fora daquela área de colaboração. E quanto mais misteriosa e indefinida for esta recompensa, que só se alcançará após uma colaboração total, mais desejada e indispensável se torna.

Neste momento quem leu e pensou -mesmo que pouco- já vislumbra por onde vão os tiros. Obviamente, todas as religiões, em todas as épocas, -pois que nascem espontâneamente na mente humana- usaram e usam a táctica do pau e a cenoura, A cenoura, para os inocentes (aqueles que mal não pensam) é, e sempre foi, algo de intangível; uma promessa para depois da morte. E como esta, seja natural ou matada, é inevitável, o prometer uma indescritível nova vida é normal que provoque no catequizado uma vontade louca, extrema, de agarrar esta possibilidade. E quanto mais penosa tiver sido a sua vida neste mundo, mais procurará cumprir as exigências que lhe forem apresentadas.


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