Convencer de impossíveis não é difícil
Quando
era rapaz e já seguia os noticiários e as revistas de informação o
mundo “livre” estava pendente do que acontecia na Coreia, onde em
teoria existia uma luta entre a população do norte desta península
-que poucos anos antes esteve sob o domínio imperial do Japão- e
que enquanto durou esta guerra, e ainda hoje, era uma zona satélite
da China comunista e também da Rússia Soviética. Na zona a sul, ao
pretender travar a expansão do comunismo, os Estados Unidos, o
indiscutível paladino do “mundo livre” prontificou-se a dar uma
assistência militar, practicamente a todo vapor, com forças
militares e material de guerra. Mas tentando que não fosse vista a
sua participação como um novo colonialismo. Para tratar de aliviar
a real noção de que ali se confrontavam os EUA versus a China, mais
a URSS, montou-se uma com-participação de alguns países
comprometidos com os EUA e assim dar a entender, sem o conseguir
totalmente, que quem apoiava o governo do Sul da Coreia era a ONU.
Esta
longa introdução foi pensada para poder comentar o que a imprensa
do mundo livre magnificou até o extremo de ser excessivo. O serviço
de propaganda da Coreia do Norte, apresentava, em filmes, os depoimentos de militares americanos, normalmente
pilotos de aviões abatidos, que de “livre vontade” declaravam o
seu desgosto, ou repúdio, sobre as missões de agressão que lhes
foram mandadas sobre populações civis indefesas no Norte.
Por
sua vez os serviços de inteligência e contra-informação dos USA,
em nome do tal mundo livre, afirmavam que aqueles testemunhos eram, nitidamente, conseguidos após serem aplicadas aos prisioneiros,
técnicas sofisticadas de medo e convicção. Entre ameaças,
promessas e lições de moral, ou fosse como fosse, afirmava-se que
os coreanos do norte faziam intensas lavagens ao cérebro
daqueles bons rapazes, americanos, que expunham a sua vida para
salvação do referido mundo livre.
Pode
ser que estas técnicas, já bem estruturadas. para conseguir as
confissões desejadas nem sequer fossem originais. O mais provável é
que fosse bem antiga, e que sempre se procurou tirar partido propagandista através dos “arrependidos” que se mudaram de
bando. Sempre os houve. Para uns eram traidores e para outros uns
patriotas que viram a luz da verdade. Mas para mim foi a primeira vez
que a encontrei repetida vezes sem fim, e daí que entrasse no léxico de muitos que estavam na minha geração.
E,
em consequência desta memória de juventude, perguntei-me sobre o
que se faz (sem ser a cruel e atroz tortura física) para conseguir dar a volta ao miolo de uma pessoa e o
levar não só a militar num bando que não era o seu, mas que até o
faça com ardor, e se torne mais convencido do que o seu mentor, que
em geral não deve acreditar muito na propaganda que transmite.
Aquilo que se diz Ser mais papista que o Papa.
Cheguei
à conclusão de que o medo é uma força poderosa para nos
levar a comportamentos que, em estado de liberdade natural, rejeitaríamos sem excitar Mas o medo por si só não chega para
conseguir uma colaboração plena. Ó processo implica oferecer, além
do medo a represálias, uma recompensa difícil de conseguir fora
daquela área de colaboração. E quanto mais misteriosa e indefinida
for esta recompensa, que só se alcançará após uma colaboração
total, mais desejada e indispensável se torna.
Neste
momento quem leu e pensou -mesmo que pouco- já vislumbra por onde
vão os tiros. Obviamente, todas as religiões, em todas as
épocas, -pois que nascem espontâneamente na mente humana-
usaram e usam a táctica do pau e a cenoura, A cenoura, para
os inocentes (aqueles que mal não pensam) é, e sempre foi, algo de
intangível; uma promessa para depois da morte. E como esta, seja
natural ou matada, é inevitável, o prometer uma indescritível nova
vida é normal que provoque no catequizado uma vontade louca,
extrema, de agarrar esta possibilidade. E quanto mais penosa tiver
sido a sua vida neste mundo, mais procurará cumprir as exigências
que lhe forem apresentadas.
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