UMA
DICA PATERNA
Mais
de seis décadas já passaram desde que o meu pai me disse, com a
seriedade que lhe era habitual -mas nem por isso abdicava de
gracejar de vez em quando- que na vida social (que não quer
dizer em ambiente reservado), era sempre arriscado emitir opiniões,
em especial quando estas opiniões podiam ser interpretadas como
avaliar factos ou comportamentos que, com evidência, se podiam
atribuir a alguém identificado. Habitualmente este género der
ditos ou comentários, são vistos como criticas, e
estas opiniões eram por sua vez qualificadas como sendo
construtivas ou destrutivas.
A partir desta qualificação, sumária e aparentemente pouco
explícita, deu-me a sua valorização pessoal acerca das duas
hipóteses de comentários. Também quis ser extremista na valorização
dos comentários, pois que são sempre as opiniões mais agudas
aquelas que devemos ter em conta,
Dito
de outra forma, as críticas construtivas, não
passam de uma tentativa de não se comprometer, ou pior até, de
aplaudir o visado no intuito de se colocar numa posição favorável para o que possa vir.
O
seu conselho era de não ligar a esta forma de “dar graxa”, pois
se naquilo que mereceu ser criticado erramos, -o que como se diz
errar é humano- pode
induzir-nos a cometer novamente o mesmo erro, e obviamente nada
avançamos no sentido positivo. A não ser um incremento do nosso
descrédito. E o motivador, através de oferecer aplausos
imerecidos, fica na sombra.
Pelo
contrário, o meu pai salientou, e insistiu em muitas ocasiões na
sua vida, em que as únicas críticas válidas,
efectivamente positivas, eram as eram as negativas, sempre
que, de uma forma idónea e razoada, além de apontar o erro ou
defeito, também especifica as razões que levaram a emitir aquele
juízo de cariz destrutivo. Ou seja, quando o comentador, além de
discordar, ao justificar a sua posição, ou mais correctamente a sua
oposição, está colaborando num sentido positivo. Sem dúvida, o
que aponta defeitos mostra ter uma ética mais merecedora de atenção.
Esta
espécie de introdução surge, a frio -como
arrancar um dente sem anestesia-
após a semana passada ter apagado uns comentários que poucas
horas antes tinha colocado sobre a minha avaliação, pessoal, de
artigos ou colunas de opinião em dois periódicos nacionais.
Posteriormente a serem editados considerei que não estou qualificado
-vendo
a carência de seguidores torna-se óbvio-
nem remunerado para dar opiniões. Daí se deduz serem dispensáveis.
Seja
como for, o que aconteceu hoje, sábado, é que continuei a comprar
os dois periódicos em questão, admitindo, sem rebuço, a motivação
de ler comentaristas “azedos”, duros de roer, cujos autores, sempre identificados, não se
importam de criar anticorpos quando assinalam atitudes e decisões
que afectam a generalidade da cidadania. E que nitidamente não se
encaixam no organigrama de acções que seriam mais convenientes para o bem da maioria “silenciosa”, e sofredora.
Estou
convicto de que o meu pai, -também
ele bastante solitário-
tinha toda a razão ao me avisar do valor nulo das críticas
positivas, em especial quando “cheiram” a pretender um retorno, e
que os únicos vectores que nos podem ajudar na toma de decisões
válidas, está nos comentários azedos. E desta vez não darei
pistas concretas acerca de quem aprecio ler.
Infelizmente,
esta ponderação dos sinais da agulha de marear não são atendidos
da mesma forma pelos leitores, que consentem em desviar os olhos da
realidade para seguir os seus compromissos, em geral de índole
egoísta e compensadores. Cada um é livre de abdicar de uma
característica que, internamente considere correcta, mas que a
descarta por não lhe ser agradável, nem não prevê lhe traga benefícios.
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