sábado, 22 de junho de 2019

MEDITAÇÕES - Uma dica



UMA DICA PATERNA

Mais de seis décadas já passaram desde que o meu pai me disse, com a seriedade que lhe era habitual -mas nem por isso abdicava de gracejar de vez em quando- que na vida social (que não quer dizer em ambiente reservado), era sempre arriscado emitir opiniões, em especial quando estas opiniões podiam ser interpretadas como avaliar factos ou comportamentos que, com evidência, se podiam atribuir a alguém identificado. Habitualmente este género der ditos ou comentários, são vistos como criticas, e estas opiniões eram por sua vez qualificadas como sendo construtivas ou destrutivas.

A partir desta qualificação, sumária e aparentemente pouco explícita, deu-me a sua valorização pessoal acerca das duas hipóteses de comentários. Também quis ser extremista na valorização dos comentários, pois que são sempre as opiniões mais agudas aquelas que devemos ter em conta,

Dito de outra forma, as críticas construtivas, não passam de uma tentativa de não se comprometer, ou pior até, de aplaudir o visado no intuito de se colocar numa posição favorável para o que possa vir.

O seu conselho era de não ligar a esta forma de “dar graxa”, pois se naquilo que mereceu ser criticado erramos, -o que como se diz errar é humano- pode induzir-nos a cometer novamente o mesmo erro, e obviamente nada avançamos no sentido positivo. A não ser um incremento do nosso descrédito. E o motivador, através de oferecer aplausos imerecidos, fica na sombra.

Pelo contrário, o meu pai salientou, e insistiu em muitas ocasiões na sua vida, em que as únicas críticas válidas, efectivamente positivas, eram as eram as negativas, sempre que, de uma forma idónea e razoada, além de apontar o erro ou defeito, também especifica as razões que levaram a emitir aquele juízo de cariz destrutivo. Ou seja, quando o comentador, além de discordar, ao justificar a sua posição, ou mais correctamente a sua oposição, está colaborando num sentido positivo. Sem dúvida, o que aponta defeitos mostra ter uma ética mais merecedora de atenção.


Esta espécie de introdução surge, a frio -como arrancar um dente sem anestesia- após a semana passada ter apagado uns comentários que poucas horas antes tinha colocado sobre a minha avaliação, pessoal, de artigos ou colunas de opinião em dois periódicos nacionais. Posteriormente a serem editados considerei que não estou qualificado -vendo a carência de seguidores torna-se óbvio- nem remunerado para dar opiniões. Daí se deduz serem dispensáveis.

Seja como for, o que aconteceu hoje, sábado, é que continuei a comprar os dois periódicos em questão, admitindo, sem rebuço, a motivação de ler comentaristas “azedos”, duros de roer, cujos autores, sempre identificados, não se importam de criar anticorpos quando assinalam atitudes e decisões que afectam a generalidade da cidadania. E que nitidamente não se encaixam no organigrama de acções que seriam mais convenientes para o bem da maioria “silenciosa”, e sofredora.

Estou convicto de que o meu pai, -também ele bastante solitário- tinha toda a razão ao me avisar do valor nulo das críticas positivas, em especial quando “cheiram” a pretender um retorno, e que os únicos vectores que nos podem ajudar na toma de decisões válidas, está nos comentários azedos. E desta vez não darei pistas concretas acerca de quem aprecio ler.

Infelizmente, esta ponderação dos sinais da agulha de marear não são atendidos da mesma forma pelos leitores, que consentem em desviar os olhos da realidade para seguir os seus compromissos, em geral de índole egoísta e compensadores. Cada um é livre de abdicar de uma característica que, internamente considere correcta, mas que a descarta por não lhe ser agradável, nem não prevê lhe traga benefícios.

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