quarta-feira, 12 de junho de 2019

MEDITAÇÕES - Tanto fedor !



Quando Shakespeare escreveu a peça de Hamlet (que não foi o inventor da omelete!) é possível que não adivinhasse que ali ficaria, como frase lapidar HÁ ALGO PODRE NO REINO DA DINAMARCA.

Uma citação que me veio à cabeça pensando no muito que se sabe acerca da podridão que nos comanda. Ou mais concretamente, nunca na história a população em geral teve accesso a tanta informação, e, curiosamente, a reacção não aparece. Nem sequer deve ser difícil de explicar o porque da apatia geral e aceitar que as coisas nos passem pela cara, ou pelo nariz, que chega primeiro, sem que o fedor nos moleste.

Dizem que as pessoas habituam-se aos cheiros dominantes, assim como a certos ruídos, e, em consequência só reage se um aroma, neste caso um fedor, for novo, desconhecido. Por saberem isso é que não se molestam em esconder as mal-feitorias, desvios, trapalhadas e desfalques que, sempre, mas sempre, sem falhar, caem nas costas dos mesmos. E, curiosamente estes “carregadores” involuntários, mas resignados e , por ventura, até contentes, de ser uma espécie de pagadores de promessas, continuam a pertencer a estratos sociais bem definidos, embora já ultrapassem o nível das camadas mais desfavorecidas e tenha invadido parte da considerada classe média.

Historicamente sempre as classes mais poderosas, fossem da nobreza=poder militar, ou possuidores de importante capital, souberam como manter a população distraída. Todos citamos a frase latina panem et circenses (proferida por Juvenal criticando a passividade do povo perante o declínio do império, em troca de pão e circo) Fossem ajustiçamentos na praça pública, autos de fé com queima de heréticos, procissões, casamentos, desfiles militares, festejos por motivos fúteis, romarias, expôs, concertos, desafios de futebol, etc., em cada época houve tretas criadas para entreter. Daí que convêm admitir que sempre o poder teve nas suas mãos as formas de distrair o povo e assim o levar a esquecer as agruras da sua vida.

É de pasmar o facto de que estando à disposição de qualquer pessoa o saber aquilo que, anteriormente só se sabia nos corredores de palácio, tudo se aceite sem reacção. O segredo absoluto já não existe. Foi sabiamente substituído pela saturação controlada. Quanta mais porcaria se ponha junto do ventilador e se distribua sem recato (Mas sempre guardando o Filet mignon,que a maralha nem sabe apreciar!?) menos dão por ela, já nem o cheiro incomoda.

Vejamos, assim ao passar sem aprofundar: submarinos, projectos não acabadas, nem saídos do papel, contratos ruinosos, desfalques, vendas de activos nacionais ao desbarato, dívida pública a subir sem recuperar os empréstimos nem os desvios evidentes. Seria uma lista longa que não nos levaria a outra conclusão de que a população deste País -que todos amamos- não sabe defender os seus interesses, nem mesmo punir aqueles que internamente abusam.

Consta que muitos habitantes de Portugal estão viciados com ansiolíticos, que dormem pouco por estarem agarrados a mais do que um emprego ou ao seu computador, brincando nas tais redes sociais. Mas será que somos conscientes de que, com a nossa atitude de “deixa andar...”, também somos culpados das nossas agruras?

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