Quando
Shakespeare escreveu a peça de Hamlet (que não foi o inventor da omelete!) é possível que não
adivinhasse que ali ficaria, como frase lapidar HÁ ALGO PODRE NO
REINO DA DINAMARCA.
Uma
citação que me veio à cabeça pensando no muito que se sabe acerca
da podridão que nos comanda. Ou mais concretamente, nunca na
história a população em geral teve accesso a tanta informação,
e, curiosamente, a reacção não aparece. Nem sequer deve ser
difícil de explicar o porque da apatia geral e aceitar que as coisas
nos passem pela cara, ou pelo nariz, que chega primeiro, sem que o
fedor nos moleste.
Dizem
que as pessoas habituam-se aos cheiros dominantes, assim como a
certos ruídos, e, em consequência só reage se um aroma, neste caso
um fedor, for novo, desconhecido. Por saberem isso é que não se
molestam em esconder as mal-feitorias, desvios, trapalhadas e
desfalques que, sempre, mas sempre, sem falhar, caem nas costas dos
mesmos. E, curiosamente estes “carregadores” involuntários, mas
resignados e , por ventura, até contentes, de ser uma espécie de
pagadores de promessas,
continuam a pertencer a estratos sociais bem definidos, embora já
ultrapassem o nível das camadas mais desfavorecidas e tenha invadido
parte da considerada classe média.
Historicamente sempre as classes mais poderosas, fossem da nobreza=poder militar, ou
possuidores de importante capital, souberam como manter
a população distraída.
Todos citamos a frase latina panem
et circenses (proferida
por Juvenal criticando a passividade do povo perante o declínio do
império, em troca de pão e circo)
Fossem ajustiçamentos na praça pública, autos de fé com queima de
heréticos, procissões, casamentos, desfiles militares, festejos por
motivos fúteis, romarias, expôs, concertos, desafios de futebol,
etc., em cada época houve tretas criadas para entreter. Daí que
convêm admitir que sempre o poder teve nas suas mãos as formas de
distrair o povo e assim o levar a esquecer as agruras da sua vida.
É
de pasmar o facto de que estando à disposição de qualquer pessoa o
saber aquilo que, anteriormente só se sabia nos corredores de
palácio, tudo se aceite sem reacção. O segredo absoluto já não
existe. Foi sabiamente substituído pela saturação controlada.
Quanta mais porcaria se ponha junto do ventilador e se distribua sem
recato (Mas sempre guardando o Filet mignon,que
a maralha nem sabe apreciar!?) menos
dão por ela, já nem o cheiro incomoda.
Vejamos,
assim ao passar sem aprofundar: submarinos, projectos não acabadas,
nem saídos do papel, contratos ruinosos, desfalques, vendas de
activos nacionais ao desbarato, dívida pública a subir sem
recuperar os empréstimos nem os desvios evidentes. Seria uma lista
longa que não nos levaria a outra conclusão de que a população
deste País -que todos amamos- não sabe defender os seus interesses,
nem mesmo punir aqueles que internamente abusam.
Consta
que muitos habitantes de Portugal estão viciados com ansiolíticos,
que dormem pouco por estarem agarrados a mais do que um emprego ou ao
seu computador, brincando nas tais redes sociais. Mas será que somos conscientes de que, com a nossa atitude de “deixa andar...”,
também somos culpados das nossas agruras?
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