quinta-feira, 6 de junho de 2019

CRÓNICAS DO VALE – Cap 93



Enquanto não chega a convocatória

Estou num momento de sossego. A Isabel foi para a Vila e “aodespois” para Aveiro, a fim de actualizar os seus negócios, pois com a inesperada vocação -mais sonhada do que existente- para andar com avental, luvas de jardinagem, e brincar com flores, mais couves, pés de tomateiro, pimento, malagueta “salerosa”, beringelas e outras verduras, umas mais coloridas do que outras, que qualquer Pingo Amargo tem nas suas prateleiras, e quem faz referência a esta rede de lojas não quer dizer que a veja como destacável, ou melhor do que qualquer outra. Pois bem, eu estou aqui sentado num cómodo cadeirão, quase a dormir, e pensando na morte da bezerra, que é um tema bem histórico e actual para muitos dos meus compatriotas.

E já agora. Como falo uma porção de línguas, sem contar a de vaca, que gosto dela estufada, nem a de gato, que por vezes molho no café da manhã, antes mata-bicho, acontece que, sem ser por vontade definida, ou seja de propósito, verifico que a minha cachola está imersa noutra língua, que não a do Camões e da Augustina recentemente falecida e que, a meu ver, embora reconheça que ninguém se interessa pela minha opinião, devia ter sido enviada, por correio azul, para junto “del Marocas”, por ser uma personalidade de muito destaque no meio da mediocridade e desprezo nacional. O menosprezo que esta interessante senhora gerou -enquanto viveu- foi consequência das invejas que se tornaram venenosas em muitas mentes insignificantes.

Depois desta tirada social no campo das loas, agradeço os aplausos e as mostras de agradecimento dos familiares desta Dama. Bem hajam.

Pois como tinha no pensamento, antes de descarrilar, coisa que “nunca me acontece”, tinha dado por mim a pensar em castelhano, ou espanhol se preferirem adoptar a terminologia dos dominantes do outro lado da fronteira (espero que o bom Deus, que não o mau! os mantenha longe de casa) E já sabem que no clã dos Maragato a língua materna, e até a paterna, foi sempre o espanhol, mesmo que com o tempo de degradasse para o tal portunhol.

E o que me tinha vindo à miolada? Sim, porque nesta altura já devem estar ansiosos por saber das minhas interioridades de dentro. Pois tudo estava circunscrito numa frase espanhola ligada ao tema das obras em curso na mansão dos crimes, que parece criada expressamente para a situação que sugere estar por trás das obras. Diz assim La jodienda no tiene enmienda. Admito que não é necessário tentar uma tradução (1), basta recordar a fábula da serpente e Eva, mais a maçã da sabedoria, e as consequências imediatas que ocasionou. Só direi que entraram numa de fornicação obcecada e que, estupidamente, se envergonhavam desta ânsia, que mais tarde partilharam com as conjunções copulativas. Não só contribuíram, incessantemente, para aumentar a população do Paraíso e arredores, como foram o rastilho para o surgir da moda, dos vestidos, da alta costura e da baixa cultura, mas não da baixa pombalina, que careceu da ajuda do terramoto+maremoto (agora tsunami) e do Sebastião e Melo, mais o Carlos Mardel para se concretizar.
...

Quando o telefone toca

Estou! Quem fala?
Ou ninguém quer falar? Esta linha de vez em quando não responde. Deve estar sob vigilância, por indecente e má figura.

  • Nada disso, amigo Maragato, foi um toque de botões sem intenção.E agora ouve bem?
Optimamente, e sem necessitar de amplificador. Podemos dizer que foi um falso alarme. E então, o Doutor está disponível, onde, quando e como -estive aguardando a oportunidade de fazer esta tripla pergunta, mesmo que a última não encaixe perfeitamente- Mas, não ligue a estes meus dislates . Será que nos podemos encontrar?

Então fica para amanhã ao tempo do mata-bicho, no local que me indicou. E adianto que não se preocupe, ou melhor, que escusa de ficar descansado, pois se tenho indícios de que não acertamos, o que parece estar a ser preparado não é muito melhor.

Até amanhã, e de os meus cumprimentos à sua esposa Diana.


(1) Posso sugerir: O foder não tem nada que saber

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