sábado, 29 de junho de 2019

MEDITAÇÕES. Ou divagações


DA DESPENSA E DA COZINHA

Tenho a impressão, mal fundamentada dado que estou bastante isolado do convívio social, que a maioria da população, ou pelo menos aqueles que não estão comprometidos ou pendentes de benesses prometidas pessoalmente, não se interessam pela vida pública, apesar de que tudo aquilo que nos enfastia e desejamos que nos passe ao largo, sempre nos afecta directamente.

Será mesmo assim? Teremos que dedicar uns minutos -poucos que o tempo passa depressa- para meditar em alguns capítulos concretos. Um deles, muito importante, é o poder avaliar o que de facto existe na despensa nacional, mais concretamente no lugar onde se guarda, ou deveria estar, o carcanhol que faz mover a roda da nossa vida.

Tal como contam que aconteceu no século XX, quando o estado preocupante em que se encontrava o tesouro público, incitou a que se encomendasse a solução do problema a um provinciano, que nos conduziu pela vereda do estoicismo durante décadas, hoje temos um outro provinciano, desta feita algarvio, e se não vai calçado com botins ortopédicos pode identificar-se como personagem principal num anúncio de dentífrico, pois que, sempre sorridente, nos diz que as coisas andam melhor do que jamais. Ou pelo menos na década anterior à sua. Portugal, através del, ministro das finanças e dono da chave do cofre, é aplaudido, como exemplo a seguir, em toda a Europa e parte do exterior. A dúvida, pequena mas importante, é que já não sabemos o que mais se pode vender aos chineses.

A solução que nos é apresentada baseia-se em promessas para não se cumprirem, e nas “cativações” que cortam, de facto, os orçamentos prometidos. Mas o País ainda anda, manquejando, mas anda, devagar. O sintoma mais geral é aquele que a população manifesta quando se lhe pergunta “como vai?” e, invariavelmente responde “vou andando”. Um País de andarilhos! Mas sabem para onde andam?

Aproximam-se novas eleições e, como é habitual, surgem propostas e desejos que se devem cumprir graças à colaboração dos cidadãos eleitores, ou, sendo pragmático, se cumprirão como decidirem os que forem eleitos, sem contar com as vontades, mal expressas, do eleitorado. Nunca se viu um pastor perguntando, em assembleia magna, às ovelhas que traz a seu cuidado, para onde preferem ir pastar... E o Homem, comporta-se atávicamente como um animal. Afirmação que pode custar a digerir ou nem sequer se atenda a esta verdade.

Temos um PS que já está farto de ter que aturar uns sócios que, apesar de não terem nenhuma carteira ministerial, os incomodam da madrugada até a noite cerrada, pela insistência em provocar reclamações, greves e outras inconveniências que implicam mais promessas a não cumprir e, no fundo, umas despesas que o dentolas não autoriza. Por isso o actual Primeiro ministro clama e deu a palavra de ordem aos seus vozeiros, para que insistam em dar como indiscutível o chegar a uma maioria absoluta.

Ou, que se aceite, por trás da cortina, uma possível conexão com o partido mais próximo, embora com cheiro a direita. Isso sem se libertar dos compromissos factuais que o PS sempre tomou com a realidade económica. Já que, pragmaticamente, nunca se pode escapar da alçada do capital, direitista por génese.

Mas aquilo que sinto, desde o meu canto de eremita, é que existe um distanciamento notório no que se refere ao contacto directo das individualidades que orientam a opinião pública no sector Norte do País e os que cumprem a mesma missão junto da capital. Estes últimos, que estão na primeira linha em lugares cativos, circulam em meios muito restritos, practicamente só consentem em aparecer nos programas televisivos. Hoje a sua presença é mais recatada do que jamais foi, no seio da casa de cada um, pois já deixaram de aparecer nos, já esquecidos, filmes de actualidades que antes passavam nos cinemas. Pelo contrário, deduzo, com forte probabilidade de errar, que no Norte a presença física, cara-a-cara, das pessoas notáveis em cada burgo é mais habitual, e que (se isso assim for) possibilita diálogos sem registo magnético nem selfies para distribuir, ou cabazadas de beijinhos e abraços, estilo chi-coração, que o Presidente se encarrega de espalhar para dar uma imagem de proximidade inoperante.

Por se esta diferença de comportamento político-social não for suficiente para emperrar as pretensões do PS, temos que aceitar, por tanto se ter batido neste ferro frio, que existe uma incompatibilidade entre os dois cabeças de política partidária Norte-Sul. Isso nota-se mais pelos reflexos do que pelas manifestações directas dois dois indivíduos, que nos querem fazer crer que ambos desejam, ardentemente, entrar numa de beijos na boca, com línguas penetrantes, como se mostravam no tempo da Guerra Fria entre os chefões do Soviete Supremo.

Mas estes sonhos do PS podem não se concretizar caso os actuais sócios, sem comando ministerial mas activistas q.b., se sentirem mal tratados e daí decidirem aquecer, mais um pouco, a guerra surda das reivindicações, que inevitavelmente condicionariam muitos votos no sentido contrário aos desejos de António Costa.

Não tem sido anormal que, ao longo da história nacional e internacional, a ambiguidade conduza a resultados indesejados. As recomendações de Maquiavel -não confundam com Marcelo, apesar de ser este um decalque- podem não dar o resultado desejado ao PS.

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