DA
DESPENSA E DA COZINHA
Tenho
a impressão, mal fundamentada dado que estou bastante isolado do
convívio social, que a maioria da população, ou pelo menos aqueles
que não estão comprometidos ou pendentes de benesses prometidas
pessoalmente, não se interessam pela vida pública, apesar de que
tudo aquilo que nos enfastia e desejamos que nos passe ao largo,
sempre nos afecta directamente.
Será
mesmo assim? Teremos que dedicar uns minutos -poucos que o tempo
passa depressa- para meditar em alguns capítulos concretos. Um
deles, muito importante, é o poder avaliar o que de facto existe na
despensa nacional, mais concretamente no lugar onde se guarda, ou
deveria estar, o carcanhol que faz mover a roda da nossa vida.
Tal
como contam que aconteceu no século XX, quando o estado preocupante
em que se encontrava o tesouro público, incitou a que se
encomendasse a solução do problema a um provinciano, que nos
conduziu pela vereda do estoicismo durante décadas, hoje temos um
outro provinciano, desta feita algarvio, e se não vai calçado com
botins ortopédicos pode identificar-se como personagem principal num
anúncio de dentífrico, pois que, sempre sorridente, nos diz que as
coisas andam melhor do que jamais. Ou pelo menos na década anterior
à sua. Portugal, através del, ministro das finanças e dono da
chave do cofre, é aplaudido, como exemplo a seguir, em toda a Europa
e parte do exterior. A dúvida, pequena mas importante, é que já
não sabemos o que mais se pode vender aos chineses.
A
solução que nos é apresentada baseia-se em promessas para não se
cumprirem, e nas “cativações” que cortam, de facto, os
orçamentos prometidos. Mas o País ainda anda, manquejando, mas
anda, devagar. O sintoma mais geral é aquele que a população
manifesta quando se lhe pergunta “como vai?” e, invariavelmente responde “vou andando”. Um País de andarilhos! Mas sabem para
onde andam?
Aproximam-se
novas eleições e, como é habitual, surgem propostas e desejos que
se devem cumprir graças à colaboração dos cidadãos eleitores,
ou, sendo pragmático, se cumprirão como decidirem os que forem
eleitos, sem contar com as vontades, mal expressas, do eleitorado.
Nunca se viu um pastor perguntando, em assembleia magna, às ovelhas
que traz a seu cuidado, para onde preferem ir pastar... E o Homem,
comporta-se atávicamente como um animal. Afirmação que pode custar a digerir ou nem
sequer se atenda a esta verdade.
Temos
um PS que já está farto de ter que aturar uns sócios que, apesar
de não terem nenhuma carteira ministerial, os incomodam da madrugada
até a noite cerrada, pela insistência em provocar reclamações,
greves e outras inconveniências que implicam mais promessas a não
cumprir e, no fundo, umas despesas que o dentolas não autoriza. Por
isso o actual Primeiro ministro clama e deu a palavra de ordem aos
seus vozeiros, para que insistam em dar como indiscutível o chegar a
uma maioria absoluta.
Ou,
que se aceite, por trás da cortina, uma possível conexão com o
partido mais próximo, embora com cheiro a direita. Isso sem se
libertar dos compromissos factuais que o PS sempre tomou com a
realidade económica. Já que, pragmaticamente, nunca se pode escapar
da alçada do capital, direitista por génese.
Mas
aquilo que sinto, desde o meu canto de eremita, é que existe um
distanciamento notório no que se refere ao contacto directo das
individualidades que orientam a opinião pública no sector Norte do
País e os que cumprem a mesma missão junto da capital. Estes
últimos, que estão na primeira linha em lugares cativos, circulam
em meios muito restritos, practicamente só consentem em aparecer nos
programas televisivos. Hoje a sua presença é mais recatada do que
jamais foi, no seio da casa de cada um, pois já deixaram de aparecer
nos, já esquecidos, filmes de actualidades que antes passavam nos
cinemas. Pelo contrário, deduzo, com forte probabilidade de errar,
que no Norte a presença física, cara-a-cara, das pessoas notáveis
em cada burgo é mais habitual, e que (se isso assim for) possibilita
diálogos sem registo magnético nem selfies para distribuir, ou
cabazadas de beijinhos e abraços, estilo chi-coração, que o
Presidente se encarrega de espalhar para dar uma imagem de
proximidade inoperante.
Por
se esta diferença de comportamento político-social não for suficiente para emperrar as pretensões do PS, temos que aceitar, por
tanto se ter batido neste ferro frio, que existe uma
incompatibilidade entre os dois cabeças de política partidária
Norte-Sul. Isso nota-se mais pelos reflexos do que pelas
manifestações directas dois dois indivíduos, que nos querem fazer
crer que ambos desejam, ardentemente, entrar numa de beijos na boca,
com línguas penetrantes, como se mostravam no tempo da Guerra Fria
entre os chefões do Soviete Supremo.
Mas
estes sonhos do PS podem não se concretizar caso os actuais sócios,
sem comando ministerial mas activistas q.b., se sentirem mal tratados
e daí decidirem aquecer, mais um pouco, a guerra surda das reivindicações, que inevitavelmente condicionariam muitos votos no
sentido contrário aos desejos de António Costa.
Não
tem sido anormal que, ao longo da história nacional e internacional,
a ambiguidade conduza a resultados indesejados. As recomendações de Maquiavel -não confundam com Marcelo, apesar de ser este um
decalque- podem não dar o resultado desejado ao PS.
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