Tantas
cabeças tantas sentenças
Habitualmente
aceitamos, mesmo que algum ranger de dentes, que as opiniões que
dois dialogantes possam ter sobre qualquer assunto não coincidam,
ou sejam claramente opostas, incompatíveis. Caso alarguemos o
inquérito, sem condicionar as respostas, deixando total liberdade de
expressão e opinião, certamente verificaremos que o leque de
respostas cada vez é mais lato.
E
se repetimos a pergunta, com alguma variante de léxico mas
procurando que não se altere o fundo da questão, até pode
acontecer que os que deram uma opinião determinada, na segunda volta
mudem para o sentido oposto.
Esta
constatação, que não é taxativa mas que é real, nos leva a um
segundo cabeçalho para este escrito:
VOLÚVEL
OU OBCECADO, EIS O PROBLEMA.
(uma
variação à guitarra da frase célebre de Shakespeare)
As
duas posições, opostas numa primeira análise, podem ser alvo de
críticas ferozes. Uns opinaram que o mudar de opinião como de
camisa -mesmo que só a mude de longe em longe-, mostra não
ser uma pessoa de palavra e que o seu pensamento é tão mutável
como a seta de um catavento. Mas aquele que não arreda das suas
ideias fixas também não escapa das críticas, pois que não aceita
modular as suas opiniões em função da evolução a que todos
estamos sujeitos.
Fisiológicamente
já todos leram, mesmo que não fixassem ao pormenor, que o nosso
corpo, desde o cabelo até às unhas dos pés, incluída toda a
aparelhagem que carregados no interior do corpo. Mais a estrutura óssea
e a derme, constantemente rejeita células mortas e se renova com
novas. Não vale a pena fixarmos um período geral, pois certos órgãos
devem ter um tempo útil mais longo do que outros. Mas, o conjunto,
desde a concepção até à morte, muda paulatinamente. Enquanto
estamos vivos, evidentemente.
E
as nossas ideias, as nossas sentenças, incluídas as que ficam
internas e por isso não se apresentam á crítica exterior, tem que
ser sempre idênticas? É pouco provável. Todos admitimos que as
reacções e os critérios extremistas, próprios da puberdade e
juventude, vão perdendo intensidade e vão mudando, modulando,
passando até para o sentido oposto, sem ser súbitamente. Leva o seu
tempo. Não é por acaso que se refere: O velho muda o conselho.
O
tempo que a Parca nos concede, apesar de nos parecer curto, ou longo
-consoante o momento e o nosso estado de espírito-, é suficiente
para que assistimos a mudanças, lentas ou súbitas, que nos
pressionam para alterar algumas noções de consideramos estarem
imutáveis, de pedra e cal. Algumas não as podemos atribuir
directamente à influência de outras pessoas, governos, leis e
outros condicionalismos que não dependiam de nós. Outras serão
consequência da passagem do tempo e de como, tal como as estações
do ano, nos condiciona.Em suma,podemos afirmar que o nosso leque de
possibilidades de opção e decisão é mais reduzido do que
habitualmente pensamos. Ou nem sequer dedicamos algum tempo de
meditação para especular sobre isso.
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