domingo, 17 de março de 2019

TOT CAPITA TOT SENTENTIAE

Tantas cabeças tantas sentenças

Habitualmente aceitamos, mesmo que algum ranger de dentes, que as opiniões que dois dialogantes possam ter sobre qualquer assunto não coincidam, ou sejam claramente opostas, incompatíveis. Caso alarguemos o inquérito, sem condicionar as respostas, deixando total liberdade de expressão e opinião, certamente verificaremos que o leque de respostas cada vez é mais lato.

E se repetimos a pergunta, com alguma variante de léxico mas procurando que não se altere o fundo da questão, até pode acontecer que os que deram uma opinião determinada, na segunda volta mudem para o sentido oposto.

Esta constatação, que não é taxativa mas que é real, nos leva a um segundo cabeçalho para este escrito:

VOLÚVEL OU OBCECADO, EIS O PROBLEMA.
(uma variação à guitarra da frase célebre de Shakespeare)

As duas posições, opostas numa primeira análise, podem ser alvo de críticas ferozes. Uns opinaram que o mudar de opinião como de camisa -mesmo que só a mude de longe em longe-, mostra não ser uma pessoa de palavra e que o seu pensamento é tão mutável como a seta de um catavento. Mas aquele que não arreda das suas ideias fixas também não escapa das críticas, pois que não aceita modular as suas opiniões em função da evolução a que todos estamos sujeitos.

Fisiológicamente já todos leram, mesmo que não fixassem ao pormenor, que o nosso corpo, desde o cabelo até às unhas dos pés, incluída toda a aparelhagem que carregados no interior do corpo. Mais a estrutura óssea e a derme, constantemente rejeita células mortas e se renova com novas. Não vale a pena fixarmos um período geral, pois certos órgãos devem ter um tempo útil mais longo do que outros. Mas, o conjunto, desde a concepção até à morte, muda paulatinamente. Enquanto estamos vivos, evidentemente.

E as nossas ideias, as nossas sentenças, incluídas as que ficam internas e por isso não se apresentam á crítica exterior, tem que ser sempre idênticas? É pouco provável. Todos admitimos que as reacções e os critérios extremistas, próprios da puberdade e juventude, vão perdendo intensidade e vão mudando, modulando, passando até para o sentido oposto, sem ser súbitamente. Leva o seu tempo. Não é por acaso que se refere: O velho muda o conselho.

O tempo que a Parca nos concede, apesar de nos parecer curto, ou longo -consoante o momento e o nosso estado de espírito-, é suficiente para que assistimos a mudanças, lentas ou súbitas, que nos pressionam para alterar algumas noções de consideramos estarem imutáveis, de pedra e cal. Algumas não as podemos atribuir directamente à influência de outras pessoas, governos, leis e outros condicionalismos que não dependiam de nós. Outras serão consequência da passagem do tempo e de como, tal como as estações do ano, nos condiciona.Em suma,podemos afirmar que o nosso leque de possibilidades de opção e decisão é mais reduzido do que habitualmente pensamos. Ou nem sequer dedicamos algum tempo de meditação para especular sobre isso.

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