sábado, 23 de março de 2019

BREXIT 2



DIVAGAÇÕES SOBRE RELIGIÕES

Sem que considere ser uma cedência ao “politicamente correcto” podemos admitir que, desde a alvorada da civilização, o homem sentiu a necessidade de construir um esquema misterioso, inexplicável, com o qual tentava justificar tanto a evolução das estações como os cataclismos que o penalizavam. E mais o resto, especialmente o penoso.

Uma vez que se aceitou colocar a imaginação em funcionamento as várias soluções que foram surgindo ao longo do tempo e dos diferentes pontos em que os humanos se dispunham a tecer lucubrações, chegou-se ao paradoxo de que todas as montagens se assemelhavam entre si, e algumas inclusive eram practicamente iguais, quase que decalcadas, embora fossem engendradas separadamente. Em comum tiveram o criarem uma classe sincrética que, em nome de entidades divinas, exerciam um poder civil desmesurado.

Deixando de lado esta divagação sem importância o que em geral se deu foi que se organizaram, em paralelo, umas mitologías e uns cánones de conducta, com regras que implicavam, como é de preceito, prémios e castigos para quem as devia seguir, com a exigência de uma obediência cega, sem discussões nem desvios. Daí que se estabelecessem uns preceitos que, logo desde o início, neutralizam a inicial liberdade de acção e de pensamento.

Saltando para a actualidade e abrindo o capítulo da religião que afecta as decisões da população do famoso UK -que teima-se em denominar como Inglaterra, só pelo facto de se admitir ser o reino mais poderoso desta união- verifica-se que, abstraindo dos sentimentos de decisão independente do País de Gales, do qual pouco se ouve falar, e da mais acutilante Escócia, que de vez em quando levanta a voz ao mandão inglés, é na verde Irlanda que o ambiente é mais propício a gerar problemas. Concretamente porque se anuncia o voltar a separar a ilha em duas porções,com fronteiras armadas. E com direitos alfandegários. Um desastre se valorizarem estes anos de parceiros da UE em que os ânimos tinham acalmado.

E este ninho de vespas identifica-se, precisamente, pelo fanatismo religioso. Recuando na história, -que sempre pesa, mesmo que nos custe aceitar esta pressão- até início do século XVI, quando o domínio dos países do sul da Europa estava baseado no poder, terrenal que era aceite ter a Igreja Católica Romana, por designio divino (?) E que esta, se encarregava de conceder o aval ou de o negar, sempre a seu bel prazer.

Em 1517 o frade alemão MARTINHO LUTERO emitiu um manifesto com 95 teses, no qual, baseando-se no abuso que a Igreja Romana perpetrava com os seus fiéis, através das bulas e outras normas de fé, desligou-se de Roma e criou a IGREJA PROTESTANTE. Desta iniciativa resultou uma longa luta armada, a Contra Reforma e uma desavença que ainda perdura.

Quase de imediato, reinando na Inglaterra o famoso Enrique VIII, que entre outras características, tinha a de querer mudar de esposa com excessiva frequência, ao ver que as normas de Lutero não lhe permitiam os divórcios rápidos que desejava, em 1543 decidiu criar a IGREJA ANGLICANA, da qual seria a entidade suprema.

Chegados aqui embarcamos para a verde Irlanda. A população desta grande ilha manteve-se no seio do credo católico, excepto uma zona a norte, que, colonizada por ingleses, aderiu à Igreja Anglicana. E aqui se armou a tenda!

As incompatibilidades entre as duas comunidades foram crescendo, até ultrapassar a simples dialéctica e derivar, claramente, numa luta armada, numa guerra civil -depois da segunda guerra mundial em que os católicos estiveram, embora disfarçadamente, do lado dos nazis- Londres, como éóbvio, não aceitava que os “papistas” tomassem toda a Irlanda, e chegou o dia em que se estabeleceu uma linha separando o sul, católico, do norte protestante.

Muitos de nós recordamos, e vimos até em filmes, a guerra de atentados, lutas de rua, prisões e até torturas, mortes e suicídios, que esta situação comportava. O clima só acalmou quando tanto a Irlanda independente como o UK, carregando o Norte às costas, entraram na União Europeia. Eliminaram os controles de fronteira e as forças militares ou militarizadas recolheram às bases.

A proposta do BREXIT, se chegar a se tornar efectiva, implicaria o retorno da fronteira entre as duas Irlandas, que se habituaram a mais liberdade de circulação e comércio entre si. Este recuar na história política desta ilha é um dos pontos cruciais nas negociação, se não o mais importante anímicamente. Como a cedência tem que vir de Londres e, indirectamente, dava uma dupla vantagem “moral” e política, além de económica, à zona católica os conservadores ingleses, que não ponderaram devidamente as consequências do seu brilhante BREXIT, agora estão pressionados a ceder, e isso custa!

Deixar que a religião condicione a sociedade pode trazer, e traz, consequências que a mesma religião é incapaz de resolver. As guerras que se tem fomentado coma desculpa de credos diferentes, alegadamente incompatíveis, é uma das atitudes mais insensatas, direi mesmo estúpidas, que os humanos tentam em se meter. E mesmo assim se autoclassificam como seres racionais.


O seguinte capítulo tratará das carências sociais do UK e na pretensão de fechar fronteiras à imigração, quando eles as tem abertas, por tratados válidos, com os países da Comunidade Britânica.

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