DIVAGAÇÕES
SOBRE RELIGIÕES
Sem
que considere ser uma cedência ao “politicamente correcto”
podemos admitir que, desde a alvorada da civilização, o homem
sentiu a necessidade de construir um esquema misterioso,
inexplicável, com o qual tentava justificar tanto a evolução das
estações como os cataclismos que o penalizavam. E mais o resto,
especialmente o penoso.
Uma
vez que se aceitou colocar a imaginação em funcionamento as várias
soluções que foram surgindo ao longo do tempo e dos diferentes
pontos em que os humanos se dispunham a tecer lucubrações,
chegou-se ao paradoxo de que todas as montagens se assemelhavam entre
si, e algumas inclusive eram practicamente iguais, quase que
decalcadas, embora fossem engendradas separadamente. Em comum tiveram o criarem uma classe sincrética que, em nome de entidades
divinas, exerciam um poder civil desmesurado.
Deixando
de lado esta divagação sem importância o que em geral se deu foi
que se organizaram, em paralelo, umas mitologías e uns cánones de conducta, com regras que implicavam, como é de preceito, prémios e
castigos para quem as devia seguir, com a exigência de uma
obediência cega, sem discussões nem desvios. Daí que se
estabelecessem uns preceitos que, logo desde o início, neutralizam a inicial liberdade de acção e de pensamento.
Saltando
para a actualidade e abrindo o capítulo da religião que afecta as
decisões da população do famoso UK -que teima-se em denominar
como Inglaterra, só pelo facto de se admitir ser o reino mais
poderoso desta união- verifica-se que, abstraindo dos
sentimentos de decisão independente do País de Gales, do qual
pouco se ouve falar, e da mais acutilante Escócia, que de vez em
quando levanta a voz ao mandão inglés, é na verde Irlanda que o
ambiente é mais propício a gerar problemas. Concretamente porque se
anuncia o voltar a separar a ilha em duas porções,com fronteiras
armadas. E com direitos alfandegários. Um desastre se valorizarem
estes anos de parceiros da UE em que os ânimos tinham acalmado.
E
este ninho de vespas identifica-se, precisamente, pelo fanatismo
religioso. Recuando na história, -que sempre pesa, mesmo que nos
custe aceitar esta pressão- até início do século XVI, quando
o domínio dos países do sul da Europa estava baseado no poder,
terrenal que era aceite ter a Igreja Católica Romana, por designio
divino (?) E que esta, se encarregava de conceder o aval ou de o
negar, sempre a seu bel prazer.
Em
1517 o frade alemão MARTINHO LUTERO emitiu um manifesto com 95 teses,
no qual, baseando-se no abuso que a Igreja Romana perpetrava com os
seus fiéis, através das bulas e outras normas de fé, desligou-se de
Roma e criou a IGREJA PROTESTANTE. Desta iniciativa resultou uma
longa luta armada, a Contra Reforma e uma desavença que ainda
perdura.
Quase
de imediato, reinando na Inglaterra o famoso Enrique VIII, que entre
outras características, tinha a de querer mudar de esposa com
excessiva frequência, ao ver que as normas de Lutero não lhe
permitiam os divórcios rápidos que desejava, em 1543 decidiu criar
a IGREJA ANGLICANA, da qual seria a entidade suprema.
Chegados
aqui embarcamos para a verde Irlanda. A população desta grande ilha
manteve-se no seio do credo católico, excepto uma zona a norte, que,
colonizada por ingleses, aderiu à Igreja Anglicana. E aqui se armou
a tenda!
As
incompatibilidades entre as duas comunidades foram crescendo, até
ultrapassar a simples dialéctica e derivar, claramente, numa luta
armada, numa guerra civil -depois da segunda guerra mundial em que
os católicos estiveram, embora disfarçadamente, do lado dos nazis-
Londres, como éóbvio, não
aceitava que os “papistas” tomassem toda a Irlanda, e chegou o
dia em que se estabeleceu uma linha separando o sul, católico, do
norte protestante.
Muitos
de nós recordamos, e vimos até em filmes, a guerra de atentados,
lutas de rua, prisões e até torturas, mortes e suicídios, que esta
situação comportava. O clima só acalmou quando tanto a Irlanda
independente como o UK, carregando o Norte às costas, entraram na
União Europeia. Eliminaram os controles de fronteira e as forças militares ou militarizadas recolheram às bases.
A
proposta do BREXIT, se chegar a se tornar efectiva, implicaria o
retorno da fronteira entre as duas Irlandas, que se habituaram a mais
liberdade de circulação e comércio entre si. Este recuar na
história política desta ilha é um dos pontos cruciais nas
negociação, se não o mais importante anímicamente. Como a
cedência tem que vir de Londres e, indirectamente, dava uma dupla
vantagem “moral” e política, além de económica, à zona
católica os conservadores ingleses, que não ponderaram devidamente
as consequências do seu brilhante BREXIT, agora estão pressionados
a ceder, e isso custa!
Deixar
que a religião condicione a sociedade pode trazer, e traz,
consequências que a mesma religião é incapaz de resolver. As
guerras que se tem fomentado coma desculpa de credos diferentes,
alegadamente incompatíveis, é uma das atitudes mais insensatas,
direi mesmo estúpidas, que os humanos tentam em se meter. E mesmo
assim se autoclassificam como seres racionais.
O
seguinte capítulo tratará das carências sociais do UK e na pretensão de fechar fronteiras à imigração, quando eles as tem
abertas, por tratados válidos, com os países da Comunidade
Britânica.
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