INFLUÊNCIAS DESACTUALIZADAS
Penso
que muitas pessoas já estão enjoadas com este vai-não-vai que os
ingleses montaram ao pretender não se manterem, -mesmo que
parcialmente pois não aderiram à moeda única- fora da complexa
União Europeia. E ao mesmo tempo com pretensões de poder usufruir
do “filet mignon” e deixar na travessa os pratos que não
desejassem.
Fazer
um balanço total,ponderado, dos benefícios e problemas que se
criaram ao pretender criar um bloco europeu, trans-nacional,
eliminando, gradualmente, as identidades nacionais, e até regionais,
que uma já longa história deixaram fixas nos membros da integrada,
sem o ser totalmente, U.E. Um dos propósitos mais lógicos e
ambiciosos, mas difíceis de conseguir, era o de chegar a um bloco econômico, com governos locais cada vez mais próximos entre si, que
pudessem competir com algum pé de igualdade não só perante os EUA
como dos novos impérios que se estavam criando ao Oriente.
Procurar
justificações racionais ou absurdas para esta pretendida fuga do
U.K., que se assemelha ao clássico Agarrem-me se não eu o mato!,
e da também clássica fuga de sair pela porta alegando que “vou
comprar tabaco”, mas com a
oculta pretensão de que depois de “fumar aquela broca” pode
regressar ao lar e encontrar uma forte amizade. Quantos desejaríamos poder partilhar de soluçoes assim, pouco definidas e cheias de
escapatórias?
Todavia
os vectores que pressionaram os eleitores ingleses a votar num
referendum pouco ou nada meditado, sem avaliar o futuro em que
cairiam, são tão diversos e alguns inclusive tão recuados no
tempo, que quase se torna ridículo os colocar sobre a mesa, sabendo
que, instintivamente, quem oiça estas referências vai negar que
tenham algum peso na sociedade actual.
A
situação sedimentada que pouca atenção se lhe dá é a do trauma
saudosista de que padecem as nações que tiveram uma expansão
colonial importante e que,
hoje, se encontram na situação de restos de um naufrágio quando
chegam às praias, após os fortes temporais e as marés vivas.
Aquilo que orgulhosamente se quer valorizar como sendo a aportação
de uma cultura mais avançada, que substitisse as culturas ancestrais
locais, implicou a transferência de uma língua europeia, que não
sendo autóctona lhes é estranha, mas que se tornou indispensável
na vida actual.
As
gerações que viveram na fase de desmembramento do “seu império”
ainda retêm, intimamente, a ideia de que aquilo
tudo era nosso ,
mesmo quando a capacidade de manter aqueles territórios sob o seu
domínio era reduzida dada a diferença numérica das populações
naturais e a dos invasores, além do poder económico, cultural e
industrial.
Só
a colonização do norte da continente americano, em que se decidiu
exterminar os habitantes indígenas, é que atingiu um equilíbrio
diferente. Embora instável dada a substituição dos indígenas por
escravos africanos e a proliferação ancestral dos ameríndios a sul
do Rio Grande, que ameaçam substituir os wasps
como
uma coluna de termites.
Deixemos
os casos da península ibérica, por nos tocarem de perto, e
observemos à derrocada do Império Francês, herança da era
napoleónica. O território africano mais apreciado após o fim da
segunda guerra mundial, era a Argélia.
Ali se estabeleceram muitos colonos e explorações, mas também se
tinham preparado, militarmente naturais daquela zona (1) Por um lado
tinham as forças militares francesas, apoiado e apoiando-se pelos
residentes franceses, muitos de segunda e terceira geração, que
não queriam deixar aquilo que tinham conseguido. Do lado oposto o
exército de libertação argelino, onde ilitavam muitos argelinos
que tinham sido incorporados no exército francês durante a segunda
guerra mundial. A contra-guerrilha francófona terminou opondo-se ao
governo de Paris. Os apelidados de pied-noir
não
só mantiveram um estado de guerra no território argelino como
fizeram atentados terroristas no próprio hexágono.
A
Europa constitui um extenso repositório de casos semelhantes, que
ainda hoje rabejam como a cauda de uma sardanisca mutilada do corpo
principal.
Tomaram-se,
e continuam a se tomar, decisões mais por influência do saudosismo
do que como resultado de uma ponderação actual. As pressões do
passado histórico existem e não deixam de ter peso no descontrolar
da realidade actual.
(1) Como
sempre se fez ao longo da história, usando
o pelo do mesmo cão
Na
próxima entrega trataremos do triste problema da religião.
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