sexta-feira, 22 de março de 2019

BREXIT




INFLUÊNCIAS DESACTUALIZADAS

Penso que muitas pessoas já estão enjoadas com este vai-não-vai que os ingleses montaram ao pretender não se manterem, -mesmo que parcialmente pois não aderiram à moeda única- fora da complexa União Europeia. E ao mesmo tempo com pretensões de poder usufruir do “filet mignon” e deixar na travessa os pratos que não desejassem.

Fazer um balanço total,ponderado, dos benefícios e problemas que se criaram ao pretender criar um bloco europeu, trans-nacional, eliminando, gradualmente, as identidades nacionais, e até regionais, que uma já longa história deixaram fixas nos membros da integrada, sem o ser totalmente, U.E. Um dos propósitos mais lógicos e ambiciosos, mas difíceis de conseguir, era o de chegar a um bloco econômico, com governos locais cada vez mais próximos entre si, que pudessem competir com algum pé de igualdade não só perante os EUA como dos novos impérios que se estavam criando ao Oriente.

Procurar justificações racionais ou absurdas para esta pretendida fuga do U.K., que se assemelha ao clássico Agarrem-me se não eu o mato!, e da também clássica fuga de sair pela porta alegando que “vou comprar tabaco”, mas com a oculta pretensão de que depois de “fumar aquela broca” pode regressar ao lar e encontrar uma forte amizade. Quantos desejaríamos poder partilhar de soluçoes assim, pouco definidas e cheias de escapatórias?

Todavia os vectores que pressionaram os eleitores ingleses a votar num referendum pouco ou nada meditado, sem avaliar o futuro em que cairiam, são tão diversos e alguns inclusive tão recuados no tempo, que quase se torna ridículo os colocar sobre a mesa, sabendo que, instintivamente, quem oiça estas referências vai negar que tenham algum peso na sociedade actual.

A situação sedimentada que pouca atenção se lhe dá é a do trauma saudosista de que padecem as nações que tiveram uma expansão colonial importante e que, hoje, se encontram na situação de restos de um naufrágio quando chegam às praias, após os fortes temporais e as marés vivas. Aquilo que orgulhosamente se quer valorizar como sendo a aportação de uma cultura mais avançada, que substitisse as culturas ancestrais locais, implicou a transferência de uma língua europeia, que não sendo autóctona lhes é estranha, mas que se tornou indispensável na vida actual.

As gerações que viveram na fase de desmembramento do “seu império” ainda retêm, intimamente, a ideia de que aquilo tudo era nosso , mesmo quando a capacidade de manter aqueles territórios sob o seu domínio era reduzida dada a diferença numérica das populações naturais e a dos invasores, além do poder económico, cultural e industrial.

Só a colonização do norte da continente americano, em que se decidiu exterminar os habitantes indígenas, é que atingiu um equilíbrio diferente. Embora instável dada a substituição dos indígenas por escravos africanos e a proliferação ancestral dos ameríndios a sul do Rio Grande, que ameaçam substituir os wasps como uma coluna de termites.

Deixemos os casos da península ibérica, por nos tocarem de perto, e observemos à derrocada do Império Francês, herança da era napoleónica. O território africano mais apreciado após o fim da segunda guerra mundial, era a Argélia. Ali se estabeleceram muitos colonos e explorações, mas também se tinham preparado, militarmente naturais daquela zona (1) Por um lado tinham as forças militares francesas, apoiado e apoiando-se pelos residentes franceses, muitos de segunda e terceira geração, que não queriam deixar aquilo que tinham conseguido. Do lado oposto o exército de libertação argelino, onde ilitavam muitos argelinos que tinham sido incorporados no exército francês durante a segunda guerra mundial. A contra-guerrilha francófona terminou opondo-se ao governo de Paris. Os apelidados de pied-noir não só mantiveram um estado de guerra no território argelino como fizeram atentados terroristas no próprio hexágono.

A Europa constitui um extenso repositório de casos semelhantes, que ainda hoje rabejam como a cauda de uma sardanisca mutilada do corpo principal.

Tomaram-se, e continuam a se tomar, decisões mais por influência do saudosismo do que como resultado de uma ponderação actual. As pressões do passado histórico existem e não deixam de ter peso no descontrolar da realidade actual.

(1) Como sempre se fez ao longo da história, usando o pelo do mesmo cão

Na próxima entrega trataremos do triste problema da religião.

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