sexta-feira, 1 de março de 2019

PISANDO O RISCO DO PLÁGIO



E DA BLASFÉMIA (com passagem directa para a fogueira)

Admito, sem vergonha mortal, que a minha capacidade de arquivo acessível tem diminuído fortemente nos últimos dez anos. Atendendo a este facto, incontestável, decidi reler alguns dos livros que tenho em casa, sabendo de antemão que já os li alguns anos antes, mas que não sou capaz de os resumir por não os recordar plenamente. Só ao longo da segunda leitura é que vai aparecendo à tona algumas fases do argumento. Mas jamais consigo recordar o desfecho.

Este prelúdio, por assim o chamar, vem a propósito do que encontrei, esquecido, no meio de uma obra escrita por EDUARDO MENDOZA, com o título A assombrosa viagem de Pomponio Flato.

O tema concreto, parcial, que me causou um impacto é onde debate a dualidade entre matéria e espírito. A personagem que medita e tira conclusões acerca da da continuidade das pessoas depois da morte corporal, baseando-se na ideia da permanência da alma, admite que esta faceta espiritual é a que comanda o corpo, que lhe proporciona a vida. Daí, prossegue no seu raciocíneo, quando o corpo deixa de funcionar, a alma o abandona. Então dizemos que a pessoa morreu mesmo, sem apelo nem agravo, irremediavelmenteMorto o cão terminou a raiva.

Pelo contrário, quando o corpo dorme ou está inanimado por algum motivo, ou seja, que perdeu o conhecimento, a alma fica livre, temporariamente, e pode afastar-se para paragens afastadas, tanto geográficamente como temporalmente. Para a alma, livre e solta, não existem barreiras de qualquer espécie. Pode lutar como um super-homem; enfrentarse a seres mitológicos; ter prazeres físicos que jamais conseguiu conscientemente; assim como cometer as mais reprováveis perversões.

Todavia estas liberdades que aufere a alma, o espírito, dependem da vida corporal. Mal a pessoa acorda, seja de um sonho reparador ou de uma inconsciência, a alma regresa para ser o fiel auxiliar do corpo, em conluio com o pensamento do indivíduo.

Imaginar que a alma continua activa depois da decomposição física do nosso corpo equivale a aceitar que os deuses, ou o Deus único e verdadeiro, insiste em castigar alma pela eternidade sem fim, enquanto que o mais compreensível é que quando o corpo deixe de existir a alma entre no merecido descanso.

Raciocíneos deste teor devem ter orientado certos povos a mumificar os seus defuntos, com a pretensão de que não se decompondo o corpo conseguissem manter o espírito, a alma, activa. Sendo este o propósito se entende porque juntavam à múmia alimentos e pertences que pudesse utilizar na suas andanças incorpóreas.

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