quinta-feira, 14 de março de 2019

CARREGAR UM ESTIGMA




Se atendermos ao dicionário o termo ESTIGMA correspondem, entre outras aceitações: Marca infamante feita com ferro em brasa (livra ! Como nos romances de Alexandre Dumas e similares!) cicatriz; ferrete, sinal infamante. Prefiro adotar uma interpretação mais de acorde com as letras de alguns fados castiços: Ter o destino marcado.

Pois eu, sem nunca ter chegado ao nível de um “entretainer” pago e procurado, desde os tempos da primária que fui classificado como “engraçado”, que era capaz, e com certa frequência, de sacar bico não só ao lápis de pau, mas também a uma situação ou a uma conversa que, para os outros presentes não dava azo a um trocadilho gracioso. Concretando, que fazia rir a  assembleia constituinte.

Todavia esta capacidade, espontânea, nunca conseguí que se mostrasse “a pedido”. As graças surgem no meio de uma conversa, e também em situações em que não se considera serem as adequadas para gerar e transmitir graçolas. Quanto mais séria fosse a situação em que me encontrasse, aquele respeito geral, do qual não acreditava ser real, mais incitava a ver, entre os assistentes uma personagem que destacasse, fosse por dormir e ressonar, ou por fazer limpeza às narinas, entre outras atitudes. Podia ser o reparar que “ele” apalpava o nalguedo da sua vizinha, nomeadamente se esta não fosse a sua companheira oficial, sem que ninguém se desse por achado.

Já sabemos que funerais e outras cerimónias "respeitáveis", sejam religiosas ou civis, prestam a incitar apartes que não estão propriamente ao nível do momento. Mas precisamente são nestas alturas de manter um digno e respeitoso recolhimento que mais me pica a vontade de soltar uma barbaridade.

Esta dissertação a laia de introito foi a consequência de ter lido certos artigos de imprensa ao longo dos derradeiros dias. Somos avisados, já depois do leite derramado, acerca de que a evolução da tecnologia informática colocou a clássica censura no lixo. Além de que poucas cartas se escrevem para ser enviadas pelos serviços postais, nem sequer é necessário ouvir ou gravar directamente as conversas telefónicas.

Sabe-se que todo o correio electrónico, e qualquer documento transmitido por via electrónica, além dos telefonemas e conteúdos pessoais nas redes sociais, são constantemente contrastados por servidores automáticos que, por meio de palavras-sinal (os tais algoritmos) gravam, seleccionam, arquivam e oferecem, seja a organismos oficiais, oficiosos ou particulares, enormes quantidades de detalhes pessoais, que podem ser úteis a terceiros sem que o visado tenha conhecimento e muito menos autorizado.

A primeira recomendação que nos fazem aqueles que sabem que outros sabem, ou podem sabem, é o de não referir, voluntariamente, pormenores da nossa vida pessoal, familiar e profissional, incluídos os nossos passatempos preferidos. Que evitemos disseminar pormenores pois que nunca podemos prever a que propósito lhes podem interessar.

Pessoalmente e dado que sei estar de partida, já em nada me afecta que seja quem for confirme que sou, intrínseca e visceralmente, um “hilário”, um “piadético” empedernido e irrecuperável, e que não me envergonho desta característica dado que desde muitas décadas atrás (mesmo desde a escolinha pré-primária) isto é do conhecimento geral.

Além do mais estou convencido de que um cómico, um palhaço se descermos na qualificação, só pode ser bom no que faz se, enquanto actua, diverte-se. Nota-se que está na onda e gosta do seu trabalho quando altera os seus números com emendas que lhe surgem espontaneamente. No teatro de revista dizia-se que estas inclusões,inesperadas mas aguardadas, se referiam como "buchas"

Para quem seja curioso confesso, sem me envergonhar, que inclusive quando estou só, desfruto fazendo palhaçadas e dialogando (em monólogo) tontices para o meu exclusivo gaudio. Já devia estar isso na minha ficha pidesca.

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