Se
atendermos ao dicionário o termo ESTIGMA correspondem, entre outras aceitações: Marca infamante feita com ferro em brasa
(livra ! Como nos romances de
Alexandre Dumas e similares!) cicatriz; ferrete, sinal
infamante. Prefiro adotar uma
interpretação mais de acorde com as letras de alguns fados
castiços: Ter o destino marcado.
Pois
eu, sem nunca ter chegado ao nível de um “entretainer”
pago e procurado, desde os tempos da primária que fui classificado
como “engraçado”, que era capaz, e com certa frequência, de
sacar bico não só ao lápis de pau, mas também a uma situação ou
a uma conversa que, para os outros presentes não dava azo a um
trocadilho gracioso. Concretando, que fazia rir a assembleia constituinte.
Todavia
esta capacidade, espontânea, nunca conseguí que se mostrasse “a
pedido”. As graças surgem no meio de uma conversa, e também em
situações em que não se considera serem as adequadas para gerar e
transmitir graçolas. Quanto mais séria fosse a situação em que me
encontrasse, aquele respeito geral, do qual não acreditava ser real,
mais incitava a ver, entre os assistentes uma personagem que
destacasse, fosse por dormir e ressonar, ou por fazer limpeza às
narinas, entre outras atitudes. Podia ser o reparar que “ele”
apalpava o nalguedo da sua vizinha, nomeadamente se esta não fosse a
sua companheira oficial, sem que ninguém se desse por achado.
Já sabemos que funerais e outras cerimónias "respeitáveis", sejam religiosas ou civis, prestam a incitar apartes que não estão propriamente ao nível do momento. Mas precisamente são nestas alturas de manter um digno e respeitoso recolhimento que mais me pica a vontade de soltar uma barbaridade.
Esta dissertação a laia de introito foi a consequência de ter lido certos artigos de imprensa ao longo dos derradeiros dias. Somos avisados, já depois do leite
derramado, acerca de que a evolução da tecnologia informática
colocou a clássica censura no lixo. Além de que poucas cartas se
escrevem para ser enviadas pelos serviços postais, nem sequer é
necessário ouvir ou gravar directamente as conversas telefónicas.
Sabe-se
que todo o correio electrónico, e qualquer documento transmitido por
via electrónica, além dos telefonemas e conteúdos pessoais nas
redes sociais, são constantemente contrastados por servidores
automáticos que, por meio de palavras-sinal (os tais algoritmos)
gravam, seleccionam, arquivam e oferecem, seja a organismos oficiais,
oficiosos ou particulares, enormes quantidades de detalhes pessoais,
que podem ser úteis a terceiros sem que o visado tenha conhecimento
e muito menos autorizado.
A
primeira recomendação que nos fazem aqueles que sabem que outros
sabem, ou podem sabem, é o de não referir, voluntariamente,
pormenores da nossa vida pessoal, familiar e profissional, incluídos os nossos passatempos preferidos. Que evitemos disseminar pormenores pois
que nunca podemos prever a que propósito lhes podem interessar.
Pessoalmente
e dado que sei estar de partida, já em nada me afecta que seja quem
for confirme que sou, intrínseca e visceralmente, um “hilário”,
um “piadético” empedernido e irrecuperável, e que não me
envergonho desta característica dado que desde muitas décadas atrás
(mesmo desde a escolinha pré-primária) isto é do conhecimento
geral.
Além
do mais estou convencido de que um cómico, um palhaço se descermos
na qualificação, só pode ser bom no que faz se, enquanto actua,
diverte-se. Nota-se que está na onda e gosta do seu trabalho quando altera os seus números com emendas que lhe
surgem espontaneamente. No teatro de revista dizia-se que estas inclusões,inesperadas mas aguardadas, se referiam como "buchas"
Para
quem seja curioso confesso, sem me envergonhar, que inclusive quando
estou só, desfruto fazendo palhaçadas e dialogando (em monólogo)
tontices para o meu exclusivo gaudio. Já devia estar isso na minha
ficha pidesca.
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