Confidências
muito reservadas
- Zé, sabia antes de casarmos, não
só por experiência contigo mas também pela fama que arrastavas
atrás de ti, que eras um bode, um fauno insaciável. Mas, homem,
tudo o que é demais é moléstia, tem um pouco de senso e
recorda os anos que já te deviam pesar, pelo menos em teres mais
contenção quanto aos instinto machistas acerbados -e
quem diz tinto, pode referir branco, palhete ou espumoso, tanto
faz dar-lhe na cabeça como na cabeça lhe dar-
Procura ter mais calma, pois estás a exigir de mais dos meus
interiores. VAIS DAR CABO DE MIM! É que se estou por perto não te
contentas com uma, duas, nem três! E se estiver menos vestida, por
assim dizer, então não escapo do tratamento,nem que seja no meio do
corredor, contra a parede!
Compreende que uma mulher gosta de
ser desejada, mas tudo tem o seu peso e medida. Com a falecida
Constança também te comportavas assim?
- Luísa, querida, deve ser o impulso do corpo para aproveitar a capacidade sexual enquanto posso. Mas com esta desculpa esfarrapada não te convenço minimamente, pois a bem da verdade tenho que reconhecer que desde a adolescência sempre andei louco pelas saias, ou mais concretamente, pelo paraíso que existia debaixo delas. Não te contarei as minhas aventuras “galantes” em idade de rapaz, tanto na Guarda como em Coimbra. Teria que fazer um esforço titânico para colocar os factos numa ordem cronológica minimamente correcta.Só te digo que seja pela figura ou pelocomportamento galante e respeitador que sempre mantive com qualquer rapariga ou mulher, viesse ela de onde fosse e pertencesse a qualquer estrato social, quando as queria galar todas eram peixe para apanhar na minha rede. Jamais me servi de uma prostituta. Foram sempre borlas consentidas e até desejadas. Mesmo depois de casado mantive esta atitude, e não me arrependo.
Mas não fujo à tua seta envenenada, em que colocaste a Constança na berlinda (1). Penso que unindo alguns comentários soltos deves ter feito uma composição de como a falecida esposa entrou neste País quando o seu pai, Serafim de Sousa decidiu deixar o Brasil, vendendo todos os seus bens e trazendo com ele, para a terra onde nasceu, ou melhor para Coimbra pois de trás-os-montes não tinha saudades.
- Luísa, querida, deve ser o impulso do corpo para aproveitar a capacidade sexual enquanto posso. Mas com esta desculpa esfarrapada não te convenço minimamente, pois a bem da verdade tenho que reconhecer que desde a adolescência sempre andei louco pelas saias, ou mais concretamente, pelo paraíso que existia debaixo delas. Não te contarei as minhas aventuras “galantes” em idade de rapaz, tanto na Guarda como em Coimbra. Teria que fazer um esforço titânico para colocar os factos numa ordem cronológica minimamente correcta.Só te digo que seja pela figura ou pelocomportamento galante e respeitador que sempre mantive com qualquer rapariga ou mulher, viesse ela de onde fosse e pertencesse a qualquer estrato social, quando as queria galar todas eram peixe para apanhar na minha rede. Jamais me servi de uma prostituta. Foram sempre borlas consentidas e até desejadas. Mesmo depois de casado mantive esta atitude, e não me arrependo.
Mas não fujo à tua seta envenenada, em que colocaste a Constança na berlinda (1). Penso que unindo alguns comentários soltos deves ter feito uma composição de como a falecida esposa entrou neste País quando o seu pai, Serafim de Sousa decidiu deixar o Brasil, vendendo todos os seus bens e trazendo com ele, para a terra onde nasceu, ou melhor para Coimbra pois de trás-os-montes não tinha saudades.
Vinha acompanhado da sua filha,
ainda uma criança do poucos anos, cuja mãe faleceu pouco depois do
parto e a filha foi criada por uma ama, preta retinta, que o Serafim
tinha engravidado. Diz-se que propositadamente sabendo da fraca
resistência da esposa. A Constança nunca referiu que tinha um irmão
no Brasil, de leite e de pai. São coisas incómodas que convêm
esquecer, nem sequer citar.
Em chegando a Coimbra e no intuito
de acompanhar o conservadorismo que, logo ao chegar, verificou que
existia no sei da elite conimbricense, nomeadamente pelo núcleo
fechado a sete chaves que lá existia, onde só uns tantos velhos
fidalgos ou novos ricos já instruídos, gastadores e com filhos para
casar (filhas solteiras era o
que sobrava!) é que mereciam um abrir de portas naquele
núcleo tão exclusivo e fechado a sete chaves que existia naquela
cidade.
Serafim de Sousa, que sempre foi
lesto como uma gineta (também conhecido como gato bravo)
travestiu-se rapidamente num seguidor convicto e rigoroso dos
preceitos da Igreja Católico, esquecendo o facto de ser elemento
graduado da Loja Maçónica da Baía. Pensou, e bem, que mais adiante
poderia bater à porta de uma loja de Portugal. De preferência
aquela que lhe fosse referida como sendo a mais importante no centro
do Pais. Para não perder tempo solicitou (apoiado
numa “esmola”) a sua entrada, como membro activo, na
confraria do Sagrado Coração de Jesus, que foi a que lhe recomendou
o Sr. Bispo quando lhe foi apresentar os seus cumprimentos após ter
regressado do Brasil. Tal como Serafim dizia entre dentes, para os
seus botões do gilé (peça do terno que corresponde
ao hoje denominado colete, já em desuso), Não basta
viver, é preciso saber viver!
E assim a Constança, criança que
falava em brasileiro, foi separada dos braços da sua ama e entregue
à Madre Superiora do Convento. A tal ama de leite, -com
café sempre eu disse- ficou na casa do Sousa recluída na
cozinha como ajudante, e com autorização de subir até o leito do
patrão quando ele a requisitasse. Não tardou em morrer de tristeza
e saudade. Foi enterrada no talhão dos indigentes, sem identificar.
Constança foi educada nas regras,
rígidas, das Carmelitas. Ali aprendeu a bordar, tocar piano, uns
rudimentos de pintura e francês, além de papaguear o castelhano com
que as irmãs falavam entre si. Nunca perdeu o lindo cantar da fala
brasileira. Ali atingiu a puberdade, o passar ao estatuto de mulher
pretensamente fértil. Já então o colégio conseguiu a autorização
para leccionar o primeiro e segundo ciclos do liceu. Constança,
quase que abandonada pelo pai, mas com as mesadas religiosamente
pagas, continuou naquela quase reclusão.
As únicas saídas consentidas, por
falta de familiares que a procurassem, eram as idas à igreja, a Sé
principalmente, as vistas múltiplas a templos na Semana Santa e uns
poucos passeios, para a colina da saudade, choupal e pouco mais. E
sempre acompanhadas e vigiadas pelas freiras mais velhas, permanente
de olhos postos não só nas alunas a seu cuidado mas,
principalmente, no comportamento das noviças, pois sabiam que estas,
tendo o sangue ainda quente, desviavam o olhar para o cruzar com o
dos estudantes, que como moscardos sempre rondavam estas colunas de
meninas. Já foram várias as noviças, que entraram empurradas pelas
famílias e curas, que chegadas à cidade se escaparam com algum
estudante. Alguma casou, e outras ficaram por aí, até com filhos
nos braços...
Eu era um destes fardados de capa e
batina, como os seminaristas, que andava à caça. Ali havia peças
muito apetecíveis e alguns dos colegas tinham conseguido resgatar
alguma menina. Se outros tinham sucesso eu também o teria! Além de
seguir os passeios higiénicos, um local bom donde estender as redes
era nos templos. Procurava ficar na fila seguinte ao do grupo, e não
tardei em fixar os olhos naquela moça tão diferente, que vim a
saber se chamava Constança. Não tardou em nos tornar espertos nas
trocas de mensagens; fossem papelinhos ou olhares com pálpebras meio
fechadas, para disfarçar.
Segue
no capítulo LIII
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