terça-feira, 1 de maio de 2018

CRÓNICAS DO VALE – CAP. 45



O que farei em AVEIRO? E em ÁGUEDA? Terrenos industriais, caçar ideias de aplicação de capital; prestar ajuda no encaminhar os menos experientes e pouco expeditos na abordagem de ministérios e entidades oficiais, sempre dispostas a lixar se não engodarmos certos bolsos. Ou seja servir de intermediário batido nos corredores e gabinetes. Para possibilitar o meu trabalho conto, desde sempre, com a noção bem fundamentada, de que quem vai à sorte e sem padrinhos será sempre torpedeado.

De facto esta deslocação “de trabalho”, sem estar acompanhado da Luísa e ainda com uma (practicamente premeditada) facada no matrimónio, não está a decorrer coma mente concentrada no trabalho como era meu costume. Não estou satisfeito comigo. E tendo tempo morto para meditar no rumo que devo tomar na minha vida levou-me a decidir que, sem dúvida nem hesitação, é mais do que altura para entrar uma orientação nova. E mais, estas coisas tem que se fazer drasticamente, ao estilo de a Rei morto, Rei posto.

Aliás, de uma forma subtil e paulatina já tinha iniciado, há anos, esta mudança. Como é evidente pelo facto de ter mantido os meus filhos alheios dos “negócios” menos transparentes. Os acontecimentos recentes na mata da mansão na Vila do Pito, mais o aviso insinuado pelo inspector Dr. Sílvio Cardoso, que mostrou ser mais amigo nosso do que eu imaginava, torna urgente a decisão de abandonar, por completo, certos negócios que já herdei dos meus ancestrais.

Sendo assim reduzirei a minha actividade à gestão do meu pecúlio, tanto bancário como imobiliário, abandonando o movimento nas fronteiras. Manter a consultoria e ser intermediário em terrenos rurais, urbanos e industriais, assim como na transacção de naves industrias após a falência de empresas. Sempre seguindo as “boas regras da arte”, apesar de estar ciente de que uma boa parte dos grandes negócios é feita SEMPRE por baixo da mesa. Mas quero ter uma vida tranquila, sem sobressaltos. Existe o risco de estar na mira nesta altura. Com mais atenção da que já, dos tempos do avô Francisco/Paco e do meu pai. O Dr. Cardoso não podia ser mais claro, e se surgir uma oportunidade sigilosa tentarei dizer que já estou num perfil mais baixo, menos escorregadio.

Tomada esta decisão a minha passagem tanto por Aveiro como por Águeda, Mangualde, Guarda e Tondela terá como tema principal, e quase único, noticiar da minha decisão, imediata, de abandonar certas ramas do negócio tradicional dos Maragato. Mas pontuando que vou dar uma atenção redobrada ao sector imobiliário, pelo que manterei o interesse em continuar com a sua colaboração, assim o desejarem. Dentro de outros moldes, já se entende.

No regresso passarei por Santa Comba no intuito de sondar alguns conhecidos quanto a possibilidade de terem conhecimento, nem que fosse por boatos de café, do local onde se realizaram festas de arromba, ou mais concretamente bacanais de índole sexual e jogo clandestino, pois eu tenho um palpite, quase certeza, de que estes mortos foram transferidos desde o lado norte da serra do Buçaco até a zona do Vale do Pito. E curiosamente, sem eu entender as razões, se as houve, em terrenos de minha propriedade.

Tal como estava previsto o encontro profissional em Aveiro foi rápido. Mas constituiu uma surpresa para o meu elemento local, que deixava de vez os transportes marítimos e terrestres de artigo “pesados”., embora o próximo navio com material para nós seria o último. Ou seja, que neste campo pedi a reforma a mim mesmo. O que não impede de que, sem dúvida, ainda nos veremos e faremos contas mais umas vezes, e que conto com ele noutras actividades onde sei que me poderá dar uma ajuda.

A Luísa já está sentada numa mesa junto à montra, como boa e respeitável senhora casada, que é. Já estavas à espera há muito? Vim o mais depressa que pude e até te posso anunciar que dei uma volta aos meus assuntos, de uma forma que te vai agradar. E de tal modo inesperada que altera todo o esquema vigente até agora. Sendo assim o que queria propor, antes de que me esqueça ao te olhar com tanta saudade, é que gostaria que me acompanhasses nos quilómetros que faltam. O que decides, assim de repente?
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Já não é sem tempo! Pois claro que desde que temos um viver juntos, fosse devido ao casamento civil ou por me apresentares como esposa, não me satisfaz saber que andas por aí sozinho, ou mal acompanhado, pois que não vou pensar que a tua vida antes desta união formal não era, por assim dizer, tão dissoluta como se pode imaginar por parte de um homem vivido e sem compromissos conjugais. A forma como entraste na minha vida mostrou bem que dominavas as tácticas todas.

Por mim está bem o que propões. Ficarei no carro enquanto conversas com os teus “clientes”, e darei uma olhada nesta revista de mexericos que comprei por tua indicação, e que na pastelaria nem tive tempo de folhear as primeiras páginas. Só tenho um pequeno problema. Não vim preparada com bagagem para passar nem sequer uma noite fora. Por isso terei que fazer umas pequenas compras. Nada de volume, escova dental, pasta, laca, umas cuecas e pouco mais. Caberá tudo num saco de loja. Tanto pode ser aqui em Aveiro como mais adiante. Onde te calhar melhor deixar-me uma meia hora disponível.

´Óptimo. Mas e a beijoca de cumprimento caseiro? Já te deixaste disso? Toma lá, na tua gostosa boca, e não nas faces, para dissipar as más interpretações de que este fosse um encontro fingidamente casual, mas dos avançados.

Como sempre mostras ser uma excelente companheira. Eu já trazia programado fazer um desvio por Águeda, mais na zona industrial do que no centro, mas depois passaremos por Mangualde e na zona de comércio de rua, a não ser que prefiras perguntar por um centro comercial de jeito, poderás te abastecer do que precisas. Deixo-te dinheiro?

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