O
que farei em AVEIRO? E em ÁGUEDA? Terrenos industriais, caçar
ideias de aplicação de capital; prestar ajuda no encaminhar os
menos experientes e pouco expeditos na abordagem de ministérios e
entidades oficiais, sempre dispostas a lixar se não engodarmos
certos bolsos. Ou seja servir de intermediário batido nos corredores
e gabinetes. Para possibilitar o meu trabalho conto, desde sempre,
com a noção bem fundamentada, de que quem vai à sorte e sem
padrinhos será sempre torpedeado.
De
facto esta deslocação “de trabalho”, sem estar acompanhado da
Luísa e ainda com uma (practicamente premeditada) facada no
matrimónio, não está a decorrer coma mente concentrada no trabalho
como era meu costume. Não estou satisfeito comigo. E tendo tempo
morto para meditar no rumo que devo tomar na minha vida levou-me a
decidir que, sem dúvida nem hesitação, é mais do que altura para
entrar uma orientação nova. E mais, estas coisas tem que se fazer
drasticamente, ao estilo de a Rei morto, Rei posto.
Aliás,
de uma forma subtil e paulatina já tinha iniciado, há anos, esta
mudança. Como é evidente pelo facto de ter mantido os meus filhos
alheios dos “negócios” menos transparentes. Os acontecimentos
recentes na mata da mansão na Vila do Pito, mais o aviso insinuado
pelo inspector Dr. Sílvio Cardoso, que mostrou ser mais amigo nosso
do que eu imaginava, torna urgente a decisão de abandonar, por
completo, certos negócios que já herdei dos meus ancestrais.
Sendo
assim reduzirei a minha actividade à gestão do meu pecúlio, tanto
bancário como imobiliário, abandonando o movimento nas fronteiras.
Manter a consultoria e ser intermediário em terrenos rurais, urbanos
e industriais, assim como na transacção de naves industrias após a
falência de empresas. Sempre seguindo as “boas regras da arte”,
apesar de estar ciente de que uma boa parte dos grandes negócios é
feita SEMPRE por baixo da mesa. Mas quero ter uma vida tranquila, sem
sobressaltos. Existe o risco de estar na mira nesta altura. Com mais
atenção da que já, dos tempos do avô Francisco/Paco e do meu pai.
O Dr. Cardoso não podia ser mais claro, e se surgir uma oportunidade
sigilosa tentarei dizer que já estou num perfil mais baixo, menos
escorregadio.
Tomada
esta decisão a minha passagem tanto por Aveiro como por Águeda,
Mangualde, Guarda e Tondela terá como tema principal, e quase único,
noticiar da minha decisão, imediata, de abandonar certas ramas do
negócio tradicional dos Maragato. Mas pontuando que vou dar uma
atenção redobrada ao sector imobiliário, pelo que manterei o
interesse em continuar com a sua colaboração, assim o desejarem.
Dentro de outros moldes, já se entende.
No
regresso passarei por Santa Comba no intuito de sondar alguns
conhecidos quanto a possibilidade de terem conhecimento, nem que
fosse por boatos de café, do local onde se realizaram festas de
arromba, ou mais concretamente bacanais de índole sexual e jogo
clandestino, pois eu tenho um palpite, quase certeza, de que estes
mortos foram transferidos desde o lado norte da serra do Buçaco até
a zona do Vale do Pito. E curiosamente, sem eu entender as razões,
se as houve, em terrenos de minha propriedade.
Tal
como estava previsto o encontro profissional em Aveiro foi rápido.
Mas constituiu uma surpresa para o meu elemento local, que deixava de
vez os transportes marítimos e terrestres de artigo “pesados”.,
embora o próximo navio com material para nós seria o último. Ou
seja, que neste campo pedi a reforma a mim mesmo. O que não impede
de que, sem dúvida, ainda nos veremos e faremos contas mais umas
vezes, e que conto com ele noutras actividades onde sei que me poderá
dar uma ajuda.
A
Luísa já está sentada numa mesa junto à montra, como boa e
respeitável senhora casada, que é. Já estavas à espera há muito?
Vim o mais depressa que pude e até te posso anunciar que dei uma
volta aos meus assuntos, de uma forma que te vai agradar. E de tal
modo inesperada que altera todo o esquema vigente até agora. Sendo
assim o que queria propor, antes de que me esqueça ao te olhar com
tanta saudade, é que gostaria que me acompanhasses nos quilómetros
que faltam. O que decides, assim de repente?
-
Já
não é sem tempo! Pois claro que desde que temos um viver juntos,
fosse devido ao casamento civil ou por me apresentares como esposa,
não me satisfaz saber que andas por aí sozinho, ou mal acompanhado,
pois que não vou pensar que a tua vida antes desta união formal não
era, por assim dizer, tão dissoluta como se pode imaginar por parte
de um homem vivido e sem compromissos conjugais. A forma como
entraste na minha vida mostrou bem que dominavas as tácticas todas.
Por
mim está bem o que propões. Ficarei no carro enquanto conversas com
os teus “clientes”, e darei uma olhada nesta revista de mexericos
que comprei por tua indicação, e que na pastelaria nem tive tempo
de folhear as primeiras páginas. Só tenho um pequeno problema. Não
vim preparada com bagagem para passar nem sequer uma noite fora. Por
isso terei que fazer umas pequenas compras. Nada de volume, escova
dental, pasta, laca, umas cuecas e pouco mais. Caberá tudo num saco
de loja. Tanto pode ser aqui em Aveiro como mais adiante. Onde te
calhar melhor deixar-me uma meia hora disponível.
´Óptimo.
Mas e a beijoca de cumprimento caseiro? Já te deixaste disso? Toma
lá, na tua gostosa boca, e não nas faces, para dissipar as más
interpretações de que este fosse um encontro fingidamente casual,
mas dos avançados.
Como sempre mostras ser uma
excelente companheira. Eu já trazia programado fazer um desvio por
Águeda, mais na zona industrial do que no centro, mas depois
passaremos por Mangualde e na zona de comércio de rua, a não ser
que prefiras perguntar por um centro comercial de jeito, poderás te
abastecer do que precisas. Deixo-te dinheiro?
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