segunda-feira, 7 de maio de 2018

CRÓNICAS DO VALE – cap 51


Quando será o encontro com a PJ?

- Bom dia. Tu dormistes bem, pelo menos pelo que pude observar nas fases de insónia que padeci. Uma estupidez, perder o sono quando sabemos que não está na nossa mão eliminar certas preocupações. Mas o que vejo em ti é que tens a cara num espelho de sossego e bem estar, coisa que celebro, sem inveja.-

- Pois eu lamento que tenhas tido “sonhos maus”. Sentia-se que estavas nesta fase onírica pela agitação incontrolada com que reagias a não sei que agressões. Mas acabaste por adormecer, que é o mais importante.
  • - Numa história apócrifa, do estilo das anedotas brancas, referia de um sujeito que era capaz de comer, de uma assentada, um cabrito assado. Mas, acrescentava ele, à força de pão caseiro e vinho tinto. Pois eu, se retomei o sono, foi à força dum comprimido milagroso, de uma droga, sem tirar nem por.
  • Vamos ao que interessa: O que tratei em Aveiro, ou mais propriamente do ouvi da boca do Rei dos ciganos desta zona. Poucas novidades; o mais importante foi que confirmou as minhas suspeitas de que por estas bandas, e sem darem muito nas vistas, andam uns sujeitos que, além de encorpados e com aspecto de terem um treino militar das chamadas forças especiais, não se mostram muito sociáveis com os naturais com quem se cruzam. Despedimo-nos com demonstrações de amizade e propósitos de colaborar no sentido não só de esclarecer o assunto dos mortos como no mais difícil, de afugentar estes indesejáveis (eu acrescento que com a nossa malandragem, incluídos os ciganos, já nos chega e sobra)
       O que veio a seguir conheces em primeira mão.
  • Mal dermos conta das respectivas higienes corporais e engolirmos alguns alimentos para nos fornecer energia até o almoço, vou tratar de uma coisa que devia ter feito de imediato e que, com os nervos que nos causaram os acontecimentos, não tratei devidamente. Foi um descuido que é necessário corrigir.
  • Irei ao posto da GNR para denunciar ter sido alvo, por desconhecidos, de um abuso e ofensa ao nos colocarem os corpos de dois mortos, ambos com evidentes sinais de terem sido assassinados, em local desconhecido, antes de nos fazerem estas ofertas macabras, nos nossos terrenos. Quero que conste isto como uma queixa-crime, da qual desejo que siga o circuito que cabe e vir a ter uma resposta condigna.
  • Após feita esta diligência solicitarei um documento, nem que seja uma fotocópia, que sirva de comprovativo para futuro seguimento. Entre nós admito que esta acção não terá qualquer efeito; mas pode servir, pelo menos, para confirmar que não deixamos esquecer esta ofensa. Só depois de ter este papel é que decidirei se me apresento na PJ de Coimbra, embora preferiria que a convocação viesse de lá.
      Felizmente tenho pouco conhecimento de como funcionam os serviços da        PJ, e já te disse que o mais provável é que em muitos inquéritos existam          denúncias ou testemunhas ocultas, bufos como se diz na gíria. Mas por              enquanto não tenho o espírito adaptado à ideia de ir lá, bater à porta, e dizer:   Senhores, aqui está este cidadão, mais um representante idóneo de uma     extensa família de indivíduos de etnia cigana, com vontade de poder colaborar   com os vossos serviços para tentar e conseguir, se for possível, esclarecer       quem foram os autores do duplo assassinato, e se existiu um mandatário para   este trabalho. Neste caso, certamente a PJ não deixará de procurar como       surgiu a decisão de eliminar duas pessoas e quem é o primeiro responsável.

Não posso entrar neste departamento policial de primeira magnitude como se fosse comprar bilhetes para o teatro. Uma proposta deste teor carece de ter previamente um ambiente favorável. A frio é difícil que pegue, e eu não estou para receber um vexame. Assim como não quero sujeitar o Ortega a uma desfeita. Temos que aguardar que a bola entre no nosso campo.

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