quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

MEDITAÇÕES - Mare magnum


MEDITAÇÕES - Mare magnum

ESTÁ AI UMA GRANDE CONFUSÃO. Ou nem por isso.

Mas estejam tranquilos. Como tem sido sempre neste Jardim, aqui não vai acontecer nada.

Mas, mesmo que esta afirmação tenha uma enorme probabilidade de estar certa, o que se sente, mesmo sem fazer inquéritos à opinião pública (que raramente sabe o que deve opinar, ou erra nas suas conclusões) que existe um enorme desnorte entre a maioria da população, a tal anódina. E para promover e manter esta falta de reacção cívica, esta apatia factual, contam com a colaboração, sem dúvida eficaz, dos canais generalistas e dos jornais futebolísticos. Mais os programas, ditos de “desportivos”.

É possível que o tsunami que surgiu com as revelações sobre a fortuna da rainha Isabel III, e de como se insinua (quem é que se atreve a apontar o dedo sem receio de represálias?) acerca da extensa rede de personalidades deste Portugalito (como lhe chama um meu amigo) que colaboraram (gratuitamente? Por amor à arte, ou enfeitiçados pelas covinhas? coisas que duvido) no crescimento acelerado, quiçá inédito, desta imensa fortuna.

No que nos concerne directamente, em verdade devemos reconhecer que a descapitalização do Estado, apesar de que já estava nas lonas desde antes, se acentuou com a entrada na Comunidade Europeia e o aceitar dinheiros para mal-gastar em troca de desindustrializar o pouco que se tinha conseguido desde os Planos de Fomento de Salazar. Venderam-se barato e certamente que com luvas de pelica, todas as empresas que deveriam ser recuperadas, reestruturadas, com a ajuda (simpática, mas nem por isso desinteressada, dos novos parceiros) das verbas enviadas desde Bruxelas, e "criteriosamente" derretidas sem proveito para o País.Todos os cidadãos deveriam estar cientes de que aqui tivemos como se diz, um repasto de fartai vilanagem. Com a diferença de que estes “vilões” não eram só pacóvios de barrete, mas antes senhores de casaca e gravata de seda. E mesmo assim, para conseguir o que se pretendia, tiveram que consentir que alguns recém chegados se aproveitassem do festim. Sempre foi tradição de que desde a mesa dos sátrapas se deixassem cair bocados para os cães fieis.

São tantos os nomes que saltam para os noticiários (e de imediato se faz tudo o que lhes é possível para que se sumam no nevoeiro) e mereçam, por poucas horas, letras grandes de atenção, que o cidadão vulgar, comum, já só entra em alerta de pouca dura. Esta capacidade de se desentender dos factores que prejudicam a cidadania anónima é uma pedra fundamental para manter a estrutura do poder silencioso em pé.

Para os próceres da boa sociedade estas breves chamadas ao palco, mesmo que se anunciem como serem mais propícias para receber apupos e hortaliça estragada do que aplausos, não os pode conduzir a um corte de digestão, e muito menos a se deslocarem, com armas e bagagens -o seu capital já avançou com previsão e cautela- para o Brasil.

Sabem, “eles” que a “Justiça”, que os seus companheiros armaram, os defende. Que é practicamente impossível que a situação se aproxime de decidir no sentido do bem da população anónima. Os livros de códigos oferecem mais furos para afundar os bons propósitos do que as famosas naus em se afirma que o Marquês de Pombal mandou embarcar, rumo a Roma, os jesuítas que constantemente conspiravam, e governavam, na corte.

Daí que “o povo” só pode ter ilusões de, finalmente, surgir o sol neste negrume. Já antes de que este “escândalo, morto à nascença”, permitiam, com notícias que denunciavam negociatas escandalosas, sempre em desfavor das finanças públicas e, por tabela, das necessidades da população -que continua vegetando nos lugares mais inferiores nas tabelas que nos comparam, sob múltiplos aspectos, com os países “nossos companheiros”- Sempre foram fogachos de entreter, como as fogueiras de São João ou agora os recuperados Madeiros de Inverno.

Os nossos guias, eleitos ou encumeados pela sua capacidade de singrar em águas turvas e denso nevoeiro, sabem, perfeitamente, quais são os valores que nos colocam no fundo da tabela, e até prometem que vão remediar isso. Em verdade “eles” sabem que o povo está sereno e que continuam a consentir sem refilar - incitados com promessas que antes de as fazer já sabem nunca serão cumpridas- Que tais notícias incitam os anónimos a salivar, imaginando que, finalmente, terão a justiça que merecem. Que chegou o momento de que os abusadores serão caçados e devidamente castigados. Tanto os conhecidos como os que se suspeita que se conseguem manter atrás do pano. A ilusão ajuda a aguentar a canga.

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