TENTATIVA DE ADIVINHAR O PRÓXIMO FUTURO
São
frequentes os artigos onde se especula acerca do futuro que estamos
construindo -um plural magistrático que não abrange a todos, mas
apenas aos directamente implicados, apesar de que os apáticos, ou os
que não sabem como agir para se opor, também merecem ser inculpados
, nem que seja por aquilo de que quem cala consente-
ameaça degradar a importância que as pessoas sempre tiveram na condução do trabalho e de qualquer actividade em que as suas
decisões tem sido importantes.
Alertam-nos sobre a inevitabilidade
de os automatismos, em implantação acelerada, reduzirem o número
de pessoas activas em muitas tarefas hoje correntes. Mas sem negar
esta evidência, pode-se imaginar que as máquinas se ocuparão de
todos os capítulos, ou chegar-se a um equilíbrio favorável? Seja
qual for a progressão do automatismo, temos que admitir que pessoas
continuarão a existir, a nascer, viver e morrer e que na humanidade
ainda não se vislumbra o chegar ao total automatismo robótico.
Implicaria o domínio total da inteligência artificial sobre a
espécie humana
Aqueles autómatos domésticos,
deslocando-se sobre rodas pela casa, e que em muitas ilustrações
futuristas, tem um aspecto caricatural de pessoas, inclusive com
roupa, e “inté” falam numa voz pouco humana, não se vulgarizou.
Por enquanto. Para os conceber, construir e reparar estão
dependentes de humanos
Mas por este caminho já se avançou
bastante. Pessoas das zonas económicamente pujantes, com idade
inferior a quarenta, nem conseguem imaginar o esforço e sacrifício
que implicava a lavagem de roupa feita manualmente ! Hoje existe uma
multiplicidade de máquinas automáticas que se encarregam desta
tarefa cansativa. Mesmo assim é necessário separar as peças a
lavar consoante os cuidados com que devem ser tratados; carregar e
programar a máquina pessoalmente em conformidade com o tipo de roupa
a lavar; mais o detergente a usar; descarregar e depois, secar a
brunir ou passar, que é a mesma coisa. Por mais que evoluir na
robótica a mente humana e as capacidades de adaptação implícitas
serão de grande importância.
Por
muito sofisticada que seja uma programação existirá sempre
um
momento em que a opção a seguir estará pendente do raciocínio do
operador. Tentando dar um exemplo citarei, sem concretizar, as
notícias que apontam para viaturas automóveis, evoluídas dos
carros de passageiros e de transporte colectivo, e até de
mercadorias, que após lhes aplicarem automatismos, cuidadosamente
programados, podem circular pelas estradas em absoluta segurança.
Será assim? Por enquanto receio que poucos aceitariam ser
passageiros de um veículo totalmente robotizado. Que pudesse reagir
imediatamente a situações imprevistas e perigosas, tomar opções repentinas.
Que o automatismo vai ferir a
actividade humana é aceite como algo inevitável. Mas daí a nos
colocar, a todos, numa prateleira por sermos dispensáveis... Ou
seja, ferir, ferirá, mas matar... nunca. Toda a evolução será
feita pensando na rentabilidade dos processos, e o custo de um
operador, ou uma série deles, será o primeiro factor a ponderar. Em
princípio ficarão reservadas para os humanos as tarefas situadas
nos dois extremos.
Por um lado a concepção e
programação dos automatismos, e no lado oposto tudo aquilo que for
mais penoso e desgastante para o nosso corpo, mas difícil de
automatizar (como, por exemplo, o desmontar para sucata um
petroleiro em fim-de-vida) com a agravante de que são, e serão,
as pior remuneradas.
Sem nos delimitar nos extremos a
realidade nos mostra que na maioria dos casos o trabalho humano, não
tecnológico, aquele que pode ser feito por pessoas não
especializadas ou facilmente substituíveis na bolsa de
desempregados será cada dia mais mal retribuído. De modo semelhante
quando se gera um excesso de especialistas com pouca procura, muitos
terminam aceitando postos de trabalho, em princípio, abaixo das suas expectativas.
Mas, em compensação, continuarão
e ser necessários, e muito procurados, os operários especializados,
seja em electrotecnia, soldaduras especiais, programação,
instrumentação, manutenção de equipamentos, metalúrgicos,
fundidores, e muitas especialidades de apoio às temíveis novas
tecnologias. O leque salarial que se vai instalar para estes
especialistas não poderá ser inferior ao que auferirão os das novíssimas profissões, pois tal como sempre aconteceu, por detrás
da vedeta que está no palco é imprescindível uma equipa de apoio
sine qua non.
Onde existirá um retrocesso social
será quando se institucionalizar a existência de uma nova espécie
de escravidão onde militarão os mais esquecidos, os que terão que
aguentar com os trabalhos mais penosos e perigosos que nem os
autómatos poderão executar,
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