As escolhas da vida
A
representação gráfica, ou até tridimensional, dos percursos
correctamente preparados par nos dar a sensação de que temos livre
escolha, nunca os abordamos como sendo uma representação da vida de
cada um. O sinal mais evidente reside no facto de não ser possível
o retorno ao ponto de partida. Um labirinto bem desenhado exige de
nós uma escolha, em geral com opção dupla, de sim ou não, e mais
raramente surge uma opção tripla. A única possibilidade que nos dá
de tentar compor um erro e poder tentar novamente é quando nos
encontramos num beco sem saída.
O
que é sempre sintomático no labirinto da nossa vida real é que
entramos nele no momento em que já temos capacidade para decidir,
em que o acertar ou errar esteve nas nossas mãos como um
interruptor. E as escolhas, as decisões, sejam elas importantes ou
banais, só terminam no momento em que o nosso coração recebe a
ordem de parar o seu contínuo bombar da fluxo de vida. Normalmente
dizemos que este fim da linha coincide com o fechar dos olhos, mas
nem sempre este abaixar as cortinas é feito conscientemente; na
maioria dos casos alguém tem que nos baixar as persianas que
deixamos levantadas.
Ou
seja, o grau de incerteza quanto o que encontraremos ao virarmos a
página ou desviar na esquina, é, em geral, diferente ou mesmo
oposto ao que aquilo que tentamos adivinhar. O futuro, mesmo
parcialmente, só é previsível quando temos um conhecimento prévio,
muito firme e cerrado, de como pode evoluir. O homem pragmático a
falta de dados fidedignos deixa o futuro em aberto. Diferente é a
situação daquele
que, sendo crente, admite ter um destino predefinido por um ente superior e invisível, digamos divino. Aceita, sem lhe dar o valor de uma declaração de fé,
que o futuro a Deus pertence. É um artifício de linguagem que tenta
insistir na não aleatoriedade da vida.
Visualizando
um labirinto “clássico”, onde as possibilidades de escolha no
trajecto pessoal podem ser bastantes, até muitas, aceitamos
resignadamente que as sucessivas opções não estão condicionadas
por poder interpretar sinais, em muitas ocasiões pouco credíveis,
mesmo imaginários, que nos ajudem a encontrar a saída ou o prémio
que está no seu centro, e que oferece um prémio brilhante, que não
evidencia o fim inexorável do nosso percurso. O mais usual na
estrutura que se dá ao labirinto, pedagógico, é o de procurar não
deixar evidencias no percurso que nos facilitem a prémio ou a saída.
As únicas ajudas podem ser o sol e as sombras, mais a noção da
hora em que se entrou.
Se
insistirmos em considerar os labirintos físicos como um jogo, um
divertimento, ou até de ser uma a prova acerca da capacidade de
orientação daquele que o desafia, logo que passa a soleira de
entrada, pode pensar na semelhança que existe, mesmo que sob uma
subtileza enganadora, de que ali se retrata, brincando, a nossa vida
individual. Então, entende, sem dúvida, que quando se chega à
saída o que lá nos espera é a Parca, a figura encapuçada, vestida
com um manto branco e apoiada numa afiada gadanha.
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