sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

MEDITAÇÕES – Acerca do bode


NEM TODOS OS BODES SÃO QUADRÚPEDES

NOTA PRÉVIA: Muito antes de vos oferecer uma situação real, que merece ser referida, vou impingir uma lição de culturazinha dispensável. Tenham paciência. E esperem.

Se nos limitarmos ao que se sabe, e se diz a respeito do bode, além de se associar a uma barragem e um castelo, também traz agarrado o estigma de que o seu sinónimo cabrão está, infame-mente desprestigiado por causa de que algumas esposas se afirma serem sexualmente infiéis aos seus maridos. Numa abusiva imagem metafórica se atribui o aparecimento, invisível a olho nu, de um formoso par de cornos, hastes, chifres, antenas, chavelhos,... com só uma haste à direita e outra à esquerda, caso o adultério é simples, ou com múltiplas ramificações, como um cérvido se a esposa infiel é de espírito mais magnânimo do que habitualmente se admite como quase aceitável, e opta pela distribuição dos seus tesouros e habilidades amatórias sem restrições e, além disso, gratuitamente, a mais do que um interessado.

Estes casos de vários condóminos para um mesmo bem, sem respeitar um mínimo do compromisso de unicidade conjugal supomos que, mesmo sem ter feito um inquérito social que o aval, não devem ser assim tantos. De não ser assim já a atribuição da cabronice deixa de ter um sentido biológico, restrito ao cabeça (enfeitada) do casal. A sociedade mantêm o adjectivo qualificativo para o desrespeitado, mas também qualifica a infiel e badalhoca esposa, que passa a ser valorizada como cabra.

Por outro lado, mas continuando na biologia, o macho cabrio, tal como sucede com muitas outras espécies, nomeadamente entre os mamíferos, dista muito de ser monógamo. A sua capacidade e vontade reprodutora o leva a ser insaciável e não monógamo. Luta denodadamente para conseguir a exclusividade de acasalar com um farto rebanho de fêmeas, e garantir-lhes uma descendência em conformidade com as suas capacidades reprodutoras e lutadoras. Por esta razão o bode ocupou, desde os inícios da domesticação dos animais, ser símbolo do libido e da intensa capacidade reprodutora.

Nas mitologias egípcia e grega, sempre com base na fonte inicial Mesopotâmica, o bode representava a timidez, introversão, criatividade e domínio, sem nunca esquecer o seu potencial reprodutivo. Concretamente, na mitologia grega era um dos deuses da natureza, sob a alçada de Dionísio. Numa versão simpática era identificado com o Deus Pan, entre outras capacidades, tinha a de se transformar em homem e poder retomar a forma de bode.

Uma figura polifacética, que ainda nos reserva mais capacidades: Os hebreus, novamente por transferência de mitos da zona do Paraíso de Adão e Eva, ou seja entre os rios Tigris e Eufrates, incorporaram na sua lista de personagens célebres a figura do bode expiatório, que ainda hoje é atribuído a alguém que, tendo culpa ou não, lhe são atribuídas todas a responsabilidade de uma malfeitoria que afecta a sociedade em geral. Eles. Judeus, sacrificavam o bode expiatório em vez de uma pessoa determinada. O pobre do macho cabrio era o recipiente final de uma culpabilidade mal atribuída, mas penosa para a sociedade. Esta cerimónia de lavagem por interposta figura é uma das celebrações do Yom-kippur.

Finalmente devo referir que com a chegada do cristianismo, ao bode lhe foi adjudicada a figura do demo, de Satanás, do mal em geral. Na idade média o bode foi associado à bruxaria, a nigromância e missas negras. As reuniões de feiticeiros e bruxas contavam, sempre, com a presença de um bode que se supunha encarnar o diabo, e que, diz-se devia copular com as bruxas. Consta, sem garantia de ser assim, que o bode também entra em certos rituais de lojas maçónicas. Com a óbvia negação dos membros que se reconhecem como tal.

E agora a história verídica:

Numa segunda feira que não fixei, mas era dia de trabalho, ao iniciar as actividades na oficina de cerâmica, deparei-me com um alegre convívio entre as raparigas. Muita risota e alegria. Senti curiosidade por saber o motivo de tanta galhofa. Uma das moças tomou a palavra e disse que tudo se devia à sua irmã, que casara na véspera, e no seu bode. Que era prenda da sua mãe. Não entendi nada. Mas decidiu completar o relato.

Dizia que o recém casado, quando viu a noiva já quase descascada, mas com aquele conjunto completo de roupa íntima, além de siderado, começou a manusear com a intenção de eliminar aquele formoso obstáculo, sem acertar na chave de segredo. A noiva, já esposa, divertidissima lhe indicou os colchetes do entre-pernas. Ele não sabia nada a respeito disso dos bodys, nem sequer elas usavam o nome correcto, mas deturpavam à popularucha. Era tanta a alegria quanto grande era a minha desorientação. Só no fim é que me percatei que ali havia uma degradação fonética instalada a pedra e cal entre elas .

Daí que sempre que vejo uma destas obras de arte íntima numa montra recordo o “bode” e rebento a rir (por dentro, em surdina...)

TENHAM UM BOM ANO 2020, os que leram pacientemente. Os outros, não sabem de nada.


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