NEM TODOS OS BODES SÃO QUADRÚPEDES
NOTA
PRÉVIA: Muito antes de vos oferecer uma situação real, que merece
ser referida, vou impingir uma lição de culturazinha dispensável.
Tenham paciência. E esperem.
Se
nos limitarmos ao que se sabe, e se diz a respeito do bode,
além de se associar a uma barragem e um castelo, também traz
agarrado o estigma de que o seu sinónimo cabrão está, infame-mente desprestigiado por causa de que algumas esposas se
afirma serem sexualmente infiéis aos seus maridos. Numa abusiva
imagem metafórica se atribui o aparecimento, invisível a olho nu,
de um formoso par de cornos, hastes, chifres, antenas, chavelhos,...
com só uma haste à direita e outra à esquerda, caso o adultério é
simples, ou com múltiplas ramificações, como um cérvido se a
esposa infiel é de espírito mais magnânimo do que habitualmente se
admite como quase aceitável, e opta pela distribuição dos seus
tesouros e habilidades amatórias sem restrições e, além disso,
gratuitamente, a mais do que um interessado.
Estes
casos de vários condóminos para um mesmo bem, sem respeitar um
mínimo do compromisso de unicidade conjugal supomos que, mesmo sem
ter feito um inquérito social que o aval, não devem ser assim
tantos. De não ser assim já a atribuição da cabronice deixa de
ter um sentido biológico, restrito ao cabeça (enfeitada) do
casal. A sociedade mantêm o adjectivo qualificativo para o
desrespeitado, mas também qualifica a infiel e badalhoca esposa, que
passa a ser valorizada como cabra.
Por
outro lado, mas continuando na biologia, o macho cabrio, tal como
sucede com muitas outras espécies, nomeadamente entre os mamíferos,
dista muito de ser monógamo. A sua capacidade e vontade reprodutora
o leva a ser insaciável e não monógamo. Luta denodadamente para
conseguir a exclusividade de acasalar com um farto rebanho de fêmeas,
e garantir-lhes uma descendência em conformidade com as suas
capacidades reprodutoras e lutadoras. Por esta razão o bode
ocupou, desde os inícios da domesticação dos animais, ser símbolo
do libido e da intensa capacidade reprodutora.
Nas
mitologias egípcia e grega, sempre com base na fonte inicial
Mesopotâmica, o bode representava a timidez, introversão,
criatividade e domínio, sem nunca esquecer o seu potencial
reprodutivo. Concretamente, na mitologia grega era um dos deuses da
natureza, sob a alçada de Dionísio. Numa versão simpática era
identificado com o Deus Pan, entre outras capacidades, tinha a de se
transformar em homem e poder retomar a forma de bode.
Uma
figura polifacética, que ainda nos reserva mais capacidades: Os
hebreus, novamente por transferência de mitos da zona do Paraíso de
Adão e Eva, ou seja entre os rios Tigris e Eufrates, incorporaram na
sua lista de personagens célebres a figura do bode expiatório,
que ainda hoje é atribuído a alguém que, tendo culpa ou não, lhe são atribuídas todas a
responsabilidade de uma malfeitoria que afecta a sociedade em geral.
Eles. Judeus, sacrificavam o bode expiatório em vez de uma pessoa
determinada. O pobre do macho cabrio era o recipiente final de uma
culpabilidade mal atribuída, mas penosa para a sociedade. Esta cerimónia de lavagem por interposta figura é uma das celebrações
do Yom-kippur.
Finalmente devo referir que com a chegada do cristianismo, ao bode lhe foi
adjudicada a figura do demo, de Satanás, do mal em geral. Na idade
média o bode foi associado à
bruxaria, a nigromância e missas negras. As reuniões de feiticeiros
e bruxas contavam, sempre, com a presença de um bode que se supunha
encarnar o diabo, e que, diz-se devia copular com as bruxas. Consta,
sem garantia de ser assim, que o bode também entra em certos rituais
de lojas maçónicas. Com a óbvia negação dos membros que se
reconhecem como tal.
E
agora a história verídica:
Numa segunda feira que não fixei, mas era dia de trabalho, ao iniciar as
actividades na oficina de cerâmica, deparei-me com um alegre
convívio entre as raparigas. Muita risota e alegria. Senti curiosidade por saber o motivo de tanta galhofa. Uma das moças tomou
a palavra e disse que tudo se devia à sua irmã, que casara na
véspera, e no seu bode. Que era prenda da sua mãe. Não entendi nada. Mas decidiu completar o relato.
Dizia
que o recém casado, quando viu a noiva já quase descascada, mas com
aquele conjunto completo de roupa íntima, além de siderado, começou
a manusear com a intenção de eliminar aquele formoso obstáculo,
sem acertar na chave de segredo. A noiva, já esposa, divertidissima
lhe indicou os colchetes do entre-pernas. Ele não sabia nada a
respeito disso dos bodys, nem sequer elas usavam o nome correcto, mas
deturpavam à popularucha. Era tanta a alegria quanto grande era a
minha desorientação. Só no fim é que me percatei que ali havia
uma degradação fonética instalada a pedra e cal entre elas .
Daí
que sempre que vejo uma destas obras de arte íntima numa montra
recordo o “bode” e rebento a rir (por dentro, em surdina...)
TENHAM
UM BOM ANO 2020, os que leram pacientemente. Os outros, não
sabem de nada.
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