quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

MEDITAÇÕES - Difícil de discernir



UMA CONFUSÃO POLÍTICA PREMEDITADA

Tenho a impressão de que se alguém tentar situar os diferentes grupos e grupinhos políticos que estão em campo actualmente, num ideário que seja perceptível e sem ambiguidades, pelo menos vai ficar baralhado, ou, como diz o povo, à brocha. Parece um baile de máscaras.

Tanto faz que comecemos pela direita, ou aquilo que em Portugal de qualifica como ser a direita, e ir passeando até procurar a extrema esquerda. Está tudo tratando de se mascarar, de não poder ser apontado. Fingem que são aquilo que anunciam que deveriam ser, e no fim todos optam por não ser carne nem peixe. Nesta adesão à ambiguidade os portugueses mostram que, de facto, herdaram dos galegos não só uma língua -que por certo os seus criadores abastardaram vergonhosamente quando optaram por dobrar a cerviz aos seus carrascos castelhanos- como também o de agirem de modo que aqueles que os observam no meio de uma escadaria nunca sabem dizer se estão subindo ou descendo. A propósito afirma-se que cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Mas será que o não tomar uma posição definida, deixando a ambiguidade, tem que ser, forçosamente, penalizado? E que tantas cautelas nos prejudicam a todos? Se de vez em quando alguém virar a mesa, fará um favor à sociedade em geral.

Retomando o pensamento sócio-político arrisco-me a invadir o campo da direita. Será que estes partidos conservadores, católicos, saudosistas dos tempos de Salazar, e por isso adeptos à rigidez com aqueles que consideram ser prevaricadores das regras da sua democracia desnatada e respeitadora, para mascarar a sua ascendência ditatorial, fascista ou fascistoide, incorporam o termo democrata no seu cartaz, são mesmo democratas? Todas as ditaduras de extrema direita, mais cedo ou mais tarde, incorporaram este termo benéfico para disfarçar a sua decisão de governar sem opositores. As cadeias e calabouços fizeram-se para calmar os espíritos mais perniciosos.

E será que não existe campo para uma direita musculada em Portugal? Em princípio deve poder conseguir o mesmo espaço que já foi ocupado por formações políticas equivalentes décadas atrás. anteriores. Não só em Portugal como no resto da Europa. E precisamente já desde uns anos atrás, na Europa além Pirenéus existem formações de extrema direita que participam nas eleições e até conseguem lugares nos parlamentos.

O que lhes falta em Portugal a estes elementos? Onde está o travão social que os coíbe? Não pode ser tão somente uma pretensa memória da fase ditatorial de Salazar e seus herdeiros, pois que além de já só ser recordada pelos mais velhos, não se pode dizer que tivesse atingido os níveis de repressão que alcançaram nos países europeus que hoje nos acompanham, na U.E.

Aquilo que se nota, nesta festa de máscaras, é que todos desejam subir ao carro da democracia, mas de uma forma fingida, uns mais e outros menos. Optam por se intitularem de Social-democratas, e não insistir nos preceitos socialistas dos séc. XIX e XX. Não podemos negar que os tempos são outros, mas tampouco se pode esconder o que já se confirma claramente: as classes mais baixas da sociedade estão pior de ano para ano, e nesta queda arrastam os membros da classe média, começando pela considerada baixa.

Se na Europa Central, tendo a França como o exemplo eterno e indiscutível, já se refere, sem ambiguidades que as greves persistentes não são seguidas simplesmente pelos desgraçados, mas maioritáriamente, por indivíduos com formação profissional e académica acima da média, porque neste Jardim ainda não se gerou uma união social que se oponha à ambiguidade, ou nem sequer isso, dos partidos políticos tradicionais? Falta coragem de agarrar o toiro pelos cornos por parte dos políticos que ficam com a boca no trombone, e os que pouco tem receiam de ficar pior caso se mostrarem. Ou, mais tristemente, os lutadores de hoje não conseguem arrastar uma multidão de convencidos. Só o arraiais e piquenicões, com futebol ou sem ele, é que os conseguem juntar. Mas como carneiros num rebanho.

As formações políticas existentes em Portugal e consideradas globalmente como sendo da esquerda “moderada”, começando pelo Partido Socialista, tem em muitos lugares de relevo (demasiados até) pessoas que ficam encandeadas com o cheiro do dinheiro, que sem a menor vergonha vendem o seu apoio a quem quer roubar os bens de todos, sempre e tanto que compense a sua falta de honra através de doações, directas ou indirectas. Basta dar uma olhadela pelas listas nominais de muitos Conselhos de Administração e outras estruturas paralelas que oferecem boas “remunerações” e pouco, ou nenhum, trabalho, a não ser o de fechar os olhos ou olhar para o Tejo.

A meu ver, e admito estar errado, o que ainda não se atingiu é a parceria entre os descontentes com formação cultural acima da média e o tal proletariado que não se quer assumir como tal. Historicamente falta a acção subterrânea e educativa que teve a maçonaria quando ainda na monarquia conseguiu proclamar a República. O que aqui falta são republicanos activos, conspiradores, condutores das massas hipnotizadas com futebol e miseráveis canais generalistas na TV.

Os mais preparados e com peso social, sejam crentes ou ateus, deveriam colocar-se junto ao Santo Padre actual, que, sem grandes rodeios, mostra o caminho que a sociedade contemporânea e do futuro próximo deveria seguir.

E escrevo estas palavras sem ser crente, e muito menos beato, mas que entendo devemos valorizar todos os que, seja do lado que for onde estiverem, podem colocar mais um tijolo neste muro de contenção do capitalismo feroz. Infelizmente é mais fácil pregar do que conseguir. Os ditadores sabem, desde tempos imemoriais, que os carrascos devem ser escolhidos entre os condenados a penas maiores. Estes são inflexíveis -mas também corruptíveis- com aqueles que estão autorizados, e incitados, a maltratar.


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