UMA
CONFUSÃO POLÍTICA PREMEDITADA
Tenho
a impressão de que se alguém tentar situar os diferentes grupos e
grupinhos políticos que estão em campo actualmente, num ideário
que seja perceptível e sem ambiguidades, pelo menos vai ficar
baralhado, ou, como diz o povo, à brocha. Parece um baile de
máscaras.
Tanto
faz que comecemos pela direita, ou aquilo que em Portugal de
qualifica como ser a direita, e ir passeando até procurar a extrema
esquerda. Está tudo tratando de se mascarar, de não poder ser
apontado. Fingem que são aquilo que anunciam que deveriam ser, e no
fim todos optam por não ser carne nem peixe. Nesta adesão à
ambiguidade os portugueses mostram que, de facto, herdaram dos
galegos não só uma língua -que
por certo os seus criadores abastardaram vergonhosamente quando
optaram por dobrar a cerviz aos seus carrascos castelhanos-
como também o de agirem de modo que aqueles que os observam no
meio de uma escadaria nunca sabem dizer se estão subindo ou
descendo. A propósito afirma-se que cautela e caldos de galinha
nunca fizeram mal a ninguém. Mas será que o não tomar uma posição
definida, deixando a ambiguidade, tem que ser, forçosamente,
penalizado? E que tantas cautelas nos prejudicam a todos? Se de vez
em quando alguém virar a mesa, fará um favor à sociedade em
geral.
Retomando
o pensamento sócio-político arrisco-me a invadir o campo da
direita. Será que estes partidos conservadores, católicos,
saudosistas dos tempos de Salazar, e por isso adeptos à rigidez com
aqueles que consideram ser prevaricadores das regras da sua
democracia desnatada e respeitadora, para mascarar a sua ascendência
ditatorial, fascista ou fascistoide, incorporam o termo democrata no seu cartaz, são mesmo democratas? Todas as ditaduras de
extrema direita, mais cedo ou mais tarde, incorporaram este termo
benéfico para disfarçar a sua decisão de governar sem
opositores. As cadeias e calabouços fizeram-se para calmar os espíritos mais perniciosos.
E
será que não existe campo para uma direita musculada em Portugal?
Em princípio deve poder conseguir o mesmo espaço que já foi
ocupado por formações políticas equivalentes décadas atrás.
anteriores. Não só em Portugal como no resto da Europa. E
precisamente já desde uns anos atrás, na Europa além Pirenéus existem formações de extrema direita que participam nas
eleições e até conseguem lugares nos parlamentos.
O
que lhes falta em Portugal a estes elementos? Onde está o travão
social que os coíbe? Não pode ser tão somente uma pretensa memória
da fase ditatorial de Salazar e seus herdeiros, pois que além de já
só ser recordada pelos mais velhos, não se pode dizer que tivesse
atingido os níveis de repressão que alcançaram nos países
europeus que hoje nos acompanham, na U.E.
Aquilo
que se nota, nesta festa de máscaras, é que todos desejam subir ao
carro da democracia, mas de uma forma fingida, uns mais e outros
menos. Optam por se intitularem de Social-democratas, e não
insistir nos preceitos socialistas dos séc. XIX e XX. Não podemos
negar que os tempos são outros, mas tampouco se pode esconder o que
já se confirma claramente: as classes mais baixas da sociedade
estão pior de ano para ano, e nesta queda arrastam os membros da
classe média, começando pela considerada baixa.
Se
na Europa Central, tendo a França como o exemplo eterno e
indiscutível, já se refere, sem ambiguidades que as greves
persistentes não são seguidas simplesmente pelos desgraçados, mas
maioritáriamente, por indivíduos com formação profissional e académica acima da média, porque neste Jardim ainda não se gerou
uma união social que se oponha à ambiguidade, ou nem sequer isso,
dos partidos políticos tradicionais? Falta coragem de agarrar o
toiro pelos cornos por parte dos políticos que ficam com a boca no
trombone, e os que pouco tem receiam de ficar pior caso se mostrarem.
Ou, mais tristemente, os lutadores de hoje não conseguem arrastar
uma multidão de convencidos. Só o arraiais e piquenicões, com
futebol ou sem ele, é que os conseguem juntar. Mas como carneiros
num rebanho.
As
formações políticas existentes em Portugal e consideradas
globalmente como sendo da esquerda “moderada”, começando pelo
Partido Socialista, tem em muitos lugares de relevo (demasiados até)
pessoas que ficam encandeadas com o cheiro do dinheiro, que sem a
menor vergonha vendem o seu apoio a quem quer roubar os bens de
todos, sempre e tanto que compense a sua falta de honra através de
doações, directas ou indirectas. Basta dar uma olhadela pelas
listas nominais de muitos Conselhos de Administração e outras
estruturas paralelas que oferecem boas “remunerações” e pouco,
ou nenhum, trabalho, a não ser o de fechar os olhos ou olhar para o
Tejo.
A
meu ver, e admito estar errado, o que ainda não se atingiu é a
parceria entre os descontentes com formação cultural acima da média
e o tal proletariado que não se quer assumir como tal. Historicamente falta a acção subterrânea e educativa que teve a
maçonaria quando ainda na monarquia conseguiu proclamar a República.
O que aqui falta são republicanos activos, conspiradores, condutores
das massas hipnotizadas com futebol e miseráveis canais generalistas
na TV.
Os
mais preparados e com peso social, sejam crentes ou ateus, deveriam
colocar-se junto ao Santo Padre actual, que, sem grandes rodeios,
mostra o caminho que a sociedade contemporânea e do futuro próximo
deveria seguir.
E
escrevo estas palavras sem ser crente, e muito menos beato, mas que
entendo devemos valorizar todos os que, seja do lado que for onde
estiverem, podem colocar mais um tijolo neste muro de contenção do
capitalismo feroz. Infelizmente é mais fácil pregar do que
conseguir. Os ditadores sabem, desde tempos imemoriais, que os
carrascos devem ser escolhidos entre os condenados a penas maiores.
Estes são inflexíveis -mas
também corruptíveis- com aqueles que estão
autorizados, e incitados, a maltratar.
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