segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

MEDITAÇÕES - Sonhos e Rebanadas



QUANDO UM SONHO SE PROLONGA EM VIGÍLIA

Esta madrugada acordei, repentinamente. Mas desta feita recordava o argumento que bulia no meu subconsciente, ou consciênte quase no seu 90 %. O impacto mental que se tinha instalado era de tal calibre que, propositadamente, mantive-me estático, sem forçar a marcha do acordar e, excepcionalmente, pude continuar o raciocínio que tinha enquanto dormido. O que ainda não descobri foi o facto real, ou a vivência como digo habitualmente, que me deixou tamanha “ansiedade”.

Recordo que a cena começava numa minha visita a uma escola secundária, sem que destaque de onde era e se havia uma motivação concreta. Bati à porta de uma sala de aula, que estava em actividade e com a professora (doutora possivelmente) expondo a lição do dia. Pedi se me permitia estar presente, a fim de comparar a minha experiência de 65 anos atrás com o que actualmente acontecia numa aula numa escola oficial. Prometi estar calado, como atento observador, sem deixar de aceitar que este meu pedido não devia ser normal, nem sequer aceite. Mas confesso que nem sonhando cumpri a minha promessa.

Já meio acordado lembro que, progressivamente, ia ficando confuso perante o ambiente que reinava na sala. Pelos vistos aquilo era normal ou habitual. Deduzi, com boa vontade, que os tempos eram outros, bastante diferentes, e que a disciplina, quase que espartana, que eu tinha vivido já nada tinha que se comparasse ao comportamento, digamos que “democrático e descontraído” com que os alunos falavam entre eles e até do modo como interpelavam a professora. Por fortuna não “assisti” (no sonho) a cenas de agressão verbal ou física entre discentes e docente. Mas aquilo que vi chegou para me acordar com um peso social na mente gasta de um velho.

Não foi a primeira vez que meditei, e até comentei com amigos, o quanto se modificou a vida das pessoas em menos de uma centúria. Do trabalho infantil, (que era imprescindível por necessidade económica de muitas famílias, levou ao ditado popular que afirmava Quando nasce um filho traz um pão debaixo do braço) Passamos a uma realidade totalmente diferente. Que chega a ser absurda por exagerada. Os filhos tornaram-se, de facto, réis e em muitas ocasiões verdadeiros ditadores dos adultos.

O que se tornou normal, desde infantários a apoios nas deslocações, instalações das escolas e na multiplicidade de professores e auxiliares que se exigem, multiplicaram os custos da passagem de criança a adulto por um factor que ninguém se atreve a quantificar, pela noção prévia de que deve ser espantoso. Tudo é pago, ou fica na dívida pública, a preço de oiro do Brasil, com a agravante de que esta “obra” nunca fica acabada. Pior, ano após ano, a despesa cresce.

Progrediu-se socialmente? Pois com certeza que sim. Mas a que custo? Como exemplo de mudança temos que a esperança “de vida” (quantas vezes os últimos anos de estadia neste mundo não se podem valorizar com sendo, de facto, vida) passou de 60 para mais de 80 anos. E cada vez são menos as famílias que conservam os seus velhos no seio da casa. Tornou-se habitual os despachar para um “lar” onde aguardem pela morte, e não carreguem a família com trabalhos nem sempre agradáveis.

Ao arrumar os avós num buraco, mais ou menos infecto, globalmente tem-se que, entre reformas e custos de “manutenção”, nomeadamente alimentação, asseio, cuidados de saúde, consultas e medicamentos, os velhos são uma carga de despesas gerais considerável. Friamente e com mais adoçante do que açúcar esta situação empurra para a moralmente não aceitável eutanásia. Esconder esta situação e o consequente desfecho é comparável à falsa ideia de que a avestruz esconde-se enterrando a cabeça e deixando o corpanzil de fora. (*)

Voltando ao princípio: do nascimento até a vida laboral activa, ou seja quando já produz e não está à espera de uma ocupação que lhe permita a sobrevivência, ou seja o período produtivo do homem/mulher, digamos com salário ou objectos de produção pessoal comercializáveis, e o atingir o limite oficial de deixar de trabalhar, recebendo uma quantia variável, a que chamamos reforma, arbitrariamente podemos considerar que dos 70/80 anos de presença neste mundo, só contribuímos para a despesa geral (incluindo a nossa própria), durante uns 45 anos. Isso sem descontar férias e baixas por doença, mortalidade prematura e catástrofes. E chegamos à conclusão de que: Na média geral somos culpados de consumismo improdutivo durante quase metade da nossa vida.

E nesta excessivamente simples contabilidade não referimos os esbulhos, roubos, desfalque e erros que são apanágio das sociedades. NÃO ME PARECE QUE SE CONSIGA EQUILIBRAR O ORÇAMENTO GERAL, sem recorrer a truques contabilísticos e varrer para debaixo do tapete.

(*) Eu, pessoalmente, digo com convicção que já estou mais “fora de prazo” do que um iogurte fabricado em 1950.

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