Após
estes dias terríveis em que, mais uma vez, o fogo desbastou,
queimou, matou, feriu e destruiu tanto quando quis, sem que os
esforços de profissionais e voluntários, mais os ditos populares,
conseguissem travar o desastre nas primeiras horas, e assim evitar o
muito que sucedeu, despertou em mim um impulso irresistível para
quebrar uma lança, mentalmente, pois que jamais seria promotor de
uma revolta violenta.
Porém
sinto que os bons propósitos, promessas e palavras de consolo só
podem conduzir a que sintamos que os cidadãos que não estão em
situação propícia para se poder beneficiar com a já chamada
indústria do fogo, estão, novamente, a ser abusados, ou
gozados com cara séria. Não é fácil, ou, mais correctamente, é
impossível, acreditar nestas promessas e discursos de ocasião,
recordando que ano após ano se repetem desgraças semelhantes e se
ouvem, mesmo que proferidas por outras bocas, equivalentes, as mesmas
histórias de encantar.
Muitos
já conhecem os bons negócios que se fazem em volta dos incêndios
florestais. Desde a compra de equipamentos, tantas vezes dados como
obsoletos ou inadequados no ano seguinte, a compra de viaturas, de
aparelhagem diversa, de compra ou aluguer de meios aéreos, alguns
deles comprados com preços exorbitantes quando já estavam nos
parques de sucata no Leste europeu. Etc. Uma lista infindável que
implicam nomes de pessoas bem concretas. Existe um comércio de vulto
à roda de um fechar de olhos à perda de bens privados e vidas
humanas.
Tudo
isto está extensamente escrito, com datas e valores, tanto nalguns
jornais -poucos, pois que os interesses económicos não gostam
que temas tão quentes se coloquem à disposição da plebe- e
principalmente no circuito informal das redes sociais, onde aparecem
não só denúncias e comentários correctos como, também, colocam a
contra-informação que beneficia aos que lucram com a desgraça
alheia.
A
repetição imparável desta situação e o sentimento de impotência,
dada a falta de reacção colectiva, impede-me a continuar neste
tema. A revolta que sinto não a posso transferir.
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