sexta-feira, 2 de junho de 2017

SOBRE O AQUECIMENTO GLOBAL



A notícia do dia é, sem dúvida, o anúncio do presidente ELEITO americano, de que cumpria uma das suas promessas eleitorais, retirando os EUA dos Acordos de Paris. Depois, de imediato, quis modular este abandono caso aceitassem as suas novas propostas, ainda não definidas.

Independentemente das políticas, dos jornais, dos comentaristas que empurram ou puxam, e que nem sempre dominam a visão abrangente do problema, sinto que este tema comporta factores importantes que, sistematicamente, são pouco referidos.

É indiscutível que o progresso tecnológico iniciado no séc XIX com a possibilidade de complementar as energias eólicas e hidráulicas, então não poluentes no seu funcionamento, pelas máquinas de vapor, deu-se início a uma progressiva necessidade de muita energia activa, socorrendo-se da energia potencial existente nas matérias combustíveis, dando uso à energia libertada neste processo químico, tão quotidiano desde que nos abrigava-mos em cavernas e aquecíamos com fogueiras.

Simplificando. O que está sucedendo é que a sociedade em geral não deixa de consumir, cada vez mais, energia fóssil, dado que o recurso ás energias renováveis, não poluentes no funcionamento, não deixam de ser contribuintes ao aquecimento global na sua geração como máquinas ou barragens. Outro tanto poderíamos dizer sobre as centrais foto-voltaicas, cujos painéis e acessórios não surgem da terra como as ervas silvestres.

Entre um moinho artesanal, farinheiro, e uma série de turbinas eólicas de grande porte, existe uma ingente diferença de consumo energético. Não me parece que seja necessário explicar como se obtêm os componentes, tão “limpos”, nem as redes de cabos eléctricos. Entre uma azenha e uma barragem existe, também, uma disparidade enorme de consumo de energia e consequente poluição ambiental. Habituam o cidadão a imaginar que os kWh produzidos nas turbinas, sejam movidas pelo vento ou pela energia potencial da água armazenada, caso tiver uma cota suficiente, são equivalentes aos métodos antigos. FALSO.

Deixemos de lado a utilização da energia atómica, que teve a sua fase de prometedora fonte inesgotável, e não poluidora, mas que dadas as sucessivas catástrofes está desacreditada.

Incidindo sobre os Acordos de Quioto e Paris, e não esquecendo a contínua necessidade de energia que a sociedade actual impõe, o que de facto se comprometeram foi transferir a poluição para outro lado. Para debaixo do tapete. E assim poder descer uns pontos, poucos, nas suas emissões de gases poluentes e libertação de calor, com a consequente colaboração ao aquecimento global.

Mas continuamos a fabricar, ou transferir as fábricas poluentes, para países que aceitam esta poluição. Conseguir uma tonelada de aço, ou de outro metal qualquer, indispensável, assim como de produtos manufacturados como seja o vidro, matérias plásticas, transístores, ou seja o que for, inclusive cozer o pão, carece de uma quantidade determinada de energia. Extrair minérios, seleccionar o mineral da ganga, aplicar toda a série de manipulações indispensáveis, e sempre poluentes, é mal visto quando é feita na nossa casa. O melhor é transferir estas tarefas para países do terceiro mundo.

É semelhante o que sucede com os resíduos tóxicos de difícil e dispendiosa neutralização. Não é aceitável que os guardemos, mais ou menos escondidos, no nosso território. A solução que se adopta, procurando que não seja conhecida, é a de enviar estas matérias,indesejáveis, para países que as aceitem, desprezando os perigos que comportam. E aceitam isto por uma bagatela de dinheiro.

Todos vimos reportagens de como o desmantelamento de navios obsoletos passou para portos asiáticos. Tal como a recuperação de componentes metálicos, valiosos e escassos, das aparelhagens electrónicas. Tarefa que é feita de forma primitiva. Sem cuidados de protecção, e estragando o ambiente local, mais a saúde dos desgraçados que aceitam este trabalho em opção à fome.

Apesar da visão mirífica que se quer dar aos benefícios dos carros eléctricos, não se pensa que a totalidade das viaturas, incluídos os de transporte de mercadorias, possam ser movidos com recurso a baterias. E estas baterias, tanto na sua construção, desde a mineração até ao fabrico de componentes e, posteriormente, à sua reciclagem, não poluem nada? Não consomem energia? Ou são o milagre de chegar ao movimento contínuo sem consumir? Isso deixando na gaveta a poluição do ar a que contribui o desgaste dos pneus de milhões de viaturas circulando, travando e acelerando.

Portanto, o que fez o presidente Trump foi dar um sopro de esperança aos seus votantes de “colarinho azul”, que ficaram desempregados ao fechar as minas e as siderurgias, mais as fábricas de automóveis e outras indústrias com custos de mão-de-obra “exagerdos”. Será que, de facto, vai reabrir estas instalações ou não passa de uma manobra?

Os magnatas do petróleo e das suas refinarias não aceitarão de bom grado fechar estas instalações, poluentes, pois ficariam nas mãos dos que as mantivessem activas noutros países. Mesmo que os texanos comprem as refinarias radicadas fora dos USA sempre existirá o perigo de que, um dia, pensado mas não concretizado, surja uma decisão local de as nacionalizar pela força.


A quem não podemos enganar com manobras de política é ao planeta. Seja qual for o local onde se localize a fonte de poluição, os efeitos serão sempre globais. E mudar os hábitos de consumo energético, que incluem acções tão banais como ir às compras ao hiper, usando o automóvel, e onde encontramos produtos que foram levados até lá por um batalhão de camionetes de transporte, e recuando sempre chegamos às minas de carvão e minérios metálicos, não é natural que voltemos ao burrinho e à carroça. Por enquanto...

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