A
notícia do dia é, sem dúvida, o anúncio do presidente ELEITO
americano, de que cumpria uma das suas promessas eleitorais,
retirando os EUA dos Acordos de Paris. Depois, de imediato,
quis modular este abandono caso aceitassem as suas novas propostas,
ainda não definidas.
Independentemente
das políticas, dos jornais, dos comentaristas que empurram ou puxam,
e que nem sempre dominam a visão abrangente do problema, sinto que
este tema comporta factores importantes que, sistematicamente, são
pouco referidos.
É
indiscutível que o progresso tecnológico iniciado no séc XIX com a
possibilidade de complementar as energias eólicas e hidráulicas,
então não poluentes no seu funcionamento, pelas máquinas de vapor,
deu-se início a uma progressiva necessidade de muita energia activa,
socorrendo-se da energia potencial existente nas matérias
combustíveis, dando uso à energia libertada neste processo
químico, tão quotidiano desde que nos abrigava-mos em cavernas
e aquecíamos com fogueiras.
Simplificando.
O que está sucedendo é que a sociedade em geral não deixa de
consumir, cada vez mais, energia fóssil, dado que o recurso
ás energias renováveis, não poluentes no funcionamento,
não deixam de ser contribuintes ao
aquecimento global na sua geração como máquinas ou
barragens. Outro tanto poderíamos dizer sobre as centrais
foto-voltaicas, cujos painéis e acessórios não surgem da terra
como as ervas silvestres.
Entre
um moinho artesanal, farinheiro,
e uma série de turbinas eólicas
de grande porte, existe uma ingente diferença de consumo energético.
Não me parece que seja necessário explicar como se obtêm os
componentes, tão “limpos”, nem as redes de cabos eléctricos.
Entre uma azenha e uma barragem
existe, também, uma disparidade enorme de consumo de energia e
consequente poluição ambiental. Habituam o cidadão a imaginar que
os kWh produzidos nas turbinas, sejam movidas pelo vento ou pela
energia potencial da água armazenada, caso tiver uma cota
suficiente, são equivalentes aos métodos antigos. FALSO.
Deixemos
de lado a utilização da energia atómica, que teve a sua
fase de prometedora fonte inesgotável, e não poluidora, mas que
dadas as sucessivas catástrofes está desacreditada.
Incidindo
sobre os Acordos de Quioto e Paris, e não esquecendo a
contínua necessidade de energia que a sociedade actual impõe, o que
de facto se comprometeram foi transferir a poluição para outro
lado. Para debaixo do tapete. E assim poder descer uns pontos,
poucos, nas suas emissões de gases
poluentes e libertação de calor, com a consequente
colaboração ao aquecimento global.
Mas
continuamos a fabricar, ou transferir as fábricas poluentes, para
países que aceitam esta poluição. Conseguir uma tonelada de aço,
ou de outro metal qualquer, indispensável, assim como de produtos
manufacturados como seja o vidro, matérias plásticas, transístores,
ou seja o que for, inclusive cozer o pão, carece de uma quantidade
determinada de energia. Extrair minérios, seleccionar o mineral da
ganga, aplicar toda a série de manipulações indispensáveis, e
sempre poluentes, é mal visto quando é feita na nossa casa. O
melhor é transferir estas tarefas
para países do terceiro mundo.
É
semelhante o que sucede com os resíduos tóxicos de difícil
e dispendiosa neutralização. Não é aceitável que os guardemos,
mais ou menos escondidos, no nosso território. A solução que se
adopta, procurando que não seja conhecida, é a de enviar estas
matérias,indesejáveis, para países que as aceitem, desprezando os
perigos que comportam. E aceitam isto por uma bagatela de dinheiro.
Todos
vimos reportagens de como o desmantelamento de navios obsoletos
passou para portos asiáticos. Tal como a recuperação de
componentes metálicos, valiosos e escassos, das aparelhagens
electrónicas. Tarefa que é feita de forma primitiva. Sem cuidados
de protecção, e estragando o ambiente local, mais a saúde dos
desgraçados que aceitam este trabalho em opção à fome.
Apesar
da visão mirífica que se quer dar aos benefícios dos carros
eléctricos, não se pensa que a totalidade das viaturas,
incluídos os de transporte de mercadorias, possam ser movidos com
recurso a baterias. E estas baterias, tanto na sua construção,
desde a mineração até ao fabrico de componentes e, posteriormente,
à sua reciclagem, não poluem nada? Não consomem energia? Ou são o
milagre de chegar ao movimento contínuo sem consumir? Isso deixando
na gaveta a poluição do ar a que contribui o desgaste dos pneus de
milhões de viaturas circulando, travando e acelerando.
Portanto,
o que fez o presidente Trump foi dar um sopro de esperança
aos seus votantes de “colarinho azul”, que ficaram desempregados
ao fechar as minas e as siderurgias, mais as fábricas de automóveis
e outras indústrias com custos de mão-de-obra “exagerdos”. Será
que, de facto, vai reabrir estas instalações ou não passa de uma
manobra?
Os
magnatas do petróleo e das suas refinarias não aceitarão de bom
grado fechar estas instalações, poluentes, pois ficariam nas mãos
dos que as mantivessem activas noutros países. Mesmo que os texanos
comprem as refinarias radicadas fora dos USA sempre existirá
o perigo de que, um dia, pensado mas não concretizado, surja uma
decisão local de as nacionalizar pela força.
A
quem não podemos enganar com manobras de política é ao planeta.
Seja qual for o local onde se localize a fonte de poluição, os
efeitos serão sempre globais. E mudar os hábitos de consumo
energético, que incluem acções tão banais como ir às compras ao
hiper, usando o automóvel, e onde encontramos produtos que foram
levados até lá por um batalhão de camionetes de transporte, e
recuando sempre chegamos às minas de carvão e minérios metálicos,
não é natural que voltemos ao burrinho e à carroça. Por
enquanto...
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