quinta-feira, 29 de junho de 2017

CRÓNICAS DO VALE Cap. 2

(texto corrigido e com tentativa de eliminar gralhas)

Sendo eu o Presidente da Assembleia Municipal fui forçado, por pressões de âmbito reservado, vindas oralmente de residentes na aldeia, para convocar esta sessão, de cariz extraordinário, destinada a dar seguimento ao tema do FESTIVAL DA CHUVA doirada. Admitindo que nenhum dos presentes se vai opor, entrego a palavra ao companheiro e amigo Zé Maravilhas, com o qual, antes de abrir a sessão, combinamos que manterá via de diálogo aberto com qualquer um dos presentes, esteja de acordo ou se oponha, com argumentos ponderáveis Vos deixo entregues ao Zé.

Amigos e vizinhos. Ao longo destas horas pude meditar, interrompido em diversas ocasiões, por amigos que desejavam esclarecimentos sobre a estrutura e funcionamento deste Festival da chuva doirada. Por enquanto estamos na fase de gestação, só existem apontamentos soltos, que devem ser ponderados e ordenados. Mas o que me foi dado avaliar é que existe um número, já numeroso, de conterrâneos interessados em que algo de novo, e espectacular pela originalidade mediática, tenha lugar neste canto de Portugal. Também chegaram até os meus ouvidos zun-zuns de que o assunto em causa criou um certo mal estar, nomeadamente entre os mais castos. Castos, e respeitadores dos preceitos emanados do púlpito, mas só apariência. De facto são tão devassos na intimidade quanto possam ser os que aderiram fervorasamente à ideia. Sem esquecer que inclusive aqueles retraídos que não se atreveram a dar rédea solta aos seus instintos certamente que pecaram em pensamento. E na doutrina me ensinaram que pode-se pecar tanto em pensamento como em obra.

De entrada posso afirmar que na sessão anterior não me sentia minimamente motivado. Mas quando um dos presentes propôs umas festas invocatórias de chuva senti que uma coisa se disparou na minha mente. É provável que, inconscientemente, fizesse uma ligação entre a proposta e o nome da nossa aldeia.

Sempre antevi a influência de alguma picardia neste Vale do Pito, e tentei descobrir como e quando se gerou tal nome. Uma das hipóteses que me coloquei foi que se devesse às comunicações entre os pastores que acompanhavam os rebanhos de uma e outra escarpa que limitam o vale, com o recurso a apitos ou assobios modulados. Outra hipótese, com ligame ao que insinuou o anónimo bracarense, e que as duas ladeiras do vale e mais as filas de estratos verticais que se observam entre as águas da ribeira, podem dar a ideia de uma vagina, zona da anatomia feminina que a norte do Mondego é denominada, popularmente, como sendo o pito.

O que é certo e sabido é que os nortenhos, quando lhes dizemos o nome da nossa aldeia, abrem um sorriso maroto e um olhar sumamente malandro. Nunca me aborreci com isso, uma vez que fui engendrado sem artifícios de modernice e vim a este mundo sem negar o nome do Vale.

Confesso, sem vergonha, que a velocidade com que esta ideia se instalou entre nós, não me facilitou conseguir um esquema correcto e aceitável para o certame. Especialmente porque, sendo patrocinado (como espero que assim seja) pela edilidade, teremos que ser muito cuidadosos na forma em que se dê a conhecer, sem ofender os espíritos mais timoratos -esta vai para a minha lista- mas tampouco podemos escamotear um tema que deve ser do conhecimento de todos os adultos, e hoje até de alguns adolescentes.

O festival, a ser, será dependente da colaboração das senhoras, sejam elas residentes entre nós, coisa que sinto ser difícil numa primeira edição, ou de pessoas mais descontraídas, ou até profissionais nas artes da nudez exposta.

Com uma mão alçada um dos presente pergunta; E poderemos ver, ao natural e mesmo que sem tocar, mas de perto, todas estas espectaculares novidades, velhas como o mundo? Como? Pagando certamente. Haverá descontos para os idosos? Eles merecem!. Durará muitos dias? Os da terra terão direito a entrar primeiro ou terão que aguardar na fila? Quem entrar na sala só poderá ficar uns minutos contados? Tenho tantas perguntas!

Caro conterrâneo, são muitas perguntas, que ainda não posso responder, mas que proporcionam pistas de importantes pormenores que, espero, serão tratados com ponderação. Tenha, tenham, paciência e ajudem a organizar este dito “invento”.

Restringindo-nos exclusivamente à chuva doirada propriamente dita, existem vários factores a ponderar, e até a proporcionar classificações entre as concorrentes. Assim, e num balanço repentino e por isso mesmo não exaustivo, referiria em primeiro lugar, e aproveitando a colaboração do anónimo bracarense, ser merecedor de valorização a fonte donde mana a chuva. Aí temos muitas possibilidades, desde uma bica no meio de um matagal, normalmente escuro como nos contos de bruxas, mas também ser possível aparecerem selvas loiras, ruivas ou pintadas com alguma das cores psicadélicas que vemos nalgumas cabeças. Terão as pilosidades em cores a condizer? Não esquecemos a existência de montes de Vénus totalmente desprovidos de pelos, seja de seu natural ou por depilação, total ou parcial, pois de tudo podemos encontrar “na vinha do Senhor”. Recordo que a minha avó dizia, com certa frequência, que o pudor e vergonha era só mania, pois quando somos batizados fica todo o nosso corpo com isenção de pecado.

Abordando o fluxo de chuva também aqui teremos variantes, que não necessito especificar pois dou por certo que todos conhecem o que vou dizer , e que concordarão merecem ser atendidos, com o pormenor correspondente.Temos a cor da urina, desde o trnsparente e límpido, passando aos diferentes tons de amarelo doirado, até chegar a uma tonalidade mais escura; O fluxo, abundante, tumultuoso, frouxo, efémero ou, persistente. definido ou em dispersão. O aroma ou cheiro, que pode ser agradável como perfume, com fragância cativante ou odor repulsivo.

E o simpático barulho?, pergunta um dos presentes.

Tem razão, ainda podemos e devemos qualificar, dada a sua importância para quem tem o privilégio de estar presente, o som que acompanha o fluxo, que tanto pode ser pouco intenso como atingir a intensidade de um assobio. Pessoalmente aprecio uma descarga veloz, impetuosa, longa, e ruidosa.


Até aqui temos pano para mangas para dar classificações idóneas.

Sem comentários:

Enviar um comentário