Este
escrito teve um título inicial de FÉ E RACIONALISMO, mas uma vez
escrito optei por um outro (o que está como cabeçalho) que nos pode
alertar para aceitar o aviso de que nem tudo o que luz é oiro. A
razão desta mudança não é outra do que, mesmo que sempre
circulassem notícias falsas e existisse a contra-informação, temos
a impressão de que hoje atingimos a um cúmulo de informação que
não deveríamos aceitar. Sendo assim é prudente desconfiar, e
depois podemos lastimar que, de facto, nos enganassem.
Desta
vez, caso o que vimos e ouvimos nos situam perante uma situação
pouco habitual quando, já em pleno século XXI, julgávamos que a
racionalidade tinha adquirido um nível de crédito que, sem dúvida,
ultrapassava a habitual fé cega. Recordemos, para nos consolar, que
muito tardou a Igreja Católica em aceitar que a Terra, nosso
habitat, girava sobre um eixo e percorria uma órbita, não circular,
em torno do sol. De onde se hoje não foi mesmo assim que as coisas
foram ditas, pode ser que amanhã venham a ser confirmadas.
O
actual Papa (da Igreja Católica, pois que existem outros papas em
serviço activo) escolheu o nome de Francisco quando foi eleito
pelo colégio, sob a orientação do Espírito Santo (creio que é
assim que afirmam acontecer) na sua visita a Fátima, na data em
que se celebrou o centenário da aparição da Virgem Maria aos
pastorinhos ainda em estado de rusticidade acentuada.
Ao
longo das notícias que se difundiram naquele dia, muitas delas sem o
mínimo interesse, anunciaram que o Papa Francisco entendeu, por bem
ser, afirmar que de facto o que aconteceu foram visões (mentais) e
não aparições, assim como não podem ter existido diálogos ou
discursos directos entre a mãe de Jesus e as crianças. Caso de
facto fez estas afirmações, estaremos num momento histórico, só
equiparável à anulação da sentença sobre Copérnico.
Possivelmente
seria a primeira vez que um Papa, na dignidade de ser o máximo
dirigente da Igreja Católica, teria a “ousadia” de colocar as
pretensas aparições no seu estatuto real. Mas devemos notar que
preferiu não entrar na catequização que de deve ter sido efectuada
sobre aquelas crianças. Esqueceu ou deixou para outra ocasião. A
não ser que valorize, prudentemente, não oferecer argumentos de
peso aos críticos ateus.
Insisto:
a ser verdade estas declarações que se atribuem ao Papa Francisco,
muito do que se faz e diz em Fátima, e que é a base de um complexo
negócio multimilionário, teria que ser actualizado, limpo de
fanatismos sem sentido e orientar a fé dos crentes na divindade de
uma forma mais espiritual, menos materialista.
Não
podemos pensar em que os humanos, ou uma boa parte deles, abdiquem da
sua fé no que não e palpável. O pensar e acreditar em divindades,
sejam protectoras ou castigadoras, é inato para muitos. Tentar negar
a sua fé. seja ela qual for, poderia colocar muitas pessoas num
estado de orfandade anímica da qual dificilmente seriam capazes de
ultrapassar.
Apesar
desta necessidade de apoio, de travão, ou de orientação, que é
sentida por uma notável parte da humanidade, desde os tempos mais
remotos, aquilo que o Papa Francisco nos disse, (insisto: caso
tenha-se manifestado como se noticiou) de uma forma subliminar, nas
entre-linhas, é que antes de nos entregar cegamente a certas
manifestações de credibilidade duvidosa, os crentes deveriam
procurar saber e entender o que realmente aconteceu, e deduzir se de
facto aconteceu algo notável, surpreendente, inexplicável.
Quem
é apreciador de espectáculos de ilusionismo sabe que, por trás
daquelas coisas inexplicáveis, existem truques que raramente o
cidadão normal e corrente pode descobrir.
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