segunda-feira, 19 de junho de 2017

SE NON É VERO, É BENE TROVATO



Este escrito teve um título inicial de FÉ E RACIONALISMO, mas uma vez escrito optei por um outro (o que está como cabeçalho) que nos pode alertar para aceitar o aviso de que nem tudo o que luz é oiro. A razão desta mudança não é outra do que, mesmo que sempre circulassem notícias falsas e existisse a contra-informação, temos a impressão de que hoje atingimos a um cúmulo de informação que não deveríamos aceitar. Sendo assim é prudente desconfiar, e depois podemos lastimar que, de facto, nos enganassem.

Desta vez, caso o que vimos e ouvimos nos situam perante uma situação pouco habitual quando, já em pleno século XXI, julgávamos que a racionalidade tinha adquirido um nível de crédito que, sem dúvida, ultrapassava a habitual fé cega. Recordemos, para nos consolar, que muito tardou a Igreja Católica em aceitar que a Terra, nosso habitat, girava sobre um eixo e percorria uma órbita, não circular, em torno do sol. De onde se hoje não foi mesmo assim que as coisas foram ditas, pode ser que amanhã venham a ser confirmadas.

O actual Papa (da Igreja Católica, pois que existem outros papas em serviço activo) escolheu o nome de Francisco quando foi eleito pelo colégio, sob a orientação do Espírito Santo (creio que é assim que afirmam acontecer) na sua visita a Fátima, na data em que se celebrou o centenário da aparição da Virgem Maria aos pastorinhos ainda em estado de rusticidade acentuada.

Ao longo das notícias que se difundiram naquele dia, muitas delas sem o mínimo interesse, anunciaram que o Papa Francisco entendeu, por bem ser, afirmar que de facto o que aconteceu foram visões (mentais) e não aparições, assim como não podem ter existido diálogos ou discursos directos entre a mãe de Jesus e as crianças. Caso de facto fez estas afirmações, estaremos num momento histórico, só equiparável à anulação da sentença sobre Copérnico.

Possivelmente seria a primeira vez que um Papa, na dignidade de ser o máximo dirigente da Igreja Católica, teria a “ousadia” de colocar as pretensas aparições no seu estatuto real. Mas devemos notar que preferiu não entrar na catequização que de deve ter sido efectuada sobre aquelas crianças. Esqueceu ou deixou para outra ocasião. A não ser que valorize, prudentemente, não oferecer argumentos de peso aos críticos ateus.

Insisto: a ser verdade estas declarações que se atribuem ao Papa Francisco, muito do que se faz e diz em Fátima, e que é a base de um complexo negócio multimilionário, teria que ser actualizado, limpo de fanatismos sem sentido e orientar a fé dos crentes na divindade de uma forma mais espiritual, menos materialista.

Não podemos pensar em que os humanos, ou uma boa parte deles, abdiquem da sua fé no que não e palpável. O pensar e acreditar em divindades, sejam protectoras ou castigadoras, é inato para muitos. Tentar negar a sua fé. seja ela qual for, poderia colocar muitas pessoas num estado de orfandade anímica da qual dificilmente seriam capazes de ultrapassar.

Apesar desta necessidade de apoio, de travão, ou de orientação, que é sentida por uma notável parte da humanidade, desde os tempos mais remotos, aquilo que o Papa Francisco nos disse, (insisto: caso tenha-se manifestado como se noticiou) de uma forma subliminar, nas entre-linhas, é que antes de nos entregar cegamente a certas manifestações de credibilidade duvidosa, os crentes deveriam procurar saber e entender o que realmente aconteceu, e deduzir se de facto aconteceu algo notável, surpreendente, inexplicável.


Quem é apreciador de espectáculos de ilusionismo sabe que, por trás daquelas coisas inexplicáveis, existem truques que raramente o cidadão normal e corrente pode descobrir.

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