quarta-feira, 28 de junho de 2017

CRÓNICAS DO VALE cap 1º

(este capítulo já foi revisto, corrigido e completado)

A última reunião da Junta de Freguesia de Vale de Pito foi excepcional por longa e animada. Após os temas do dia, que eram de pura rotina e por isso pouca luta provocaram, em verdade nenhuma, surgiu, por boca do presidente um assunto que era falado pelos residentes desde faz mais de um ano, sem que se tivesse atingido o tal ponto de não retorno, entendendo por isso que era necessário agir sem mais delongas.

Disse o Presidente que a nossa aldeia, com tão espectaculares paisagens, bons produtos de horta; vinhos que vendem toda a produção, e mais se venderiam se as vinhas fosses maiores; lindas raparigas, esposas esbeltas, simpáticas, asseadas, sempre com bom humor e apetitosas, para benefício de quem a tal se habilita seguindo as regras sociais; casas limpas e repletas de flores; ruas pavimentadas; fontanários; internet gratuita em todo o perímetro urbano, e mais que sabem. E mesmo assim estamos esquecidos pelo mundo em geral. Não temos imagem de marca.

Por isso, meus estimados conterrâneos, aceito e proponho que lutemos pela ideia de criar um festival que nos coloque nas primeiras páginas dos tabloides e da televisão generalista. -Bem se nota que o presidente está à par de tudo o que educa no Correio e na Bola!-

Admito que é difícil avançar desde zero nesta temática que está gasta em tantos festivais que por aí se geraram. Apontei neste papel as ideias que me surgiram e me foram sugeridas por alguns de vós. E lamento que algumas, a maioria sendo franco, não sejam exequíveis -eu não disse que o homem é culto?- Não temos castelo, nem muralhas ou templos românicos que nos possibilitem o armar ao pingarelho de festas medievais. Não temos salas para fazer um festival de cinema. Quanto à doçaria tradicional. Fora das argolas, arroz doce, arrufadas, pasteis de grão ou de feijão, e fritos, que se encontram em qualquer lado, tampouco me parece que por aí possamos ir longe. Uma eleição de miss Vale do Pito, temos poucas moças capazes e dispostas a desfilar de tanga Penso que  não encheriamos uma plateia, nem sequer a da casa do povo.

Uma mão se levanta propondo um Festival da chuva! , que tanta falta nos faz nestes meses de extrema canícula -outro letrado!- Poderíamos organizar procissões rogativas de manhã, à tarde e à noite, acompanhadas de charanga -o nível vai bom!-, aproveitando os que tocam instrumentos de sopro na banda e nos bombeiros municipais.

Como Presidente sinto ter que rebater o interesse que os forasteiros pudessem devotar a estas procissões. É coisa ultrapassada. A tropa acredita mais, ou menos, no boletim meteorológico da televisão do que nas ajudas de santos ou mesmo do trio Deus Pai-Filho-Espírito Santo. Muitos o avaliam como uma geringonça desactualizada. A não ser que nestes cortejos, além de rezas e andores incorporássemos uns flagelantes -vamos ter que criar uma academia de linguistas!- e outros penitentes que carreguem cruzes e outros artigos de tortura.

O Zé Maravilhas levanta o braço e pede a palavra: Pois eu vejo grandes possibilidades num FESTIVAL DA CHUVA, sempre e tanto que se entre na variante da chuva doirada! -este visita a página dos anúncios com foto no Correio!-

Óh homem, por donde nos quer meter? Isto que propõe implica cavalarias altas! Nem vale a pena imaginar esta proposta. Não temos capacidade para lutar num terreiro destes. Disse o Presidente da Junta de Freguesia.

Tudo depende de como se encarar a coisa, Tem que ser com tacto e malandrice q.b. Enquanto ouvia a discursata anterior já fui montando o esquema, que poderei discriminar, caso o pedirem.

De entrada, e para não espantar a caça, embora todos estejam interessados no que a proposta induz, referiria que o adjectivo “dourado-dourada” é usado correntemente. Desde vinhas douradas, vinho dourado, fatias doradas, pasteis dourados, e tudo o mais que não recordo agora. Mas um festival da verdadeira chuva doirada, se preparado com sageza -toma! Faltava este!- teria uma procura que tomariam os das festas e mercados medievais. Eu, Senhor Presidente, até propunha que registássemos este nome antes de que os vivaços nos copiem. E tenho outra possibilidade na manga, que não adianto!

Um expontâneo interrompeu perguntando se na animação de rua não se poderia incluir uma imitação da dança da chuva dos peles vermelhas americanos, seguindo aquilo que os cineastas apresentaram em diversos filmes antigos, mesmo que aquilo fosse inventado nos miolos da cabeça dos argumentistas e produtores. O Zé Maravilhas retorquiu que lhe parecia muito oportuno e aproveitável. Era questão de trabalhar afincadamente para organizar o "invento", até disse ter a certeza de que ao longo da preparação irião aparecer capítulos interessantes. Entre o Coreeio e a Internet podem tirar o curso de espectáculos eróticos sem grandes dificuldades.


Zé Maravilhas insiste na sua: Pensem nas possibilidades! Aqui viriam stripers, acompanhadas dos seus empresários, ou chulos se preferirem, mais os comerciantes de artigos eróticos; montariam pavilhões no campo de futebol e terrenos adjacentes. Os visitantes, nacionais e estrangeiros ficariam loucos para alugar quartos por noite ou por períodos curtos... Teriamos que habilitar um espaço para campistas, de preferência ao pé do nosso ribeiro, que por enquanto não está demasiado poluído, mas que aproveito o momento de atenção para pedir que, entre todos, retiremos os plásticos, garrafas, embalagens e lixo em geral que os zelosos cidadãos, "respeitadores da natureza" largam por todo lado na maior das descontracções.

Resumindo e terminando, um festival deste género pode trazer um sem fim de possibilidades de negócio, incluídos aqueles considerados como honestos.

Sem comentários:

Enviar um comentário