O
tema dos carros eléctricos, excluídos os que chocam
provocando o gáudio dos ocupantes nas pistas das festas locais,
ainda dará bastante pano para mangas. As mangas serão tantas que
muitos coletes vão ser transformados em novas peças de vestuário.
Recordemos
que foi para substituir a tracção de sangue, identificada pelas
mulas, que se electrificaram os anteriores “americanos” também
conhecidos, na época, como “choras”. Foi um progresso nas
deslocações citadinas, que posteriormente tratou de eliminar a
sujeição ao traçado de carris de ferro, embutidos no pavimento,
usando uma dupla linha eléctrica, uma com corrente e outra para
fazer a ligação à terra. Eram os chamados trólei-bus, com rodados
de borracha. Mesmo com esta evolução permanecia a imposição de um
percurso fixo e a impossibilidade de poder ultrapassar um veículo
avariado por outro funcional.
Ou
seja, que as tentativas de reduzir a emissão de gases poluentes
originados na combustão dos motores dos veículos, já se tinha
ensaiado mais de um século atrás. Mas a evolução da sociedade não
parou e as exigências dos cidadãos incluíram o poder usar um
veículo próprio.
A
solução a muitos dos problemas técnicos que retraiam a introdução
massiva de automóveis movidos pela energia eléctrica estavam
centrados no peso das baterias necessárias para garantir a potência
desejada, e também na recarga das mesmas quando deixavam de
responder. Progressos técnicos nas baterias conseguiram reduzir, em
parte, os inconvenientes sentidos pelo utente.
O
que impulsou a introdução destas viaturas, quase autónomas, foi
não só o sentimento de respeitar o ambiente e o receio de
contribuir ao temido aquecimento global, mas algumas decisões,
mais prosaicas, que os governantes tomaram. Por um lado a instalação
de um número de centros de recarga das baterias que equivalesse à
actual rede de venda de combustíveis, o que ainda não está
plenamente conseguido, mesmo com o recurso à “carga rápida”. Um
aumento de veículos deste tipo, se activos, obrigará a colocar
mais postos de recarga, evitando assim as enervantes filas de espera.
Outro
factor exógeno foi o de os governos arcarem numa fracção,
importante, do preço de venda destes veículos, no intuito de os
tornar mais apetecíveis ao comprador. Neste momento já se fala em
eliminar este subsídio, o que seria uma série machadada nos países
em que a decisão se torne efectiva.
Olhando
para o transito actual, maioritário com motores de combustão
interna, podemos imaginar que os carros eléctricos podem ser uma
parte da solução para os fluxos pendulares de entrada e saída das
cidades e distribuição dos cidadãos para os seus lares, muitos
deles sitos em locais relativamente distantes e onde a rigidez dos
transportes colectivos não os satisfazem. Será possível instalar
postos de recarga em locais e número equivalente aos actuais postos
de combustíveis?
Com
mais ou menos esforço, e com uma revisão profunda da rede de
transportes colectivos, os veículos com motor eléctrico podem ser
parte da solução para os urbanitas. Mas onde a porca torce o rabo
será nas zonas maiormente agrícolas, dos tractores e veículos de
carga. Muitos residentes fora dos núcleos urbanos, incluindo vilas,
possuem viaturas “clássicas”, que usam esporadicamente e, em
muitas ocasiões, para percursos curtos. Estes cidadãos não é
provável que se decidam por juntar um carro eléctrico à sua frota.
Independente
destes raciocínios especulativos é pertinente recordar que existem
poderosos interesses económicos que pressionam num ou noutro
sentido, nem sempre opostos, mas cada um puxando a brasa para a sua
sardinha. E entretanto planeta continua a girar, em mais um ciclo de
aquecimento/arrefecimento, desta vez com a colaboração teimosa e
insensata do homem.
NOTA:
ao citar homem não aponto
ao Trump, mas ao bípede geral que nos representa, incluindo mulheres
e variantes.
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