domingo, 4 de junho de 2017

MAIS LENHA À FOGUEIRA



O tema dos carros eléctricos, excluídos os que chocam provocando o gáudio dos ocupantes nas pistas das festas locais, ainda dará bastante pano para mangas. As mangas serão tantas que muitos coletes vão ser transformados em novas peças de vestuário.

Recordemos que foi para substituir a tracção de sangue, identificada pelas mulas, que se electrificaram os anteriores “americanos” também conhecidos, na época, como “choras”. Foi um progresso nas deslocações citadinas, que posteriormente tratou de eliminar a sujeição ao traçado de carris de ferro, embutidos no pavimento, usando uma dupla linha eléctrica, uma com corrente e outra para fazer a ligação à terra. Eram os chamados trólei-bus, com rodados de borracha. Mesmo com esta evolução permanecia a imposição de um percurso fixo e a impossibilidade de poder ultrapassar um veículo avariado por outro funcional.

Ou seja, que as tentativas de reduzir a emissão de gases poluentes originados na combustão dos motores dos veículos, já se tinha ensaiado mais de um século atrás. Mas a evolução da sociedade não parou e as exigências dos cidadãos incluíram o poder usar um veículo próprio.

A solução a muitos dos problemas técnicos que retraiam a introdução massiva de automóveis movidos pela energia eléctrica estavam centrados no peso das baterias necessárias para garantir a potência desejada, e também na recarga das mesmas quando deixavam de responder. Progressos técnicos nas baterias conseguiram reduzir, em parte, os inconvenientes sentidos pelo utente.

O que impulsou a introdução destas viaturas, quase autónomas, foi não só o sentimento de respeitar o ambiente e o receio de contribuir ao temido aquecimento global, mas algumas decisões, mais prosaicas, que os governantes tomaram. Por um lado a instalação de um número de centros de recarga das baterias que equivalesse à actual rede de venda de combustíveis, o que ainda não está plenamente conseguido, mesmo com o recurso à “carga rápida”. Um aumento de veículos deste tipo, se activos, obrigará a colocar mais postos de recarga, evitando assim as enervantes filas de espera.

Outro factor exógeno foi o de os governos arcarem numa fracção, importante, do preço de venda destes veículos, no intuito de os tornar mais apetecíveis ao comprador. Neste momento já se fala em eliminar este subsídio, o que seria uma série machadada nos países em que a decisão se torne efectiva.

Olhando para o transito actual, maioritário com motores de combustão interna, podemos imaginar que os carros eléctricos podem ser uma parte da solução para os fluxos pendulares de entrada e saída das cidades e distribuição dos cidadãos para os seus lares, muitos deles sitos em locais relativamente distantes e onde a rigidez dos transportes colectivos não os satisfazem. Será possível instalar postos de recarga em locais e número equivalente aos actuais postos de combustíveis?

Com mais ou menos esforço, e com uma revisão profunda da rede de transportes colectivos, os veículos com motor eléctrico podem ser parte da solução para os urbanitas. Mas onde a porca torce o rabo será nas zonas maiormente agrícolas, dos tractores e veículos de carga. Muitos residentes fora dos núcleos urbanos, incluindo vilas, possuem viaturas “clássicas”, que usam esporadicamente e, em muitas ocasiões, para percursos curtos. Estes cidadãos não é provável que se decidam por juntar um carro eléctrico à sua frota.

Independente destes raciocínios especulativos é pertinente recordar que existem poderosos interesses económicos que pressionam num ou noutro sentido, nem sempre opostos, mas cada um puxando a brasa para a sua sardinha. E entretanto planeta continua a girar, em mais um ciclo de aquecimento/arrefecimento, desta vez com a colaboração teimosa e insensata do homem.


NOTA: ao citar homem não aponto ao Trump, mas ao bípede geral que nos representa, incluindo mulheres e variantes.

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