sexta-feira, 30 de novembro de 2018

MEDITAÇÕES 48 - Comentando uma entrevista



O QUE CONTOU O ARQUITECTO TOMÁS TAVEIRA

Li, com progressivo interesse a transcrição (fiel? não ponho a mão no lume...) de uma entrevista concedida pelo Arquitecto Tomás Taveira, que foi figura de capa quando se terminou o edifício das Amoreiras, incluindo o naquel então, incomparável centro comercial, Que dizem -eu não frecuento e por isso não posso opinar- que ainda é um local de culto para os adeptos destes aglomerados de lojas onde gastar, restauração e lazer.

É muito interessate seguir o relato de Taveira e ponderar as suas afirmações. Recordar que saíram do seu estúdio, além de dificios privados, alguns dos estádios de futebol que se ergueram para "colocar Portugal no mapa da FIFA". Destas obras, fossem de Taveira ou de outros arquitectos, algumas não conseguem ter um apoveitamento continuado, que amortize ou justifique o investimento nem a sua manutenção. Digamos que alguns foram Fífios. Mas destas decisões tomadas pela influência da mania das grandezas, resultaram construções que nos fazem pensar na acusação de puxar as mangas além do comprimento dos braços.

Transparece que o mercado nacional, em especial naquilo que depende do governo, não tem tido para Taveira o fluxo de trabalho que o seu currículo justificaria. As grandes encomendas, quando se efectivam, lhe vieram de fora. Taveira atribui este alheamento de novos projectos a que o mercado está saturado de arquitectos que poucas novidades trazem. Além de que criaram hábitos diferentes e existem uns poucos profissionais endeusados. Seja como for a sua orientação deixou de ter público, e sente-se sem ânimo para tentar abrir novo caminho.

Ao longo do discurso aparece, em mais de uma ocasião, a referência que o próprio faz da sua origem social, humilde mas honeta e trabalhadora. Não esconde as dificuldades que pesavam sobre a sua família, e relata com algum pormenor o seu percurso profissional e de estudos, e como atingiu renome internacinal enquanto que cá dentro sempre sentiu, como é tradicional, que os poderosos e bem situados na sociedade portuguesa, o toleraram e aplaudiram, paparam os seus almoços e o abraçaram com palmadas nas costas enquanto quiseram, e depois o esqueciam em minutos,

O jornalista, guardou para o fim o isco com o qual pretendia abrir uma brecha que já foi sensacionalista. Tentou que caísse na história dos vídeos eróticos gravados no seu estúdio com senhoras bem situadas, "da alta sociedade". Não mordeu, apesar da insistência.do jornalista. Mas, recordando o episódio, julgo que Taveira quis vingar-se,por interpostas pessoas -concretamente com as esposas- daqueles que o desprezaram. Nunca lhe perdoaram a afronta.

De certa forma, o azedo no esófago que Taveira carrega, recorda-me, sem ser exactamente igual, o de um político nacional de primeira linha que, em demasiadas ocasiões, referia da sua origem popular na tentativa de mostrar como, apesar de não ter nascido em berço de oiro, conseguiu alcançar o lugar mais elevado na escala nacional. Tantas vezes fez referência a que trabalhou com a enxada quando foi necessário, que com esta atitude só conseguiu cavar, dada vez mais fundo,o fosso social, absurdo mas incontestável, que o manteve afastado das pseudo elites nacionais.













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