O QUE CONTOU O ARQUITECTO TOMÁS TAVEIRA
Li,
com progressivo interesse a transcrição (fiel? não ponho a
mão no lume...) de uma entrevista concedida pelo Arquitecto
Tomás Taveira, que foi figura de capa quando se terminou o
edifício das Amoreiras, incluindo o naquel então,
incomparável centro comercial, Que dizem -eu não frecuento e
por isso não posso opinar- que ainda é um local de culto para
os adeptos destes aglomerados de lojas onde gastar, restauração
e lazer.
É
muito interessate seguir o relato de Taveira e ponderar as suas
afirmações. Recordar que saíram do seu estúdio, além de
dificios privados, alguns dos estádios de futebol que se
ergueram para "colocar Portugal no mapa da FIFA".
Destas obras, fossem de Taveira ou de outros arquitectos,
algumas não conseguem ter um apoveitamento continuado, que
amortize ou justifique o investimento nem a sua manutenção.
Digamos que alguns foram Fífios. Mas destas decisões tomadas
pela influência da mania das grandezas, resultaram construções
que nos fazem pensar na acusação de puxar as mangas
além do comprimento dos braços.
Transparece
que o mercado nacional, em especial naquilo que depende do
governo, não tem tido para Taveira o fluxo de trabalho que o
seu currículo justificaria. As grandes encomendas, quando se
efectivam, lhe vieram de fora. Taveira atribui este alheamento
de novos projectos a que o mercado está saturado de
arquitectos que poucas novidades trazem. Além de que criaram
hábitos diferentes e existem uns poucos profissionais
endeusados. Seja como for a sua orientação deixou de ter
público, e sente-se sem ânimo para tentar abrir novo caminho.
Ao
longo do discurso aparece, em mais de uma ocasião, a
referência que o próprio faz da sua origem social, humilde
mas honeta e trabalhadora. Não esconde as dificuldades que
pesavam sobre a sua família, e relata com algum pormenor o seu
percurso profissional e de estudos, e como atingiu renome
internacinal enquanto que cá dentro sempre sentiu, como é
tradicional, que os poderosos e bem situados na sociedade
portuguesa, o toleraram e aplaudiram, paparam os seus almoços
e o abraçaram com palmadas nas costas enquanto quiseram, e
depois o esqueciam em minutos,
O
jornalista, guardou para o fim o isco com o qual pretendia
abrir uma brecha que já foi sensacionalista. Tentou que caísse
na história dos vídeos eróticos gravados no seu estúdio com
senhoras bem situadas, "da alta sociedade". Não
mordeu, apesar da insistência.do jornalista. Mas, recordando o
episódio, julgo que Taveira quis vingar-se,por interpostas
pessoas -concretamente com as esposas- daqueles que o
desprezaram. Nunca lhe perdoaram a afronta.
De
certa forma, o azedo no esófago que Taveira carrega,
recorda-me, sem ser exactamente igual, o de um político
nacional de primeira linha que, em demasiadas ocasiões,
referia da sua origem popular na tentativa de mostrar como,
apesar de não ter nascido em berço de oiro, conseguiu
alcançar o lugar mais elevado na escala nacional. Tantas vezes
fez referência a que trabalhou com a enxada quando foi
necessário, que com esta atitude só conseguiu cavar, dada vez
mais fundo,o fosso social, absurdo mas incontestável, que o
manteve afastado das pseudo elites nacionais.
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Neste espaço pretendo colocar relatos de experiência próprias e algumas elucubrações mais ou menos disparatadas.
sexta-feira, 30 de novembro de 2018
MEDITAÇÕES 48 - Comentando uma entrevista
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