quarta-feira, 21 de novembro de 2018

MEDITAÇÕES 43 - Pensar antes de agir


PONTOS DE VISTA

No anterior apontamento foquei um tema pontual, que pode ter induzido a que alguns leitores (daquela meia dúzia de sacrificados) não se sentissem motivados. Neste momento, e influenciado por coisas que encontro passeando pela net insisto em me  debruçar sobre assuntos locais, se bem que, a meu entender, devem ser vistos como mais gerais do que localizados. Mas isto depende da visão de cada pessoa.
Antes de entrar em matéria quero deixar um leve alerta acerca de que não podemos ver a actualidade obcecados com a experiência do passado se isto nos tolhe o raciocínio e nos desfasa do que hoje prima e do que se ultrapassou. É evidente que tampouco é  favorável enterrar o passado como sendo um repositório de inutilidades. É pertinente separar o trigo do joio, e aprender recordando. A cultura é cumulativo, mas com um arquivo de accesso fácil.
O progresso científico e tecnológico sempre substituiu funções e objectos. Para melhor? Normalmente é o que se pretende. Então como podemos agir perante actividades que se tornaram obsoletas? Ficam na memória durante uns tempos até que,por chegarem novos abandonos, que progressivamente vão enterrando os anteriores nos estratos do esquecimento. Felizmente há sempre quem tenta manter algumas brasas acesas.
Como exemplo poderíamos recordar que só os grupos de escuteiros, e mesmo assim uma vez por ano, se tanto, é que tentam recuperar a tecnologia de conseguir acender uma fogueira a partir de golpes numa pederneira. Ou que alguém tente sobreviver produzindo, manualmente, talheres de madeira para uso diário. Ou num campo mais tecnológico, produzir cal em fornos verticais aquecidos com lenha e detritos, carregados e descarregados manualmente, como eu vi fazer ainda nos anos '50 e '60 do século passado. Ou saírem a pescar em barcos impulsados manualmente com remos, ou do vento. Ainda existem pescadores que procuram a subsistência com este método, mas a maioria já depende do motor de explosão.

Hoje vi uma notícia, acompanhada de um incitamento para aderir a uma espécie de impugnação para tentar anular o desmantelamento total dos pavilhões da fábrica de cerâmica SECLA nas Caldas da Rainha. Dizem, os descontentes, que se deve conservar, nem que seja parcialmente, e ali instalar uma espécie de museu, que, como sabemos, seria pouco visitado, a não ser que empurrando grupos com visitas guiadas, habitualmente alunos de escolas, aos quais aquilo lhes interessa pouquíssimo, ou nada. As pessoas radicadas nas Caldas da Rainha, e noutros municípios donde a indústria cerâmica deu muitos postos de trabalho e negócios rentáveis são testemunhas directas de como as matérias plásticas por um lado e a concorrência de produtos vindos do oriente, liquidaram, sem dó nem piedade, um sector que foi florescente.
E estas mudanças ou substituições, imparáveis, são recorrentes, numa sequência cada vez mais rápida. Tentar manter "mortos vivos" como numa série da TV é uma atitude votada ao fracasso. Lamentamos ver desaparecer indústrias e hábitos que acompanhamos com agrado durante décadas. Mas também nos caem os dentes e morreremos, infalivelmente. É aconselhável focar os problemas ou situações com pragmatismo e não nos deixar enlevar pelo sentimentalismo.

A poucos quilómetros das Caldas tem-se um exemplo de como a abordagem fantasiosa do passado, da história visível e não da imaginada, pode afogar uma povoação, deixando-a.literalmente às moscas, mas cheia de visitantes com reduzido tempo de permanência , e vergonhosamente cativados com actividades comerciais mono-temáticas e extensivas. Entretanto foi abandonado ou pouco incentivada a visão real e o passado daquele burgo. Os museus, que estão em fase de abandono - muitos dias com as portas fechadas-  sem visitantes, não se adaptaram a sua temática de modo a oferecer o que um forasteiro, de origem longínqua ou de perto, poderia gostar de encontrar, nomeadamente poder apreciar, nem que seja preparado propositadamente, como os cenários de um filme, o que de diferente foi sendo a vida naquele burgo ao longo dos tempos históricos.. 
Festivais temáticos funcionam durante uns dias por ano, mesmo que os substituam por outros através de um calendário intensivo. E depois tornam-se banais, pois são imitados. Mas um grupo de israelitas sei, por experiência directa, procura saber de como.donde e quando, moravam os judeus em aquela terra. Encontram referências na NET, mas nada de concreto lhes é oferecido para justificar a viagem. Quem subir às muralhas e tiver a sorte de não morrer na aventura, pergunta pela evolução histórica daquela várzea e de como a lagoa de Óbidos foi progressivamente assoreando.  Também, em qualquer país que visitarmos, nos é mostrada a evolução da agricultura, o que deixou de se fazer e o que existe na actualidade. 
Circular entre lojas de artigos manufacturados, como num soco marroquino, não dá uma boa imagem a uma povoação que deveria ter orgulho no seu passado e mostrar, a quem não sabe, o que ali aconteceu.Inclusive a história geológica do local onde se instalou a povoação, irmã do Sobral.
Visitar museus antiquados, por iniciativa pessoal, está fora de moda. Tal como ficaram as enciclopédias, que morrem de tédio numa estante. Hoje a evolução tecnológica levou à noção de que tudo aquilo que nos pode incitar a curiosidade está disponível, sem esforço, num teclado e num visor, a cores e com as explicações pertinentes. Portanto é forçoso mostrar aquilo que não se encontra com facilidade.
Quem se preocupa por questões sociais, promocionais ou culturais, deve, em primeiro lugar, situar-se na realidade do momento e, se possível, tentar antever o futuro mais imediato.


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