sábado, 1 de dezembro de 2018

MEDITAÇÕES 49 - As palavras variam




DEMOCRACIA E SOCIALISMO. PODEMOS ACREDITAR ? 

A experiência nos alerta acerca da volubilidade dos significados de certas palavras. Seria suficiênte comparar os termos que constam em dois dicionários da língua portuguesa editados com umas décadas de diferença. Se possível uma centena. Teriamos algumas surpresas com os significados atribuídos para alguns termos. Além de serem diferentes alguns ficariam em extremos opostos.

Um exemplo curioso é o do significado do termo sacana, que actualmente equivale a biltre, patife, bandalho, scanalha, malandro, s abido, espertalhão, trapaceiro, libertino, libidinoso, décadas atras correspondia, concretamente, a individuo que manuseia o órgão sexual de outro homem com propósitos libidinosos.

Todavia o meu propósito inicial era o de me limitar a comentar se o significado de palavras de uso corrente na política nos merecem confiança. Numa análise imediata nos encontramos com que o mesmo termo pode ser usado com diferentes propósitos, alguns deles situados em cacifos dispares. Limitando-nos ao nosso tempo de vida, não esquecemos que nos países onde se instalaram regimes fortemente ditatoriais, no intuito de mascarar a sua realidade gubernativa utilzaram, como mote para se definirem, as palavras REPÚBLICA, DEMOCRACIA, SOCIALISMO, POPULAR e variantes, sem se cingir ao significado que se admitia -com reservas- no ocidente.

O termo REPÚBLICA, que se considera ter sido cunhado na Grécia clássica, não coincide com o imaginário actual, e muito menos se o ligarmos ao conceito de DEMOCRACIA POPULAR. Pois que na época em que se colocaram estes termos na gíria política, era muito restrito o número de pessoas que tinham direito a se manifestar, a escolher, a decidir. Hoje, de facto, pouco difere a situação, mesmo que, aparentemente se efectuem eleições gerais e livres, dado que o são com listas fechadas.

Resta alguma dúvida acerca de se a denominação de repúblicas socialistas soviéticas ou de Alemanha democrática do Leste cumpriam as normas de liberdade e direitos individuais eram cumpridos rigorosamente ou,pelo contrário, o rigor de cumprir era o determinado por um grupo de auto-seleccionados, “em nome do seu povo”?

Pois sem cair nestes extremos. tão escandalosos, eu pessoalmente me encontro perante a impossibilidade de acreditar nos cabeçalhos de muitos partidos e grupos de políticos. Tomemos o caso do Partido Social Demócrata. PSD, que todos consideramos estar firmemente ligado ao capital, ou dito de outra forma: é considerado como partido da direita, e em consequência, disposto a transigir com muita relutância e até com algumas ratoeiras que os anulem, aos clamores de melhoras emanados das classes proletárias de vários níveis. Com muita benevolência do cidadão pensante, os epítetos de social e de demócrata, não encaixam perfeitamente É pena.

Vamos ao Partido Socialista PS, Pode estar partido nos seus princípios históricos, mas a experiência nos tem mostrado que o seu núcleo duro está cada dia mais em concordãncia com o poder económico. A história das 30 moedas repete-se constantemente, mas admite-se que as importâncias são bem superiores. Não é de hoje, nem ontem, que se admitiu que o socialismo foi guardado na gaveta, bem fechado. E, sinceramente, atendendo ao pragmatismo desejado na condução da sociedade, ainda bem que retiraram do seu livro de tarefas o nacionalizar à brava. Mas a opçaõ conseguiu ser pior, pois venderam as boas empresas, que deviam permanecer na posse do estado, a troco não de um prato de lentilhas mas (se acreditar-mos nos dizeres que por aí proliferam) de depósitos ocultos e bons lugares de administração.

As facções com denominações semelhantes a Democracia Cristã, apesar de se mascararem com a bonomia da religião, todos sabem que estão, em todos os países onde proliferam, íntimamente ligados à banca e aos negócios mais ou menos escuros. A Itália tem uma longa e triste experiência de como governam estes benfeitores. A evolução da sociedade em geral vai criando anticorpos a estes subterfúgios de mascarar a ignomínia com vestes religiosas.

Resta o Partido Comunista já residual e desacreditado, não só pelos seus logros em Portugal mas, principalmente, porque internacionalmente mostrou ter um roteiro sumamente pernicioso, ditatorial e mais selectivamente nepotista do que qualquer outro. Hoje serve para agitar as águas e pressionar os mandantes a ceder rangenddo os dentes. Mas, não esqueçamos que depois, as contrapartidas ocultas são mais graves do que as benesses concedidas.

E chego ao fim, declarando que sempre fui um utópico socialista, mais virado para social demócrata, por não partilhar com convicção das fúrias expoliadoras dos fanáticos revolucionários. Daí que nunca me filiei em nenhum partido, nem entrei em debates. Prefiro ter total liberdade de crítica e opinião, mesmo que fique restrita ao meu colarinho.

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