segunda-feira, 5 de novembro de 2018

MEDITAÇÕES 35 - QUANTOS SOMOS ?




Quantos somos num só corpo?

É relativamente frequente ver que alguém é indiciado como tendo uma dupla personalidade. Uma afirmação que em geral comporta uma reprovação sobre o comportamento do indivíduo visado. Hoje, casualmente, estava pensando em se, qualquer um de nós, pode gabar-se de ter uma personalidade única, nem que seja do calibre de causar repúdio, repulsa, pela maioria daqueles que tiveram a oportunidade de privar com ele, com uma certa continuidade, ou seja não ajuizando com base num convívio esporádico.

A meu entender a pessoa que mais tem a obrigação de se conhecer,profundamente, é o próprio, enquanto que os outros, inclusive os seus familiares directos, podem desconhecer ou tentar desvalorizar, certas facetas que nem o visado gosta de referir. Por isso insisto em que esta análise comportamental implica um tempo de isolamento, onde as interferências normais não se façam sentir. É difícil e potencialmente desconfortável pois que muitas das considerações que se procuram ficar num limbo são, precisamente, desagradáveis para ele mesmo.

O que vou tentar esmiuçar deveria ser comum aos dois sexos, mas sabemos que a personalidade das mulheres, independentemente das pressões familiares e sociais, não funciona exactamente igual à dos homens. Não me atrevo a especular sobre as nossas fêmeas, e fico, propositadamente, restrito a um dos dois sexos tradicionais, apesar de saber que a complexidade hoje reconhecida tem a sua história bem antiga na humanidade.

Comecemos, por um lado qualquer pode ser a da fidelidade conjugal. Por muito que custe aceitar a alguns que alardeiam de puristas, o homem é, como a maioria dos animais, aparentemente monogâmico mas instintivamente promíscuo. Ou seja, deve ser muito raro o noivo, marido ou companheiro que nunca tenha saltado a cerca, fosse porque tentou e conseguiu ou porque a oportunidade surgiu de tal modo propícia que não podia negar a sua participação, sob pena de ser qualificado como um macho totalmente domado ou nem sequer tão interessado pelo outro sexo quanto era a sua imagem pública. Quem teve aconselhamento doutrinal na sua juventude deve recordar que se admitia que podia pecar-se por obra ou pensamento. Daí que suponho ser muito raro encontrar um homem que nem sequer em pensamento, incluídos os sonhos, não tenha sido infiel.


Da honestidade na faceta económica teríamos que conhecer, com profundidade, as razões e motivações que podem ter conduzido a faltar à sua própria regra. No caso extremo é citado aquele que tem que surripiar comida, que não pode pagar, para se alimentar ou dar alimento à sua família. A partir daí temos uma longa escala de pressões, umas interiores e outras exteriores, que podem levar a que o indivíduo que, sinceramente, se considera  totalmente honesto, tenha sido levado a faltar ás suas próprias regras.

Honestidade e coerência política é um dos ramos que nem sequer vale a pena debater. Aqueles que se sentiram, interiormente, tentados a endireitar a governação, depressa descobrem que ficaram presos entre grossos muros de interesses, sempre ligados a favores que são quantificados em dinheiro ou o equivalente em poder,mais cedo ou mais tarde remunerado. A partir da simples gratificação um porteiro -nem sempre justificável- a compensação de favores é endémica. E quem não quer abdicar da sua liberdade não entra no jogo ou renuncia rapidamente. Os que continuam, insistem, estão condenados a um dos muitos infernos de Dante. Mas não se preocupam com isso, pois que além de não valorizar as penas depois da morte, contam com que outros lhes devem favores que não desejam sejam publicitados. Daí que se apoiem uns aos outros.

O capítulo da vida sexual, ou mais especificamente, dos comportamentos não clássicos ou os que se aceitava não existirem, (fechando os olhos) a evolução dos parâmetros sociais já deixou de apontar, de forma alarmista e recriminatório os que se filiaram nos comportamentos até pouco tempo atrás vistos como infamantes. Personagens que já eram qualificados como "extravagantes", saíram do armário voluntariamente. Todavia, não se considera aceitável que o mesmo indivíduo mantenha uma vida familiar do tipo clássico e, simultaneamente, circule pelo passeio oposto.

Ainda me ocorre o caso de um indivíduo ter uma imagem social de extrema seriedade, um cara de pau, e depois vir a saber-se que é um crítico, gozarão, cruel e despiedado. Que sob pseudónimo ou simples anonimato tem o costume de descascar nos outros, com razão ou sem ela, por simples desejo de infamar.

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