domingo, 4 de novembro de 2018

MEDITAÇÕES - 33 Aluados



SERÁ PELA LUA?

Tenho a impressão de que actualmente as pessoas estão cada vez mais cépticas, descrentes, mesmo aqueles que por rotina seguem os ritos religiosos que herdaram dos seus ancestros. Em geral os cumprem mecanicamente, sem aprofundarem no seu significado e nos efeitos que provocam na sociedade.

A mente das pessoas sofre múltiplas influências, e na época em que vivemos e atendendo à velocidade com que os costumes se vão adaptando a novas solicitações, é de justiço admitir que existem vectores novos com um potencial de captação muito poderoso. Apesar desta espécie de controle inusitado, quase que imperceptível que instintivamente exercemos, a nossa mente absorve e digere muitos conceitos que nos desviam do que anteriormente constituía o roteiro pessoal, o legado do grupo a que se pertence.

O que mais me perturba é a ideia, que pode não corresponder à realidade, de que muito daquilo que constituía uma cultura popular, de transmissão oral familiar, está sendo substituída por uma série de transferências, incompletas e por vezes mal aplicadas, dos progressos do conhecimento mais elevado. Nem sempre o que se oferece à população corresponde ao quede mais importante existe naquele tema.

Uma faceta que pode parecer sem importância, mas confunde a cidadania é a perda, progressiva, do contacto real com a influência das estações nos cuidados na agricultura e na presença dos seus frutos em épocas determinadas. A invasão de mercadorias alimentares pelo comércio global, mundial é mais importante neste desencontro do que possa parecer num visão simplista. Penso que muitos cidadãos já não se admiram de encontrar nas bancas frutas e legumes que 40 anos atrás só estavam disponíveis nas alturas pertinentes. Pode parecer uma meditação sem importância, mas o que se verifica é um desfasamento entre o consumidor em geral e o produtor tradicional. Ganhamos ou perdemos? Uns apostarão num sentido e outros, mais conservadores, no outro.

E após este prelúdio quero fazer referência a uma influência astral que, durante milénios, além de se considerar como indiscutível, foi tomada em linha de conta pela sociedade humana, e também pelos animais ditos irracionais. A lua e a sua situação a distância variável em relação à Terra, sempre foi vista como tendo um poder “misterioso” mas indiscutível.

Para nós, humanos, o capítulo mais notável nesta actuação invisível, mas verificada ao longo de séculos, está no período normal de gestação das mulheres. Ainda hoje os médicos procuram saber a data em que se deu a fecundação para, a partir dela, prever a altura do parto. E para isso fazem a contabilização do tempo de duração de dez períodos lunares, e não de meses do calendário civil, como erradamente se considera.

Desde a alvorada da civilização, mesmo a mais rudimentar, atribuíram-se ao nosso satélite poderes mentais e comportamentais que, deram origem a definições, empíricas mas com pretensões de serem correctas, de desvios comportamentais. Mesmo que alguns dos termos clássicos hoje já passaram para o baú do esquecimento, considero ser interessante a sua citação. Vejamos alguns exemplos:

Aluado; alucinado; aluarado lunático.

Os exemplos seleccionados nos incitam a considera-los como directamente ligados à Lua. Mas existem sinónimos mais abrangentes que complementam a ideia de transtornos mentais e comportamentais que só se explicavam pela influência do astro circunavegador. Tais como: absurdo; alienado; aloucado; alvoreado; amalucado; arrebatado; atoleimado; demente; desequilibrado; disparatado; doidivanas; doido; estouvado; excêntrico; extravagante; exorbitante; fantasista; furioso; insensato; maluco; maníaco; sonhador; tresloucado; variado.

Hoje,em que pretendemos que a sensatez e a ciência, incluída a farmacologia, ou seja as drogas, nos resolvam todos os problemas físicos e psíquicos, incluídos os comportamentais que se desviam das regras ditas normais, o poder dos astros ficou reservado aos adeptos da astrologia e quiromancia, que são vistos como chalados pelos que nos valorizamos como sensatos de pró.

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