UNS
SÃO BENÉVOLOS E OUTROS DRÁSTICOS
Ontem
vi mais alguns apontamentos sobre a processo interno que a justiça
abriu contra o Juíz Carlos Alexandre, e deduzi que se baseava a ter
referido facetas da sua participação nos inquéritos feitos a um
ex-primeiro ministro -que parece recentemente escolheu residir a
Ericeira, quiçá para dali embarcar para o Brasil, em
auto-exílio- e. pelos vistos, estes descuidos, ou atrevimentos,
por parte de um juiz não se podem aceitar. Dado isto TOMA, QUE É
PARA APRENDERES !
O
facto de que a acção deste Juiz, ao longo de muitos meses, ter sido
valorizada por um enorme sector da população de Portugal como a de
um pioneiro, de primeira linha, na aplicação da justiça sem ceder
a pressões políticas. Mas estas são considerações anímicas que
não pesam nas decisões corporativas., nem alteram a interpretação
das leis que nos deviam governar com rapidez e transparência.
Aquilo
que, pessoalmente, me entristece é o deduzir que o Juíz Carlos
Alexandre, parco em palavras para jornalistas ao longo do processo,
tenha aceite entrar e cair numa ratoeira, que era evidente.
Considero ser este juiz ser pessoa esperta, honesto e cauteloso,
cioso dos seus limites, mas que, desta vez, e sem que se perceba,
engoliu o isco, mais o anzol, a cana e o carreto. Os seus pares,
aqueles que auferem da potestade de zelar pelo rigoroso cumprimento
do livro de conduta dos membros da magistratura, caso optarem por um
caminho de excessivo rigor no formalismo, serão vistos pela
cidadania -ou por uma parte dela- como possivelmente influenciados
pelas pressões políticas de um sector determinado. Temos que
aguardar para ver.
Sem
que esta situação, que me acompanhou quando decidi fechar os olhos
e a mente para dar lugar ao sono reparador, justificasse o que me
consumiu durante horas, entrei num balanço muito crítico das minhas
actuações profissionais e de ordem pessoal. Nem aquelas que
reconheço não foram mal decididas propositadamente. O desleixo ou a
incúria não deixam de ser reprováveis.
Este
“mea culpa” da noite passada, ou se preferir um julgamento
interno, nem sequer foi original, pois que tem acompanhado ao longo
de anos. O mais penoso destas meditações é que só me acuso e não
apresento a mais mínima desculpa ou justificação para os erros
que, vistos ao longe no espaço temporal, carrego, figurativamente,
sobre as costas. As depressões que fatalmente induzem estas
memórias, deixa-me arrasado e sem forças para dormir e esquecer.
Por
vezes recuo para os anos da primeira infância em que me diziam ter,
ao meu lado, um diabrete, maligno como pertence, e no outro um anjo
da guarda protector. Ao ter optado pelo ateísmo militante deixei de
usufruir do advogado de defesa pessoal. Daí as insónias
irremediáveis, pois, como sabemos, nunca poderemos recuar
factualmente no tempo e agir sobre acções que já ultrapassaram a
fase em que seria possível corrigir. Ficam só os remorsos e
auto-críticas, sem poder para neutralizar ou alterar o mal feito.
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