quarta-feira, 28 de novembro de 2018

MEDITAÇÕES - 47 . SER JUIZ EM CAUSA PRÓPRIA


UNS SÃO BENÉVOLOS E OUTROS DRÁSTICOS

Ontem vi mais alguns apontamentos sobre a processo interno que a justiça abriu contra o Juíz Carlos Alexandre, e deduzi que se baseava a ter referido facetas da sua participação nos inquéritos feitos a um ex-primeiro ministro -que parece recentemente escolheu residir a Ericeira, quiçá para dali embarcar para o Brasil, em auto-exílio- e. pelos vistos, estes descuidos, ou atrevimentos, por parte de um juiz não se podem aceitar. Dado isto TOMA, QUE É PARA APRENDERES !
O facto de que a acção deste Juiz, ao longo de muitos meses, ter sido valorizada por um enorme sector da população de Portugal como a de um pioneiro, de primeira linha, na aplicação da justiça sem ceder a pressões políticas. Mas estas são considerações anímicas que não pesam nas decisões corporativas., nem alteram a interpretação das leis que nos deviam governar com rapidez e transparência.
Aquilo que, pessoalmente, me entristece é o deduzir que o Juíz Carlos Alexandre, parco em palavras para jornalistas ao longo do processo, tenha aceite entrar e cair numa ratoeira, que era evidente. Considero ser este juiz ser pessoa esperta, honesto e cauteloso, cioso dos seus limites, mas que, desta vez, e sem que se perceba, engoliu o isco, mais o anzol, a cana e o carreto. Os seus pares, aqueles que auferem da potestade de zelar pelo rigoroso cumprimento do livro de conduta dos membros da magistratura, caso optarem por um caminho de excessivo rigor no formalismo, serão vistos pela cidadania -ou por uma parte dela- como possivelmente influenciados pelas pressões políticas de um sector determinado. Temos que aguardar para ver.

Sem que esta situação, que me acompanhou quando decidi fechar os olhos e a mente para dar lugar ao sono reparador, justificasse o que me consumiu durante horas, entrei num balanço muito crítico das minhas actuações profissionais e de ordem pessoal. Nem aquelas que reconheço não foram mal decididas propositadamente. O desleixo ou a incúria não deixam de ser reprováveis.
Este “mea culpa” da noite passada, ou se preferir um julgamento interno, nem sequer foi original, pois que tem acompanhado ao longo de anos. O mais penoso destas meditações é que só me acuso e não apresento a mais mínima desculpa ou justificação para os erros que, vistos ao longe no espaço temporal, carrego, figurativamente, sobre as costas. As depressões que fatalmente induzem  estas memórias, deixa-me arrasado e sem forças para dormir e esquecer.
Por vezes recuo para os anos da primeira infância em que me diziam ter, ao meu lado, um diabrete, maligno como pertence, e no outro um anjo da guarda protector. Ao ter optado pelo ateísmo militante deixei de usufruir do advogado de defesa pessoal. Daí as insónias irremediáveis, pois, como sabemos, nunca poderemos recuar factualmente no tempo e agir sobre acções que já ultrapassaram a fase em que seria possível corrigir. Ficam só os remorsos e auto-críticas, sem poder para neutralizar ou alterar o mal feito.



Sem comentários:

Enviar um comentário