BORBA
E O PRIMEIRO MINISTRO
Se
existe uma situação comum a muitos sucessos mediáticos
que,infelizmente,comportam a perda de vidas humanas, concretamente de
cidadãos que nada fizeram que justificasse o seu desfecho,é que a
maior parte dos cidadãos que recebem a notícia, começando pelos
comentadores,só fixam aquela situação concreta, e em consequência
rapidamente apontam a um responsável, seja ele directo ou no topo da
escala de responsabilidades.
No
caso de Borba,conhecendo só aquilo que nos é apresentado nos
noticiários, poderíamos atribuir responsabilidades desde o dono da
pedreira, ou seu arrendatário e explorador, que podem ser uma só
pessoa, a seguir o técnico diplomado que assinava o termo de
responsabilidade, mais os inspectores que depois de emitirem o seu
parecer e o dirigiram para os serviços competentes,lavaram daí as
suas mãos. A cadeia de não intervenientes que, pela sua convivência
tácita deveriam ser acusados e julgados,deveria ser bastante longa.
Mas
como este, e outros temas parecidos, entra no campo da política, o
que causa um maior impacto mediático é atirar a responsabilidade à
máxima autoridade governamental do momento. E, como sempre,
obviamente ao Primeiro Ministro, que tal como o capitão de uma
nave,é o responsável supremo, mesmo que o assunto jamais lhe tenha
sido referido nem tivesse tido alguma acção directa.Em casos de
importância social e humana quase equivalentes ao que aconteceu em
Borba, é usual tentar serenar as águas com a demissão do ministro
que estivesse, estatutariamente, mais directamente ligado ao sucesso.
Borba
foi utilizado de imediato,pelos partidos actualmente na oposição,
como uma bomba de grande potência, baseando-se não só pela
conhecida, e repetida, táctica do actual primeiro ministro em
sacudir a água do seu capote, como por se desviar, fisicamente e
politicamente, da primeira linha nas situações embaraçosas.
Podemos dizer que, de facto, tem mostrado uma fixação notável para
conseguir e manter o seu lugar.poder. Todo o seu consulado tem
sido um espectáculo de malabarismo digno de uma afamada companhia
circense. Não se lhe pode negar a capacidade de manobra. Pelo menos
até o dia em que os objectos com que manobra caiam ao chão.
Não
desculpo a responsabilidade do P.M., nem tampouco de todos aqueles
que,por incúria ou outro género de razões, consentiram naquela
exploração perigosa. O que não obsta a que, a meu entender,
devemos recordar outros acontecimentos tristes, alguns com perdas de
vidas, que aconteceram estando outras personalidades no governo e
que, com mais ou menos fintas e habilidades terminaram engolidas pelo
tempo, após anos de inquéritos e até de processos em tribunal, sem
que jamais alguém, concreto, tivesse sido "levado ao
cadafalso".
Se
António Costa já deveria ter saído, pelo seu próprio pé, quando
o escândalo dos incêndios e incendiários, desde o Pinhal de Leiria
até as serras de Pedrogão e meses depois na Serra do Caldeirão,
foi por se aproveitar da romaria de beijos e de abraços do
presidente da República, que junto com promessas difíceis de
satisfazer, lhe permitiram distanciar-se assobiando como alguém que
nada tinha que ver com o tema. Para sua defesa existem precedentes
de calibre semelhante acontecidos sendo outros os cabeças de
cartaz.
Com
pormenores diferentes, os governantes que tem ocupado o trono,
simbólico mas efectivo, mais os seus sequazes, tem dado mostras de
nada se importarem com o julgamento mental da população. Para eles
vale, como um escrito lapidar, o conceito de que o povo é sereno.
Que traduzido em linguagem vulgar, a população engole tudo a troco
de quase nada.
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