quinta-feira, 22 de novembro de 2018

MEDITAÇÕES - 44 A roda da fortuna


NÃO HÁ DINHEIRO NOS BOLSOS

Quando uma pessoa se depara com uma despesa inesperada, a qual não pode atender de imediato com os seus recursos, nem com ajudas desinteressadas de familiares directos, o caminho que lhe fica disponível é o de pedir um empréstimo dando como penhora um bem móvel ou imóvel de que é proprietário. Ao se embarcar neste esquema sabe que o empréstimo implica o pagamento de juros, e que a prudência aconselha a poder abater este empréstimo quanto antes através de uma entrada de capital que lhe ofereça uma garantia de ser factível.
Isso seria o esquema mais aceitável, dentro do problema que ,por princípio, todos tentamos evitar. Mas o famoso "mercado" nos incita a gastar mais do que aquilo que normalmente dispomos, e para possibilitar esta ânsia de consumir, surgiu a táctica, simpática e facilitadora, de oferecer crédito bancário imediato através de um contrato que se assina.Nos entregam um cartão que abre portas no momento de pagar ao fornecedor. Simplesmente, esta modernice não passa de ser um disfarce, bem montado e apresentado com requinte, da agiotagem das casas de penhores. É a versão actual da serpente que ofereceu o fruto da árvore da sabedoria à Eva. Simplesmente o casal inicial (da mitologia tradicional) não tinha uma casa para deixar como penhora. Só tinha a sua liberdade para perder. E perdeu, pois que não só não há almoços gratuitos como nem sequer a fruta se oferecia sem um castigo oculto.
O esquema é muito elaborado, pois que na falta de cumprimento no pagamento da dívida, tão extensiva na sociedade e sob tantos argumentos de incitação, o moderno agiota -leia-se o banco- toma a posse do bem deixado como garantia e procede a uma tentativa de o vender no mercado livre. Caso esta anulação de empréstimo não se consiga pelas vias consideradas como normais, dentro dos estatutos, a verba em falta passa a figurar num capítulo de incobrável, donde se irá acumular a outras importâncias, de montastes sempre elevados, em geral ligadas a empréstimos de negócios já montados com fins fraudulentos. Esta acumulação colocam este capítulo do balanço num patamar perigoso. O banco chega a estar numa posição de risco por incumprimento das normas. Chega então o momento de pedir -digamos exigir- o apoio dos políticos comprometidos.
O conluio existente entre o capital e os políticos, estejam no poder ou estivessem anteriormente e pretendam voltar ao lugar, lhes augura que devem tratar de colocar estas dívidas gerais, nas que se incluem as dos cidadãos anónimos, de serem "transferidas, a "bem do equilíbrio financeiro e para cumprir as regras das entidades supranacionais" em dívida geral. E, de imediato, subsidiar a banca pelos seus erros (ou nem tanto) de previsão e gestão. Esta manobra implica que todos os cidadãos, tivessem ou não empréstimos não satisfeitos, passaram a ser pagantes da verba geral. Ou seja, todos os incobráveis são agora carregados sobre a totalidade da população.
Quem fica a ganhar e quem a perder? Ganham os bancos, ganham os que não pagaram e se escaparam com as massas, e perdem os cidadãos anónimos.


Sem comentários:

Enviar um comentário