terça-feira, 24 de julho de 2018

CRÓNICAS DO VALE - cap. 60


Balanço do almoço "campestre"

Bem, a fase se de convívio terminou por hoje, e o balanço não é bom nem mau, antes pelo contrário. Pelo menos no que se pode referir às conversas de circunstâncias que tive com o Cardoso. Naquele bocado em que estivemos a sós no carro, entre o restaurante e a nossa casa, aproveitei uns minutos para mostrar o meu não alinhamento, pelo menos na totalidade das versões que me chegaram ao ouvido, e insistir em que deve m existir muitas páginas reservadas, e outras alteradas para ficarem aceitáveis.

E o que respondeu o Cardoso?

Só uns sons inexpressivos, quase que de ruminante com indigestão, e alguns sorrisos condescendentes, ou uns abanar de cabeça que poderiam indicar que não foi assim como eu imaginei que as coisas aconteceram. Mas palavras? Daquela boca nada saiu que o pude comprometer. Aliás eu pedi-lhe, com insistência, que evitasse problema, e que num caso desta índole, que o menor descuido lhe poderia ser prejudicial, a sua profissão implicava um secretismo de Estado e da sua conveniência. Por assim dizer.

Mas já me esquecia, e seria imperdoável. Aquele telefonema que recebi há uns temas importantes, nos quais tenho que dar a minha opinião, entre durante o almoço, era do Nelson Sousa, aquele mais ou menos sócio que tenho em Ermesinde, que me convocou para hoje, segunda feira, sem falta, porque há uns temas importantes, nos quais tenho que dar a minha opinião, entre Barcelos e a Maia, onde se jogam grandes quantidades de capital. Parece que o mercado está a acordar, mas por enquanto não sei se para cima ou para baixo. Tenho mesmo que sair de madrugada e, como tem sido habitual, irei dando novidades.

Voltando aos comentários acerca do casal Cardoso. Tenho que entender que a minha “amizade” com este inspector é anormal, contrária ao seu estatuto e dependência. Por isso vai ser difícil manter um convívio com tantas restrições. Se eu pretender encontrar esclarecimentos terei que procurar noutros caminhos. O que não faltam é informadores e linguareiros, desejosos de mostrar que estão dentro dos segredos. Que na maior parte das vezes não passam de segredos de Polichinelo.

E a vossa mini-excursão agronómica, foi interessante? É que mal entraram em casa a Doutora Diana afirmou que tinham que regressar a Coimbra pois estava preocupada com a mãe dela. Nem sequer se sentaram. E ele aproveitou a dica para engolir, de uma golada rápida, metade do gim-tónico que lhe tinha servido. Calma! Foi ele que me perguntou se podia beber esta mistura, mas com água tónica bem gelada? Devia sentir a digestão pesada!

Já notaste que a Doutora Diana -uma chatice, que nem em casa, sem testemunhas, consiga tirar o canudo às pessoas. Somos industriados desde crianças nos preceitos de respeito e boa educação e, sinceramente, já estou mais que cheia disso. O melhor que encontro quando passamos a fronteira é que ali são muitas raras as pessoas que são tratadas por um canudo, ficam-se pelo Don Este e Don Aquilo. Serve para todos.

Mas voltando ao que me perguntaste, a Diana é pessoa de bom trato e bem educada desde o berço, de modo que nunca se sabe se está a fingir nos seus elogios ou comentários, no propósito de agradar, ou se de facto correspondem a um impulso natural. É tão convincente que não consegui catalogar a pessoa neste aspecto. Seja como for, além de dizer que gostou do que viu, até me deu umas dicas, ou orientações, que me pareceram muito úteis e pertinentes. Quando passar o Ernesto, e eu o veja, terei que lhe apresentar estas ideias, mas fazendo de conta que as li numa revista de jardinagem e horta.

Pessoalmente lamento que, por solidariedade conjugal, tivesse que acompanhar a Diana com as cautelas que a profissão do marido implicam. Preferiria que fosse um conhecimento do salão ou de outro lado qualquer, sem interferências se estatutos sociais. Não sei se consigo explicar o que senti. Mas como pessoa, a Diana, até agora deixou-me uma grata impressão.

Sem comentários:

Enviar um comentário