segunda-feira, 23 de julho de 2018

CRÓNICAS DO VALE . Cap. 56


José Maragato não se mostra convencido

Soube que as senhoras esposas mostraram interesse em visitar a recente horta da Luísa, proponho que não nos demoremos em excesso na apreciação das iguarias, que tão sedutores aromas emanam. O que não quer dizer que se pretenda engolir sem mastigar. Já me entendem. Temos tempo suficiente para apreciar as sobremesas e os cafés.

Então, estamos todos satisfeitos e prontos para esta aventura no local, não digo dos crimes, mas dos cadáveres insepultos? CALMA!!! Não pretendo vos conduzir ao lugar propriamente dito, os maridos, de cuja classe pertenço, conhecemos de sobra este canto da propriedade. Que fica bastante longe da área que vão visitar.

- A Doutora Diana convidou-me a fazer a viagem no seu carro, e assim ter uma janela temporal sem sermos ouvidas e controladas. Evidentemente aceitei com agrado. Agora os “rapazes” terão que passear juntinhos e com juízo, especialmente porque, distraídos como estavam, reparei que despejaram os copos mais do que uma vez. O mesmo não aconteceu com a minha condutora, de quem eu serei a pendura. Posto isto e porque sempre existe a risco de que ande por aí, extraviada, alguma patrulha da GNR com necessidade de apanhar alcoolizados, nós iremos à frente, marcando o passo, e os rapazes nos seguirão. E não há nhó-nhó nem meio nhó-nhó- Nós é que mandamos!

- O que as damas mandem, nós obedecemos, como sempre (menos quando não existe um grande risco de ficarem a saber o que estamos a fazer...) Apesar de ser uma autoridade, coisa que eu nem a cabo chego, o Inspector Doutor terá que aguentar que aqui o dono da viatura seja, por um bocado, o comandante em chefe! Vamos a isto, e que tenhamos uma boa viagem, mesmo que curta, pois quase que não dava para um avião levantar voo.

Como podemos admitir que a estrada é um terreno neutro, propriedade de todos os cidadãos e de nenhum em concreto, peço ao Amigo Doutor Cardoso que me deixe dissertar sobre uns pormenores que não posso admitir estejam suficientemente claros.
Para já ainda não tenho a certeza de que o depositarem cadáveres nos meus terrenos, e mais sendo a uma distância relativamente curta do local onde se supõe que foram liquidados, seja ou não uma causalidade. Recordo que foi referido ter sido visitado, poucos dias antes, por um sujeito que se afirmava como intermediário, uma espécie de agente imobiliário, mas sem se identificar, que pretendia saber, ou propor, se estaríamos interessados em vender a propriedade. Deu a entender que mais o que a área rústica o que valorizavam era a volumetria da construção e até do armazém anexo. Não lhe dei andamento e partiu sem mais.

O usar, poucos dias depois, a propriedade como uma espécie de depósito clandestino de mortos terá alguma ligação com a visita e as duas situações, ou seja as festas com drogas e sexo louco, que se admite estarem ligados ao primeiro cadáver, serão todos peças de um mesmo quebra-cabeças?

Depois, e estando nós “fugidos” mas com o conhecimento das autoridades, como sabe, entraram em campo as tropas clandestinas dos ciganos. Terão estas gentes, que qualificamos levianamente como de pouco nível, poder dissuasório para conseguir que a equipa internacional de bandidos tivesse duas baixas, um dos quais se soube ser partícipe directo de duas mortes? Posso admitir que muitos destes elementos da blindagem não sejam possuidores de mentes brilhantes. Mas o esquema dos ciganos, a ser verdade, parece de uma singeleza própria de catequistas.

E mais espantoso ainda é o facto de que, com mostras evidentes de ter sido punido internamente, pelo seu próprio grupo, nos oferecessem, como se fosse um prémio de consolação, mais um cadáver, também ele anteriormente identificado com um membro do quarteto de distribuição de carcassas?

Não quero que o Cardoso me esclareça nada. Só pretendo que fique claro que não vejo tudo isto como tão credível como as histórias da cartilha maternal. Não tenho elementos onde me basear. Só simples deduções e experiência de vida. Mas SUSPEITO que estes atrevidos acontecimentos causaram um grande vendaval nos meios políticos, financeiros e talvez mesmo dentro das altas esferas eclesiásticas (bispos e cardeais tem fama de serem apreciadores de bacanais) Estes bandidos mercenários foram contratados. Não foram eles que organizaram o encontro de alto nível, assim como é pouco provável que conhecessem a identidade das personagens importantes que por lá andaram. Só conheceram as prostitutas, de diferentes estatutos, os maricas e pouco mais.

Apostaria que se movimentaram muitos telefones, se pediu ajuda e colaboração dentro do poder. Que se contactaram e pressionaram “a bem da boa imagem do País” todas as Interpol, Europol e, se foi necessário do Futebol, que através da sua FIFA deve conhecer muita roupa suja.

E já desabafei. O Cardoso, pelo muito que tem que resguardar, (e suponho que dentro da sua organização devem existir muitos Brutos ansiosos de darem facadas pelas costas a os que imaginam os estorvam), agradeço que tenha ouvido e esquecido, que se cuide e se for necessário negue que tem qualquer convivência comigo. Recorde que Judas e Pedro, negaram o que nos seus papeis lhes calhava fazer. Mesmo assim fique com a noção de que já não uso chucha desde muitas décadas atrás. E mais, que sou muito desconfiado.

Chegamos, as duas equipas em boas condições., e sem cumprimentos dos militares da GNR.

Esposas amadas, ou Amadas Esposas, uma vez que neste caso a ordem dos factores não altera o produto, coisa que não se pode fazer no ramo da culinária. Será que preferem fazer a visita agrícola sem interferências? Se assim for nós, os anteriormente designados cabeças de casal, entraremos em casa e tomaremos um refresco, possivelmente um café mais um scoth velhinho e um abano. As esperaremos na sala.


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