(já revisto e corrigido)
Da
conversa amena
Pois,
amigo Maragato, vamos então para este intervalo mediático de café
falado ou dialogado, pois que estou curioso para saber o que me quer
referir, e que suponho deve estar ligado à sua ideia de criar, neste
canto ignorado, um evento bastante inusitado e que levantou alguma
poeira.
Se
não se importa, Senhor Presidente, recordo que existe a ideia,
emanada das altas esferas, de que entre o povo tudo anda sobre
esferas, no melhor deste mundo. E sabemos que a realidade não é bem
esta. Que se aproveitam dos horizontes limitados destas gentes.
Cidadãos que só são procurados e afagados quando se deseja o seu
voto nas urnas. Após a contagem voltam a ser vistos e considerados
como a carneirada.
Já
estamos a entrar em temas que não se podem comentar em via aberta,
expostos à coscuvilhice local. Por isso era conveniente nos situar
num local recatado. Eu até sugeri o seu gabinete. Não ali as
paredes tem muitos ouvidos. Não se pode soltar um traque sem que de
imediato seja do conhecimento de toda a aldeia. Temos que encontrar
um sitio, sendo possível em terreno neutro onde, sem estar
escondidos, fiquemos longe das orelhas curiosas.
Óptimo.
Por mim estou de acordo, se bem que nada do que pretendia conversar,
a nível de amizade ou fraternidade, como preferir, é desconhecido
pelos que andam neste mundo sem exclusivamente pastar. E se nos
instalássemos no topo da reduzida bancada que se levantou num dos
laterais do campo “poli-desportivo”? Certo. Não creio que possa
ter escolhido melhor localização. E a estas horas fica à sombra
dos altos eucaliptos. Diga da sua sentença, Senhor Maragato.
Antes
de mais testemunhar que, com os poucos meios económicos e humanos de
que dispõe. o nosso Presidente da Junta, tem procurado elevar o
nível cultural e ambiental da aldeia, com o bizarro nome de Vale do
Pito. Não vou fazer um inventário ao estilo das campanhas de
promoção nas eleições, mas quero destacar a sua decisão de nos
oferecer uma rede de accesso à internet, gratuita para o utente mas
certamente que com custos para a Junta.
Obrigado
Amigo. Esta iniciativa foi tomada, como disse nas entrelinhas, com o
propósito de, paulatinamente, abrir as janelas do mundo actual, e
futuro, aos residentes. Sei que os efeitos positivos, ultrapassando a
fase badalhoca e da irresistível exposição pessoal desmedida,
terminará por dar frutos. E para que tal aconteça confio nas novas
gerações, que quase instantaneamente sabem tirar proveito das
capacidades deste sistema e dos outros que correm paralelamente.
Antes
de que, ao bater palmas, nos esqueçamos do importante, pelo menos a
meu entender, é retirar conclusões depois do aborto da tal
escandalosa proposta de um Festival
da Chuva Dourada. Tinha a noção de que, entre os mais
crescidos, ou adultos, para não lhes chamar idosos ou velhos, que
hoje tem um carácter quase ofensivo, eram muitos os que ignoravam
esta, digamos variante, faceta do erotismo “selvagem”. Pelo menos
ao propor esta fantasia dei uma pedrada no charco.
E
que pedrada Maragato! As ondas de choque chegaram longe. Até se diz,
e não acredito, que depois de bater à porta do Patriarcado, as
apresentaram na Santa Se!
Ora,
já estamos na onda. Para já, de entrada, e admitindo a realidade de
que a proposta não tinha cabimento nesta aldeia, é bom referir que
certames bem mais escandalosos já se tornaram habituais, pelo menos
numa periodicidade anual, em Lisboa e Porto, sem que a Cúria, tão
zeladora dos bons costumes, tenha conseguido travar esta evolução.
Entre
nós, e não sendo eu propriamente um timorato e saiba que Em toda
a casa há roupa suja, entendo que
uma dose de boas maneiras não causam dano algum. E, caso não
reparasse, no meu discurso não referi, por ser sumamente
abjecta, ofensiva e humilhante para as mulheres, que devemos
respeitar uma vez que todos fomos engendrados num corpo feminino, é
a da variante na tal chuva dourada em que o homem despeja a
sua bexiga no corpo, e preferentemente na boca, de uma dama, seja ela
nova, crescida ou já socialmente degradada.
Mas,
se me for permitido, e voltando ao tema, esta diferença de trato
entre as duas capitais de Portugal e as restantes cidades, vilas e
aldeias, ficou bem explícita nas pressões que lhe foram
transmitidas e que o empurraram a agir obedecendo aos superiores designios. Como se tal reacção fosse necessária, uma vez que aquilo não passava de ser
uma provocação que deu seus frutos. Um deles foi ver como estes mandantes engoliram o anzol, com fio, cana e carrete, tal como os aldeões que eles desprezam. Esta é mais uma prova, que
parece não ter importância, mas que a tem subjectivamente, de como
os poderosos querem manter, a todo o custo, o povo sem capacidade de
agir nem protestar. Como nos entendemos e coincidimos, Amigo
Maragato!
Não
quero deixar de referir o cinismo e duplicidade de comportamento da
Igreja, pelo menos de demasiados membros da sua tropa, em todos os
seus graus estatutários, sem esquecer os desmandos sexuais de muitos
Papas e Cardeais que a história nos mostrou não respeitarem o seu
celibato, que sempre insistiram em que deve ser respeitado pelos outros. Alguns
cometeram inclusive incesto com suas filhas ou irmãs, sem serem as da
caridade, que estas merecem outro estudo. Sabe, Senhor Presidente,
que esta aldeia nunca teve um padre residente. Sempre foi servida por
um a tempo partilhado, quase que um itinerante, e mais recentemente
com a ajuda de algum diácono, que depois de uma preparação ao
estilo das tais novas profissões, ficou encartado para poder
exercer alguns, que não todos -por enquanto- os mesteres da
“profissão”. Pois tal carência de uma presença física
permanente não impediu a que as almas que se arvoram em defensoras
da fé e dos bons costumes denunciassem, sem esperar o que é que
aquilo (não) podia dar.
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