Sobre
a prevenção dos fogos, e outros temas.
Senhor
Garrapato, tive assuntos que me prenderam e não o pude acompanhar
devidamente, como era minha intenção. Creio que deixei bem claro
que o comando desta brigada está entregue a si, mas que eu tenho o
direito e a obrigação de actuar como o comandante na retaguarda.
Numa retaguarda nada longe, mesmo perto de si, e assim poder dar
apoio quando for necessário. Dito de outra forma, temos que “lutar”
costas com costas.
Quando
lhe encomendei este trabalho cometi um erro sem perdão. Fiz uma
avaliação em cima do joelho, mais impulsiva e afectada pelos
recentes incêndios do que coerente com a realidade. Recorda que lhe
disse para juntar e transferir as ramagens e limpezas do mato
rasteiro para outro local, que não pude definir por desconhecer
cabalmente a orografia desta serra. Agora vejo como, passadas poucas
horas de extenuante trabalho, o volume de material a eliminar é
assustador. Temos que orientar isto de outra forma.
O
Garrapato já ouviu falar, ou viu, máquinas florestais, móveis,
montadas sobre camionetes ou reboques, capazes de reduzir a pequenas
lascas, e em poucas horas, montes de material semelhante ao que
temos, e mais teremos? E, por acaso, conhece de alguém que tenha uma
equipamento destes e o alugue, incluindo o maquinista?
Temos
que encontrar esta ajuda mecânica. Pergunte aos seus conhecidos
sobre esta possibilidade e, caso lhe indiquem quem, vamos entrar em
contacto para saber quando poderá comparecer e quanto nos custaria o
aluguer, tal vez por uns dias ou mesmo uma semana. Eu tratarei de
procurar no computador, pois o que antes funcionava com as páginas
amarelas agora é mais rápido e eficaz por via electrónica. Mesmo
assim não dispenso de uma referência pessoal.
Não
lhe perguntei quantos homens estão trabalhando. Podia ter olhado e
contado. Nem as horas que já se fizeram. Pareceu-me que tinha duas
equipas separadas, uma tratando da limpeza rasteira e outra no corte
de árvores, lenheiros por assim dizer. Muito bem. O que decidiu
corresponde ao valor que, desde anos, lhe fui atribuindo. Estamos na
tarde de terça feira. Estou aguardando visitas e gostaria de ter
bastante trabalho feito para poder mostrar como nos preocupamos e
agimos. Amanhã, sem falta, nos voltaremos a reunir para decidir a
quem e por quanto tempo e dinheiro vamos alugar a trituradora que
necessitamos. Eu devia ter pensado e decido isto antes de lhe
encomendar o trabalho, e o estar com a cabeça noutros assuntos não
me livra de culpas.
Desculpe,
tenho que atender um telefonema. Volte ao seu serviço se faz favor.
Estou! Quem fala? Ah, é o primo Leonardo
com quem falei ontem, dos Sousas de Santo Tirso, se não estou
enganado. Eu mesmo, em verdade era primo, em não sei se segundo ou
terceiro grau, da sua lamentavelmente falecida esposa Constança.
Recordo, um pouco vagamente, de ter estado na vossa casa de Vale do
Pito -mas que nome bizarro!- numa reunião de familiares organizada
pelo seu sogro Comendador Serafim de Sousa. Tenho em casa algumas
fotografias, de caixote, tomadas naquele dia. Se não foi no dia do
vosso casamento não seria muito longe. Eu era um gaiato que ainda
não tinha dez anos.
Pois, mais ou
menos já me tinha dado alguns elementos desta sua ligação
familiar. Assim como me disse que souberam que coloquei a propriedade
no mercado, por razões pessoais fáceis de explicar e de entender.
Se ouvi bem, quando me ligou antes, ao comentar esta novidade junto
de um grupo de familiares, numeroso pelo que disse, imaginaram a
possibilidade de montar uma espécie de propriedade em comandita e
adquirir esta residência. Não sei bem como se montaria esta
“sociedade familiar” mas havendo, como é provável, advogados
entre vós seria só questão de escolher a melhor das opções
legais possíveis.
É
practicamente isto. O primo, apesar das dificuldades de ligação
telefónica que nos vitimaram aquele dia, entendeu mais do que
esperava. Também lhe falei no interesse, se fosse possível, de
visitarmos a propriedade, tantos quantos estiverem disponíveis, para
este fim de semana. Estamos na terça feira, e antes de sexta ou na
manhã de sexta, confirmaria e lhe pediria ajuda para encontrar um
local para almoçar, que conheça e recomende. Pode ser?
Em princípio
podem contar com isso. Eu estou só e ando só, com os filhos em
Lisboa ou nalgum país “erótico” como eu gosto de trocadilhar
com exótico. Peço, sim, que não espere pela sexta para dar
notícias. Vá dando novidades no intervalo, e assim eu montarei o
esquema com mais acerto.
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