quinta-feira, 6 de julho de 2017

CRÓNICAS DO VALE - cap 9



Sobre a prevenção dos fogos, e outros temas.

Senhor Garrapato, tive assuntos que me prenderam e não o pude acompanhar devidamente, como era minha intenção. Creio que deixei bem claro que o comando desta brigada está entregue a si, mas que eu tenho o direito e a obrigação de actuar como o comandante na retaguarda. Numa retaguarda nada longe, mesmo perto de si, e assim poder dar apoio quando for necessário. Dito de outra forma, temos que “lutar” costas com costas.

Quando lhe encomendei este trabalho cometi um erro sem perdão. Fiz uma avaliação em cima do joelho, mais impulsiva e afectada pelos recentes incêndios do que coerente com a realidade. Recorda que lhe disse para juntar e transferir as ramagens e limpezas do mato rasteiro para outro local, que não pude definir por desconhecer cabalmente a orografia desta serra. Agora vejo como, passadas poucas horas de extenuante trabalho, o volume de material a eliminar é assustador. Temos que orientar isto de outra forma.

O Garrapato já ouviu falar, ou viu, máquinas florestais, móveis, montadas sobre camionetes ou reboques, capazes de reduzir a pequenas lascas, e em poucas horas, montes de material semelhante ao que temos, e mais teremos? E, por acaso, conhece de alguém que tenha uma equipamento destes e o alugue, incluindo o maquinista?
Temos que encontrar esta ajuda mecânica. Pergunte aos seus conhecidos sobre esta possibilidade e, caso lhe indiquem quem, vamos entrar em contacto para saber quando poderá comparecer e quanto nos custaria o aluguer, tal vez por uns dias ou mesmo uma semana. Eu tratarei de procurar no computador, pois o que antes funcionava com as páginas amarelas agora é mais rápido e eficaz por via electrónica. Mesmo assim não dispenso de uma referência pessoal.

Não lhe perguntei quantos homens estão trabalhando. Podia ter olhado e contado. Nem as horas que já se fizeram. Pareceu-me que tinha duas equipas separadas, uma tratando da limpeza rasteira e outra no corte de árvores, lenheiros por assim dizer. Muito bem. O que decidiu corresponde ao valor que, desde anos, lhe fui atribuindo. Estamos na tarde de terça feira. Estou aguardando visitas e gostaria de ter bastante trabalho feito para poder mostrar como nos preocupamos e agimos. Amanhã, sem falta, nos voltaremos a reunir para decidir a quem e por quanto tempo e dinheiro vamos alugar a trituradora que necessitamos. Eu devia ter pensado e decido isto antes de lhe encomendar o trabalho, e o estar com a cabeça noutros assuntos não me livra de culpas.

Desculpe, tenho que atender um telefonema. Volte ao seu serviço se faz favor. Estou! Quem fala? Ah, é o primo Leonardo com quem falei ontem, dos Sousas de Santo Tirso, se não estou enganado. Eu mesmo, em verdade era primo, em não sei se segundo ou terceiro grau, da sua lamentavelmente falecida esposa Constança. Recordo, um pouco vagamente, de ter estado na vossa casa de Vale do Pito -mas que nome bizarro!- numa reunião de familiares organizada pelo seu sogro Comendador Serafim de Sousa. Tenho em casa algumas fotografias, de caixote, tomadas naquele dia. Se não foi no dia do vosso casamento não seria muito longe. Eu era um gaiato que ainda não tinha dez anos.

Pois, mais ou menos já me tinha dado alguns elementos desta sua ligação familiar. Assim como me disse que souberam que coloquei a propriedade no mercado, por razões pessoais fáceis de explicar e de entender. Se ouvi bem, quando me ligou antes, ao comentar esta novidade junto de um grupo de familiares, numeroso pelo que disse, imaginaram a possibilidade de montar uma espécie de propriedade em comandita e adquirir esta residência. Não sei bem como se montaria esta “sociedade familiar” mas havendo, como é provável, advogados entre vós seria só questão de escolher a melhor das opções legais possíveis.

É practicamente isto. O primo, apesar das dificuldades de ligação telefónica que nos vitimaram aquele dia, entendeu mais do que esperava. Também lhe falei no interesse, se fosse possível, de visitarmos a propriedade, tantos quantos estiverem disponíveis, para este fim de semana. Estamos na terça feira, e antes de sexta ou na manhã de sexta, confirmaria e lhe pediria ajuda para encontrar um local para almoçar, que conheça e recomende. Pode ser?


Em princípio podem contar com isso. Eu estou só e ando só, com os filhos em Lisboa ou nalgum país “erótico” como eu gosto de trocadilhar com exótico. Peço, sim, que não espere pela sexta para dar notícias. Vá dando novidades no intervalo, e assim eu montarei o esquema com mais acerto.

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