(Este episódio já foi revisto e corrigido)
QUEM É JOSÉ MARAGATO
Fazer
a biografia desta personagem, pois que, de facto é uma pessoa
notável não só na terra onde reside, Vale do Pito, como na Vila,
na sede de concelho e até na capital de distrito, não é tarefa fácil. Não se pode despachar com três palhetadas. Podemos dizer
que, sempre adepto de não dar nas vistas, fomos sabendo que tinha
longos tentáculos. Muitos herdados e outros de criação própria.
Para
tentar entender é pertinente recuar algumas gerações.
O
seu avô, paterno, conhecido como Don Paco Maragato, era espanhol de
origem e criação. Natural de Astorga, capital da Maragateria
burgalesa, tinha orgulho na alcunha de maragato, tanto assim que lhe
deu o estatuto de apelido quando se inscreveu em Portugal, quando acompanhou o seu filho Ricardo ao ter que este teve que fugir para cá, exiladando-se. Ricardo, com habilidade e manhas por baixo da mesa, consegui tornar-se num abastado comerciante em grosso, abastecedor de quartéis, hospitais, e outros organismos onde lhe fosse permitido ser
fornecedor de tudo e mais alguma coisa. Ganhou um estatuto que lhe
possibilitou, apesar de ter estado na lista dos indesejáveis na esfera militar espanhola (tudo muda nesta vida. O que está em cima passa para baixo, e volta a repetir o baile) mantinha contactosjá em altos postos nos quarteis, e com ajudas conseguiu inscrever o
filho Ricardo (futuro pai do José Maragato) na escola militar de
Toledo, de onde saiu com o grau de tenente de artilharia. Foi
destacado à guarnição fronteiriça de Ciudad Rodrigo.
Estando
a fronteira estável, tranquila, Ricardo tinha muito tempo livre, que
aproveitou para conhecer e expandir a rede de contactos que o seu pai
já tinha a ambos lados da fronteira. Digamos que um dos seus muitos
negócios figurava o contrabando. O que implica ter bons
conhecimentos, de confiança e em quantos mais centros de poder, melhor.
Mas
a vida ociosa dos quartéis sempre foi propensa para a montagem de
golpes militares. E Ricardo entrou numa destas aventuras, com
reservas; mas estava na lista dos golpistas. Não tiveram sucesso. E
antes de que fosse metido numa prisão militar, não se imaginando
engaiolado, desterrou-se voluntariamente em Portugal, radicando-se na
Guarda, onde já tinha uma casa alugada para as sua aventuras de
saias e negócios. Mal chegou a Guarda tratou de entrar nas boas
graças dos governadores civil e militar, com aquele jeito, inato,
que os espanhóis têm de fazer amigos instantâneos. O que ele
queria, e conseguiu, era o poder ter a nacionalidade portuguêsa,
dando assim início à presença do clã maragato no País.
Desde
a Guarda, o Ricardo, governava, sem dar nas vistas, uma extensa rede
de contrabando, com a qual ao longo da segunda guerra mundial foi
intermediário, oculto, da passagem clandestina de volfrâmio. Além
deste minério comercializou muitos mais artigos, uns para um lado e
outros para o outro. Sempre ilegalmente, mas sempre com apoios
informais, mas poderosos, pois que embora a moeda fosse diferente o dinheiro compra amizades e favores, em toda a parte. Só é preciso ter espírito aberto para fintar as leis e descobrir o ponto mais adequado para conseguir o que se pretende. Com isto
conseguiu amealhar uma grande fortuna. Que herdou o seu filho José,
fruto do casamento civil com uma senhora sem fortuna pessoal, mas
bela quanto bastava, de nome Sofia.
José,
que desde criança acompanhou o seu pai, Senhor Ricardo Maragato nos
seus negócios e inclusive nos seus encontros clandestinos ou
reservados, onde era visto como uma criança inocente, sem captarem que tinha os ouvidos e olhos muito atentos ao que ia acontecendo. Uma vez a sós, o pai Ricardo lhe pedia que contasse tudo o que tinha visto e ouvido.
Noutro capítulo da vida refiro que José Maragato iniciou o seu percurso académico na Guarda, onde terminou o liceu e lhe permitiu inscrever-se na Universidade de Coimbra. Instalou-se numa Real-República. Primeiro “estudou” Filosofia e Letras, onde conheceu a Constança, que veio a ser sua futura esposa. Depressa se fartou da filosofia, quando deduziu que aquele caminho não abria portas que rendessem bom dinheiro. Por isso fez a transferência para Economia e Finanças. Não tardou a se enjoar neste tema, tão afastado do que trilhou inicialmente, Daí que mais uma vez desistiu. Não queria ser um lente na faculdade; concorrer a um posto na administração pública ou vir a ser um lacaio de um conselho de administração. Nenhuma destas possibilidades não lhe enchia as medidas. Queria ficar a conhecer, com os pormenores da vida real, aquilo que lhe poderia facilitar o saber herdado do pai, daí que desceu para o nível da Contabilidade Comercial e Fiscal, vulgarmente conhecido como como jogar, procurando ganhar, com os Impostos.
Noutro capítulo da vida refiro que José Maragato iniciou o seu percurso académico na Guarda, onde terminou o liceu e lhe permitiu inscrever-se na Universidade de Coimbra. Instalou-se numa Real-República. Primeiro “estudou” Filosofia e Letras, onde conheceu a Constança, que veio a ser sua futura esposa. Depressa se fartou da filosofia, quando deduziu que aquele caminho não abria portas que rendessem bom dinheiro. Por isso fez a transferência para Economia e Finanças. Não tardou a se enjoar neste tema, tão afastado do que trilhou inicialmente, Daí que mais uma vez desistiu. Não queria ser um lente na faculdade; concorrer a um posto na administração pública ou vir a ser um lacaio de um conselho de administração. Nenhuma destas possibilidades não lhe enchia as medidas. Queria ficar a conhecer, com os pormenores da vida real, aquilo que lhe poderia facilitar o saber herdado do pai, daí que desceu para o nível da Contabilidade Comercial e Fiscal, vulgarmente conhecido como como jogar, procurando ganhar, com os Impostos.
O
namoro com Constança permaneceu activo. Foi apresentado aos pais da
menina, nomeadamente ao comendador Serafim de Sousa, que ganhou a
comenda depois de regressar do Brasil com algumas arcas recheadas, e
com elas financiar a construção de um hospital e lar de recolha na
sede do concelho. Ali, quase paredes meias mandou erguer um casarão
onde colocou o recém desenhado brasão que, a força de dinheiro,
conseguiu que acompanhasse o grau de comendador bem-feitor. Teve três
filhos legais em Portugal, e deixou uma fila de bastardos no Brasil.
Constança era a mais nova da família.
Quando
casou com o José Maragato levou com ela, no dote, a bela casa de
férias da família do comendador na aldeia de Vale do Pito, que por
ser fresca no verão, só visitavam quando fugiam do calor. No
inverno sempre foi sumamente gélida. Mesmo a instalação de uma
caldeira e uma rede de radiadores para aquecimento central não
evitava o andarem agasalhados quase como exploradores árticos.
Zé
Maragato, que enviuvou no terceiro parto de Dona Constança, vive
practicamente só neste casão “de estilo revivalista português,
mas senhorial quanto baste”. Os dois filhos vivos, pois que o
terceiro acompanhou a mãe ao nascer já morto, moram na capital e
raramente viajam até a mansão paterna. E, imaginando-se senhores do
seu nariz, não querem saber de pormenores dos negócios do pai, Zé
Maravilhas. Sem respeitar que é destas negociatas que comem e
desfrutam.
E
chegamos à pessoa em causa. Homem conversador, aparentemente aberto,
raramente diz nada de carácter pessoal ou profissional. O que
soubemos para preparar esta biografia deu muito trabalho de pesquisa
e dialogar com as pessoas que conheceram a sua família.
Popular
entre os residentes em Vale do Pito, é a ele que recorrem quando
necessitam de um parecer sobre impostos, alguma cunha ou mediação
em negócios, em especial na transacção de propriedades, de onde
colhe, legalmente, alguns proventos. Consta, sem provas, que manteve
em actividade a rede de contrabando transfronteiriça, pelo menos até
a eliminação das barreiras alfandegárias. O que pode não impedir,
totalmente, o transito clandestino e certos produtos que,
prudentemente, não identifico.
Viúvo
sem que se decidisse a mudar de estado, não consta que tenha uma
vida monacal. Os boatos indicam que mantêm uma ligação, já de
longa data, na sede do concelho, com a dona do salão de beleza
Lizzi, Isabel no B.I. Não sendo uma menina nova pode-se dizer que
está em muito boa forma, bom corpo e notável aparência. Além de
sempre mostrar um“fino trato” pois foi educada nos bons costumes e estudo até o séptimo ano do liceu. Não se conhecem, de um e outro,
filhos ilegítimos.
José
Maragato desloca-se diariamente à sede do concelho, e com certa
frequência à capital do distrito. Nas horas que ele entende
permanece no seu escritório, na mesma rua do salão de estética. Na
fachada mandou colocar uma placa de latão polido com os dizeres José
Maragato CONSULTOR (não se sabe de que temas, mas o termo a
pouco compromete, menos do que mediador. O homem tem bastante
subtileza) Só abre as portas após identificar e aceitar o
visitante.
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