Esquecer
o passado
Existem
grandes verdades, pensamentos profundos, no meio dos ditados
populares, ou rifões. Não faço ideia de se as novas gerações
ainda entrarm neste campo da cultura, por arrastamento do que ouvem
dizer no seio da família. Mas tenho as minhas dúvidas de que tal
aconteça. Esta impressão deve-se por ver como, desde muito
crianças, mantem-se totalmente alheadas do que as envolve, e mesmo
quando estando num grupo, cada um só tem olhos para o pequeno visor
que o traz enfeitiçado. Ja vi uma
quase bebé, de chucha, que se entretinha dedilhando e esfregando um
telemóvel! muito antes de saber falar e de poder entender cabalmente
uma conversa de adulto.
O
parágrafo anterior surgiu com o propósito de servir de introito ao
que um ditado popular, dos bons, nos avisa, sempre e tanto que o
interpretarmos pelo conteúdo abrangente e não só pelo que a frase
em si nos diz. O ditado é o seguinte: Cada
qual diz da feira consoante lhe vai nela.
Traspondo
da situação pontual de uma feira para a vida é fácil entender as
razões, ou despropósitos, que levam a que os membros das sucessivas
gerações não desejem ouvir das agruras porque podem ter passado os
seus antecessores. Do passado dos outros, mesmo sendo tão chegados
como os seu proprios pais, só lhes agradam as boas lembranças, as
agradáveis, aquelas que se podem valorizar como os programas das
televisões generalistas. E a realidade nos diz que por cada vivência
engraçada, agradável, se o percurso do familiar incluiu tempos
magros, tristes, com dificuldades, serão estas situações as que
com mais frequência serão recordadas, especialmente quando a idade
avançou e se entra na velhice.
Uma
referência conhecida é a de que aqueles que estiveram em frentes de
combate, que dispararam a matar e sofreram fogo do inimigo, que viram
companheiros mortos ou mutilados, raramente estão dispostos a falar
destas vivências. Não só porque estas recordações são pesadas,
tristes e trazem traumas para a flor da pele quando ele as preferia
manter quase que esquecidas, mas que infelizmente as traz sempre
presentes, mas porque sente que os ouvintes, sendo de outra geração,
não lhe dão a importãncia que merecem. Obviamente não as podem
sentir, dado que não as viveram. Pior, preferem não as ouvir ou, em
contraponto, só os sádicos é que prestam atenção, uma atenção
que o relator não aprecia.
Possivelmente
para conseguir que um descendente se interesse, interiormente, pelas
vivências penosas dos seus pais seria necessário que estes, fosse
com premeditação ou por não conseguir tirar da sua mente sucessos
muito anteriores, tenham martelado os ouvidos dos filhos com uma
insistência que tornasse impossível manter os ouvidos moucos. O
mais normal é que os filhos rejeitem entrar, entender, valorizar, as
situações penosas porque passaram os seus progenitores. Para eles,
os da actualidade, o pertinente será atender a outro anexim: Burro
morto, cevada ao rabo.
Ou Passada a festa,
esquece o santo.
Sem comentários:
Enviar um comentário