domingo, 28 de outubro de 2018

MEDITAÇÕES - 31 UMA SITUAÇÃO PERIGOSA



ALTERAMOS OS EQUILÍBRIOS

Documentei-me, não tão só por causalidade mas também por ser um tema que nos deve preocupar, vendo e lendo as reportagens e comentários, nomeadamente os sérios, que tratam das migrações dos povos de zonas mais desfavorecidas em direcção ao seu actual El Dorado. A Europa está,mais uma vez ao longo da sua relativamente longa história, a ser procurada por multidões desejosas de se incorporar numa área com melhores possibilidades de vida do que as existentes nas zonas de onde partem. O continente americano, igualmente, é procurado por descendentes de indígenas, ou mestiços de europeus e os que já, em épocas remotas, lá tinham chegado desde a Euroásia pelo estreito de Bering, aproveitando uma época de glaciação que fez descer, consideravelmente, o nível da água dos oceanos. Encurtando o paleio: as migrações humanas tem um longo historial.

Atendendo aos problemas que atingem a zona do globo onde nos encontramos, sofrendo e beneficiando, simultaneamente, de estar numa extremidade "remota e exótica", pelo menos pela avaliação que nos fazem os forasteiros, os que procuram acolhimento são africanos, primeiro os da orla mediterrânea conhecida pelo Magrebe, e depois pelos subsarianos,mais os vindos das Américas, principalmente do Brasil, os do Leste Europeu -, acrescido do alongado tempo de vida médio-, e finalmente os de origem asiática, sejam do subcontinente indiano ou dos  mais a Leste.

As razões que impulsam as migrações são maioritariamente de ordem económica e condicionadas à convicção de que a zona de onde são originais não lhes proporciona a sobrevivência, e muito menos o accesso aos bens de consumo que já lhes são conhecidos. O que sim usufruem é de uma proliferação inusual entre os ocidentais, conjuntamente com uma diminuição considerável da mortalidade infantil,  e do esforço em combater doenças locais que os dizimavam desde tempos imemoriais. Tudo, em parte consequência das ajudas sanitárias, humanitárias e alimentícias, que lhes são proporcionadas pelos países e organizações internacionais, preocupadas pelo bem estar deste humanos e, também, na tentativa de os manter sedentários e não se deslocarem para Norte.

Este impulso, facilitado por redes de tráfego especializado, coincide com o verificado decréscimo populacional de muitos países ocidentais, que se espantam pelo facto de não se dar a substituição de efectivos por carência de nascimentos. Curiosamente a evolução tecnológica do ocidente avisa que as necessidades de mão de obra "braçal" vão diminuir drasticamente, por efeito dos avanços na robótica.. Os lugares de trabalho serão, de preferência, para especialistas e no sector terciário. No primeiro cada vez se necessitarão mais técnicos e no segundo não haverá trabalho para todos.

Ou seja, o pânico que existe nas sociedades evoluídas da Europa não é só pela cor da pele e religiões mais obcecadas do que as maioritárias nestes países, mas porque, em muitos casos, custam muito dinheiro das arcas públicas, que são alimentadas pelos impostos, pela dívida e pela inflação. Em complemento aos artifícios financeiros dos governos recorre-se a diminuir os serviços sociais do estado, avançando as idades de reforma e aplicando taxas e impostos indirectos que compensem as crescentes despesas. E aqui surge um dos factores de repúdio das populações nacionais. Os estados, na mira de poder manter os migrantes sossegados, lhes concedem subsídios e benefícios que não oferecem aos seus naturais.

Existe, portanto, e com outros factores que não referi mas que são cumulativos, um potencial de problemas sociais, internos, muito considerável, e que se agudiza constantemente com a incerteza das novas gerações. Apesar de saber que procurar culpados desta situação é inoperante, tal não nos deve impedir de meditar sobre o que se foi fazendo, ao longo de décadas. com a pressão de impulsar o consumismo em áreas em que a população mal conseguia sobreviver. Não foi só entre os europeus "antigos" que se criaram novas necessidades, cuja satisfacção já não dependia directamente da sua capacidade produtiva. Recordo um filme, muito curioso e com mensagem importante, em que um bosquímano encontrava uma garrafa vazia de refrigerante no meio de nenhures, que tinha sido atirada desde um aeroplano, dos de cabine aberta. A partir daí, depois da admiração do caçador perante aquele objecto desconhecido, nos avisa de como este simples desperdício pode alterar a modo de vida de um simples habitante, afastado até então do veneno da civilização.

Ver as reportagens de como hoje os migrantes subsarianos se deslocam pelo deserto, apinhados como salsichas numa lata, em carros de caixa aberta, em direcção ao Norte. Pagando! e certamente que não pouco, pois que os passadores não escondem que este é um negócio lucrativo. Cabe pensar se as acções "humanitárias" e repressivas, que são financiadas pela benemérita Europa, conseguirão colmatar esta avalanche. Duvido muito. A não ser que se opte pela defesa cínica e cruel de fechar com muros e armas, tal como os republicanos (e não só) dos USA pretendem fechar o seu território. De onde os que chegaram, já na época moderna, practicamente dizimaram os seus habitantes para dar maioria aos migrantes brancos. Mas para conseguir rendimentos na agricultura braçal tiveram que abrir a porta das traseiras, para que por ali entrasse, como mercadoria, mão de obra escrava vinda da África negra.

O futuro do Ocidente, tão brilhante como promete a tecnologia e as suas filhas informática e robótica, está no limiar de problemas que criou e não sabe como neutralizar.


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