terça-feira, 9 de outubro de 2018

MEDITAÇÕES - 23 NÃO MEXER



NO QUE ESTÁ BEM NÃO SE MEXE.

E a Mãe Natureza nos ofrece muitos exemplos de como deixa de fazer tentativas quando entende que chegou a uma solução satisfactória. Coisa que os humanos raramente decidimos. Temos a mania, em demasiadas ocasiões, de insistir na procura da superação. Com tanto esmero que esta inquietude conseguiu estragar muitas obras que se pode dizer tinham atingido o seu zénite.

Um tema que me atrai a atenção desde muitos anos atrás é o modo como a evolução das espécies considerou que o mecanismo ósseo e muscular de muitos seres vivos, em especial dos quadrúpedes, mas não só, tinha atingido um grau de perfeição que conduziu a o manter imutável desde milénios, ou mesmo milhões de anos. Se recuarmos até o momento em que alguns peixes decidiram deixar as águas para se deslocarem pelo chão firme e respirar directamente do ar e assim conseguir obter o igénio, indispensável para o seu metabolismo, e não aquele que, até então, encontravam dissolvido na água.

Estudando os fósseis que se tem encontrado, nomeadamente aqueles que correspondiam a seres vivendo nas terras emersas, verificamos ser constante que já então os membros anteriores funcionavam, no aspecto mecânico, de modo diferente dos posteriores.

É fácil de ver, olhando para nós mesmos, que se os braços dobram-se pelos cotovelos para baixo e atrás, os posteriores, pernas, dobram em sentido contrário nos joelhos. Estas duas articulações tanto podem manobrar coordenadamente como com independência, agindo em tarefas diferentes consoante as ordens que recebem do centro de comando. Um facto, conhecidomas não valorizado neste aspecto da coordenação, o temos no andar e mais no correr. A progressão no caminho é tarefa das pernas, dos membros posteriores, mas imediatamente, sem depender de uma ordem expressa, os braços movem-se no mesmo ritmo e compasso.

A imensa maioria dos seres terrestres quadrúpedes, incluídos os répteis com pernas, deslocam-se com o mesmo esquema ósseo. O que não é de admirar dado que é ponto assente, na teoria da evolução, que os répteis foram muito anteriores aos mamímeros e até das aves. E aos sáurios prédiluvianos (*) devemos muito do que somos.

Chegados a este ponto é muito interessante que a evolução dos membros motores se tenha mantido nos mesmos moldes. Já nos extremos dos membros existem variantes funcionais notáveis. Mas estas diferenças, como são cascos, unhas, barbatanas, limitam-se a evoluções particulares, sem que alterem a mecânica ossea dos membros. Quando vemos as representações dos mamíferos marinhos, desde os pinípedes (focas e morsas, além de poutros) e os cetáceos (orcas, baleias, cachalotes, golfinhos) confirmamos que as aletas peitorais correspondem, ósseamente, aos braços ou membros anteriores, enquanto que nas barbatanas posteriores estão escondidas as pernas dos terrestres.

Retomando o título: No presente a humanidade deveria agir com muita atenção a fim de não contrariar os designios da natureza. Nem sequer de o tentar, pois tal atrevimento pode sair muito caro no futuro, mais próximo do que imaginamos.

(*) Embora a questão de ter existido um dilúvio universal esteja totalmente aceite como uma metáfora local e temporal, continua-se, por hábito, a nomear desta forma o tempo que existiu antes da extinção dos grandes saurios, e outras espécies.

Sem comentários:

Enviar um comentário